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quarta-feira, agosto 12, 2009

Ainda a propósito da caça no BioRia, aqui fica um texto que chegou há dias à minha caixa de correio, bem como a respectiva resposta:

Caro Vladimiro Silva,
Desde já, deixe-me agradecer pela resposta, infelizmente o meu tempo de momento é muito reduzido senão gostaria até de ter esta conversa em particular consigo e com mais responsaveis pelo projecto BioRia (do qual nao sei se é responsavel ou apenas participante).
Para que fique claro sou um jovem caçador, e sou socio da zona de caça municipal que está nos arredores da BioRia, mas falo em nome pessoal e nao como socio,ate porque ninguem faz ideia deste meu contacto convosco.
Apesar de ser caçador, sou um enorme amante da natureza. Cacei em Bragança e sempre que pude fiz repovoamentos e tratei de animais e de terras para melhorias de vida dos animais, sem interesse em caçar nesses mesmos sitios.
Vejo com bons olhos os vossos interesses,pois pelo que vejo o vosso interesse é genuino e nao com ideias de captivar turismo e ganhar dinheiro, no projecto BioRia. De qualquer forma, acho que como em tudo o que existe há promenores que falham ou podem ser melhorados para bem de todos nós e mesmo dos especimes animais.
Eu sou da opinião que os caçadores não são assassinos e que o terreno da BioRia podia ser local de caça sem qualquer problema, apenas necessitava de uma melhor guarda para prevenir a existência de algum eventual assassino, não um CAÇADOR digno de ter este nome. Com isto podia haver uma entre ajuda entre os caçadores e a vossa associação,pois exitiria mais controlo de todas as especimes existentes!
De qualquer forma o principal assunto que me leva a vos escrever é mesmo o numero e tipo de animais existentes na BioRia. Desde que fecharam a zona de Salreu, zona desde sempre habitada por animais como patos, galinhas de agua, galeirões, maçaricos, etc., esta zona neste momento está dizimada deste tipo de animais comparando com a altura em que se podia caçar neste mesmo terreno. Isto deve-se essencialmente ao grande numero de Cegonhas, Garças e "Predadores" como Aguias existentes. Num passeio que dei pelos arredores da BioRia consigo encontrar muito mais pato, galinhas de agua e maçaricos que na zona da BioRia. Com o excesso de cegonhas que em tempos eram aves migratorias e neste momento sao residentes na BioRia em grandes numeros deixou de haver espaço para a criação de outras especies, e as Cegonhas em tempos de criação mata os outros pequenos seres como pequenos patos,não para comer, mas para garantir a sua sustentabilidade naqueles terrenos. As Garças não têm tanto este tipo de atitude,mas ocupam demasiado espaço onde os bandos de patos por vezes repousavam e as Aguias que são outras das preocupações como sabem sao assassinas em serie das pequenas ninhadas.
Com isto nao pretendo salvaguardar os "patos" nem as especies cinegeticas que se podem caçar, porque tal como digo os maçaricos galegos/comuns e os reais nao se podem caçar,mas são para mim uma preocupação pois sao animais lindissimos que merecem o seu espaço.
Vocês se pretendem continuar a sustentar esse projecto devem começar a pensar em formas de combatar a praga das Cegonhas e das Aguias(principalmente),pois elas sao muitos bonitas,mas ja deixaram de ser raras e começam a ser mesmo uma praga nesta zona,mudando habitats naturais, e no meu ver preservar um habitat é preserva-lo como deve ser e nao deixa-lo alterar-se tao rapidamente!!
Peço desculpa pelo enorme texto,se pretender coloca-lo no blogue,pode coloca-lo como uma opinião,apenas nao quis ocupar o blogue inteiro com a minha opinião!!
Podia até indicar mais aspectos negativos que devem ser corrigidos no vosso projecto,mas penso que devem pensar rapidamente neste problema, senao em poucos anos apenas se verão Cegonhas,Aguias e algumas Garças pela BioRia,tudo o resto será dizimado por estas especies.
Melhores Cumprimentos,
Nuno Oliveira

e eu respondi assim:

Caro Nuno,

Peço desculpa pela demora na resposta, mas de facto têm sido dias bastante ocupados em termos profissionais.
Começo por fazer uma declaração de interesses: embora seja amigo e familiar de vários caçadores, sou totalmente contra a caça, que na minha opinião deveria ser proibida em todo e qualquer lugar e não apenas no BioRia. Já discuti esta questão com vários caçadores e inclusive até tenho um tio (Sérgio Paulo Silva) que já escreveu vários livros sobre caça e sobre o relacionamento dos "verdadeiros caçadores" com a natureza, o modo como contribuem para preservar as espécies e respectivos habitats, etc. Ou seja, conheço bastante bem os argumentos a favor da caça - li os livros do meu tio e também textos de alguns autores que ele me indicou (de Torga e Ortega y Gasset, entre outros) e a minha opinião não mudou: sinceramente não entendo como é que se consegue conciliar um efectivo amor pelos animais e pela natureza com uma actividade em que se matam animais a tiro e em que estes por vezes são apenas feridos e ficam em sofrimento até por fim acabarem por morrer. Não adianta. Não percebo mesmo! Aceito que me considerem um hipócrita porque gosto de comer um bom bife e a isso só posso responder com outra hipocrisia - o que os olhos não vêem o coração não sente. Como carne porque a isso fui habituado desde sempre e provavelmente apenas até ao dia em que visitar um matadouro. Não vivo em paz com esta contradição e considero que o meu não vegetarianismo é uma fraqueza de carácter que um dia hei-de ultrapassar.
Em relação ao BioRia, gostaria de esclarecer que não tenho nada a ver com o projecto em si - trata-se de uma iniciativa altamente meritória da Câmara de Estarreja, com a qual não tenho qualquer relacionamento. Aliás, até tenho profundas divergências políticas com o executivo camarário que promoveu o BioRia, o que não quer dizer que não reconheça a enormíssima qualidade da iniciativa.
O movimento contra a caça no BioRia iniciou-se quando se começaram a suceder relatos de turistas que tentavam passear com os filhos numa zona de paisagem protegida e eram autenticamente corridos a tiro por caçadores sem escrúpulos. Trata-se de uma situação que não sei se ainda continua e pela qual, enquanto estarrejense, tenho uma enorme vergonha que tenha sequer um dia acontecido.
Em relação ao que refere sobre a preservação das espécies no BioRia trata-se de uma crítica que me parece pertinente, mas à qual não tenho capacidade técnica para responder. É por isso que vou colocar o seu texto no blogue (bem como esta resposta), pois deste modo é possível que a questão chegue a quem de direito.
De qualquer modo, não posso deixar de agradecer a sua colaboração com o Efervescente - estamos em lados opostos da barricada (tal como estão alguns dos meus familiares e amigos), mas acho que podemos trocar ideias de uma forma civilizada!

Um abraço,

Vladimiro

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