segunda-feira, novembro 10, 2008
Presidente: diga qualquer coisa.
José Eduardo Matos deu a sua grande entrevista no Jornal de Estarreja. Privilegiou um órgão de comunicação social local da terra, quando poderia tê-la dado a qualquer periódico de tiragem regional e, até mesmo, nacional, tal foi a informação relevante que foi deixando sair aqui e ali, nesta entrevista que ocupa as páginas centrais do Jornal de Estarreja (JE) da semana passada.
Mas não querendo especular mais vamos mesmo à vaca fria, como se diz em bom português. Vamos então analisar a propriamente dita (entrevista).
Num breve subtítulo lê-se que José Eduardo Matos (JEM) avalia o trabalho feito ao longo dos anos, a estratégia para o futuro e comenta os argumentos da oposição (leia-se PS).
Perante tal intróito, fiquei na expectativa de ver uma mensagem forte, sólida e eficaz, que comprovasse um Presidente experiente e experimentado na gestão autárquica e que ilustrasse a evolução política de JEM. Nada mais errado, na minha perspectiva.
Admito desde já a parcialidade de quem é militante do PS, de quem nunca votou em JEM e nunca acreditou nos projectos políticos que protagonizou, aliás, tendo mesmo questionado a existência de qualquer projecto político para o desenvolvimento de Estarreja.
Dos três eixos enunciados: trabalho realizado em 7 anos; desenvolvimento e estratégia para o futuro; comentário político à actuação do PS, tal qual Marcelo Rebelo de Sousa, como se não fosse parte integrante da contenda, como se a discussão político-partidária fosse algo de mau. Como se contra-argumentar não seja algo de honesto e sério. Não. O comentário é mais suave, dá mais ar de estadista, coloca JEM acima da liça e até mesmo acima da democracia e do que a constitui na sua essência: o debate político-ideológico entre visões de sociedade diferentes que caracterizam os diversos partidos políticos. Enfim…. Dizia eu dos três eixos desta entrevista conclui-se nada. Conclui-se o óbvio, conclui-se factos e verdades de La Palisse.
JEM vai, ao longo dos milhares de caracteres de entrevista, dizendo-nos e explicando-nos a difícil arte de gerir uma autarquia/município e que os possíveis e os impossíveis foram feitos para mudar Estarreja (como anunciava o seu slogan nas autárquicas em 2001). Assim diz JEM:
- “Há sempre grandes obras, quer seja pela sua dimensão ou importância são fundamentais para as pessoas”
- “Basta olhar para o município, o que ele era há meia dúzia de anos e ao que é hoje, para vermos as diferenças”
- “A autarquia tem um papel importante, mas não é decisivo”
- “As coisas não nascem de um dia para o outro”
- “Temos políticas que se estendem a todos”
- “O nosso plano político depende da concretização de obras”
- “Quem nos dera ter avançado muito mais. Existem diversos constrangimentos”
- “Ele tem a razão dele e eu tenho a minha”
Estes são alguns excertos, que pude anotar da excelente entrevista de JEM acerca da realidade da sua gestão do município de Estarreja desde 2001. Entrevista que me mostrou a verdade, crua e dura daquilo que é um município sem estratégia, sem visão e sem futuro (pelo menos enquanto JEM continuar à frente dos seus destinos).
JEM fala da obra(s) feitas(s), não enuncia ou enumera uma única. JEM fala de grandes obras que são importantes, mas diz que gosta de fazer é pequenas. Ainda assim, não enumera uma única obra pequena.
JEM diz e com razão que basta olhar para o município há meia dúzia de anos atrás e identificam-se logo as diferenças. Abstenho-me de fazer qualquer comentário, mais claro e evidente que isto é impossível, eu próprio sê-lo. A autarquia tem um papel importante, mas não é decisivo. Outra evidência que não comentarei. Noto, no entanto, que ainda assim não diz que papel importante é esse, apenas que não é decisivo para a vida dos estarrejenses.
JEM diz que as coisas não nascem de um dia para o outro. Todos sabemos isso, só não sabemos que coisas, uma vez que JEM não diz quais são e já foi eleito há quase sete anos.
JEM afirma que têm políticas que se estendem a todos. Isso na política é uma verdade universal. Falta saber quais políticas? De que forma se estendem? Quais são as suas implicações? Positivas? Negativas?
JEM fala mais uma vez que o seu plano político depende da concretização de obras. Quais? Quantas? Onde?
JEM fala que queria ter avançado mais, mas há constrangimentos. Impõe-se a pergunta: quais constrangimentos? Políticos? Técnicos? Incompetência? Incapacidade?
JEM assume que os outros têm a sua razão e ele tem a sua própria. Palavras para quê.
JEM, num delírio extasiástico, afirma, mesmo, que temos no Eco-Parque fábricas maiores que o IKEA. Alguém duvida disto? Eu não, preciso apenas de ir ao oftalmologista porque a miopia, de que sofro, deve ser cavalgante.
Terminando. Do feito, JEM não diz nada. Do que quer fazer, JEM nada diz. Isto recorda-me, com as necessárias adaptações, um pequeno excerto do filme Abril de Nanni Moretti em que aquando de um debate televisivo entre Massimo D’Alema e Silvio Berlusconi para as legislativas, Moretti exorta, do seu sofá, D’Alema a reagir a dizer algo de esquerda. No fim em desespero perante a apatia. Moretti apenas quer que D’Alema diga qualquer coisa.
José Eduardo Matos, enquanto munícipe rogo-lhe em desespero, diga qualquer coisa,
Pedro Vaz (Secretário-Geral Adjunto e Presidente da Distrital de Aveiro da JS)
Etiquetas: Política Estarrejense