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quarta-feira, junho 30, 2010

É sempre desagradável sermos surpreendidos com aquilo de que estávamos à espera - ficarmos em segundo no grupo e sermos eliminados pela Espanha nos oitavos é afinal apenas a confirmação do que se esperava desde que se conheceu o resultado do sorteio.
No entanto, se formos ao detalhe do jogo de ontem é relativamente fácil identificar o erro - ao contrário do que os zero golos sofridos até então fariam prever, o principal problema estava na defesa: David Villa acabou o jogo com 7 remates, 7 dos quais por culpa de Ricardo Costa. E depois houve o de Sérgio Ramos, os 2 de Torres e o de Llorente. Do outro lado houve 1 do Tiago e 2 do Hugo Almeida. Feitas as contas, dá 11-3, não estivéssemos nós a falar das duas principais potências mundiais de hóquei em patins. Com o Ricardo na baliza, certamente que Bernardino Soares não estaria só na sua concepção da Coreia do Norte enquanto país respeitável e decentezinho.
Indo ainda mais ao detalhe, é possível perceber que em todo o jogo Portugal não fez uma única transição em condições, com excepção dos casos em que Fábio Coentrão decidia que não tinha tempo para as tretas do seleccionador e resolvia sozinho o assunto - Pepe não sabe passar uma bola a mais que 10 cm, Meireles e Tiago estavam marcadíssimos.
E depois existiram os casos Ronaldo e Simão, em competição permanente pelo título de jogador mais irrelevante da equipa.
Juro que me lembrei do Sporting-Benfica que ficou 3-6 no momento em que Queiroz (treinador do Sporting à época) substituiu Vujacic, perdão Hugo Almeida (que fixou 3 defesas espanhóis durante todo o jogo e a certa altura era mesmo a principal ameaça à baliza adversária, com tudo o que de preocupante subjaz a esta afirmação) - e se não fosse o amigo Del Bosque a ter pena de nós e do Ricardo Costa (ao substituir o Villa), certamente que a coisa teria sido pior.
A cereja no topo do bolo surgiu, como sempre é habitual nestas ocasiões, com as declarações no final do jogo e o sacudir de culpas geral.
Enfim, no fundo nada de que não estivéssemos à espera - um resultado justo, que pecou por escasso e uma derrota que poderia ter tido outros números se o Eduardo não fosse actualmente o melhor guarda-redes do mundo.

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quarta-feira, junho 23, 2010

Em 1986 eu tinha 10 anos (quase 11, atenção) e, devido ao facto das aulas da Escola Preparatória de Estarreja começarem às 8:30, não tinha autorização para ver os jogos do Mundial realizados durante a semana. Uma atroz injustiça, que naturalmente me iniciou no mundo da vida dupla e dissimulada: depois de fingir que me deitava (estranhamente os meus pais nunca desconfiaram da voluntariedade com que nessa altura me oferecia para ir cedo para a cama), esgueirava-me pé ante pé para a casa dos meus avós (que ficava por baixo da minha) onde, às escuras e em silêncio, abria todas as portas com o máximo cuidado até chegar à televisão. Era um belo aparelho ITT (a cores!), que se ligava rodando um botão para a esquerda, que também servia para controlar o som, o que fazia com que a operação de o ligar tivesse que ser feita com particular destreza. E lá ficava eu, caladinho, no escuro e em silêncio, diariamente até às tantas da manhã a ver os jogos em directo do México. Lembro-me particularmente do Argentina-Bélgica, em que quando comemorei aos saltos os dois golos de Maradona quase que me denunciei. Nessa altura Cristiano Ronaldo tinha 1 ano e provavelmente também estava acordado à mesma hora, com a D. Dolores a dizer mal dos seus pecados e a arrastá-lo pelos cabelos. Messi ainda não tinha nascido.
Enfim, isto só para dizer que, tal como todas as crianças da minha idade, estou desde 1986 à espera que a Argentina volte a ser campeã do mundo. É irracional gostar de um ex(?)-cocainómano baixinho, gordinho, com cabelo à dinossauro e que claramente deixa a equipa jogar em roda livre e sem qualquer tipo de táctica que não a que é indicada em tempo real por Verón, Mascherano e Messi. Mas é esta a magia da Argentina: futebol organizado casuisticamente e Messi à solta pelo campo. Provavelmente vão voltar a não ser campeões, até porque Portugal está de volta, Dunga é um bom treinador e a Alemanha é a a Alemanha. Ainda assim, com excepção de eventuais jogos contra Portugal, sou e serei sempre pela Argentina, de preferência com Maradona de fato, gravata e pulseiras aos gritos junto à lateral.

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segunda-feira, junho 21, 2010

Preferiria não o fazer, mas tornou-se inevitável escrever sobre Saramago. Até hoje li 11 dos 16 romances que publicou - é o meu escritor favorito e provavelmente o melhor da história de Portugal. Saramago era verdadeiramente genial, ultra-imaginativo, finamente irónico e profundamente moderno. Há detalhes nos textos de Saramago que são de tal forma brilhantes, que fazem com que ler muitas páginas de uma vez pareça um enorme desperdício. Saramago mereceu o Nobel e arrisco mesmo a dizer que é de longe o melhor dos Nobéis que já li. Nas minhas estantes ainda estão mais alguns dos seus livros, que tenho vindo a racionar ao longo dos anos, de modo a fazer com que a respectiva leitura dure o máximo de tempo possível.
No entanto, infelizmente o mesmo corpo em que habitava um tão fantástico escritor era partilhado com um homem, igual a tantos outros, pleno de defeitos e virtudes. O homem Saramago não era um patriota, batia-se por ideais retrógados e responsáveis pelo sofrimento de milhões de pessoas, era frequentemente insensível perante os que defendiam outras ideologias e várias vezes foi ouvido a dizer as maiores barbaridades e ofensas (não estou sequer a pensar em religião). Usou a autoridade moral conferida pela qualidade e sucesso da sua escrita como instrumento de acção política e muitas vezes o cidadão político militante vestiu o disfarce de escritor para chegar aos palcos e aí falar de tudo menos de literatura. A ética ideológica de Saramago arrastou-o para locais por onde o escritor jamais passaria, mas... o que fazer? Saramago era apenas um homem, os homens fazem asneiras e os grandes escritores só podem escrever se tiverem mãos, braços e olhos, pelo que é inevitável que ocupem um corpo e que nesse corpo viva mais alguém. Não sabemos se Eça de Queiroz cheirava mal ou maltratava os criados, não sabemos se Luís de Camões roubava uvas nos mercados e não sabemos se Pessoa pagava os cafés - e a verdade é que não queremos saber.
Muitos desperdiçaram o raro privilégio de serem contemporâneos de um escritor assim e outros deixam que o ódio às convicções e manifestações pessoais de Saramago lhes ofusque o discernimento e nem sequer tentam. Enfim, Salieri também era um grande compositor...!
A minha posição é pois absolutamente clara: sim, Saramago merece todas as honras que o país lhe possa conceder (feriados, nomes de rua, cinzas no panteão, etc., etc.) - é que a memória das recordações dos homens passa depressa, mas os livros são eternos!

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sexta-feira, junho 18, 2010

O bombom, o Mao e o vilão 

Deco tornou-se numa espécie de busca-pólos invertido, tal é a eficácia com que foge aos choques com os adversários. Que os croissants feitos pela mãe do Miguel Veloso são óptimos, isso já toda a gente tinha percebido há muito tempo - o que não sabíamos era que o mal era contagioso.. Louve-se o espírito de camaradagem e partilha com os colegas de equipa (pelo menos o Pedro Mendes recomenda-se).
Enfim, fomos tímidos e pouco ambiciosos contra um grupo de bisarmas africanas, tivemos medo e mostrámos uma enorme falta de união... isto é, nada que não aconteça em 100% dos mundiais fora do continente europeu! Felizmente que veio a Espanha e mostrou aquilo que tanto anima as criancinhas na hora de não comerem a sopa -"com tantos meninos a passar fome em África.." - ou, dito de outra forma, "estás a chorar de barriga cheia". Nada como vizinhos simpáticos para branquear uma exibição bem pior que o resultado. Ah, sim, porque o resultado foi bom - a Costa do Marfim vai à final... E é matematicamente (mas só matematicamente) possível que seja contra nós (o que é que isto me faz lembrar e onde é que esta conversa vai ter...?). Beijinhos a todos os que ainda estão a ler este texto!

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quinta-feira, junho 03, 2010


Aleivosa que deu à luz o portal das finanças e o seu javascriptzinho de cocó (cliquem na imagem para a aumentar).

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