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sexta-feira, agosto 27, 2010

Há muitos, muitos anos, era eu um estagiário de farmácia hospitalar com cerca de uma semana de experiência no cargo quando me incumbiram de fazer uma tarefa que em condições normais demoraria cerca de 3 horas a concluir. O problema é que faltavam 10 minutos para o fim do dia de trabalho... Acresce referir que este pedido surgiu na sequência de um momento em que o chefe tentou fazer humor às minhas custas e acabou por obter precisamente o efeito inverso, com uma sala cheia de subordinados a sorrirem com a minha resposta a uma pequena provocação... Enfim, nada que não fizesse todo o sentido aos 23 anos!
Não querendo dar parte de fraco, pus mãos à obra e comecei a trabalhar, decidido a não deixar o trabalho inacabado. Foi nessa altura que uma das técnicas, vendo o meu ar de irritado/infeliz/este-gajo-vai-ter-a-resposta-que-merece, teve pena de mim e ficou a ajudar-me a concluir as tarefas, o que só aconteceu 2 horas depois da hora de saída, algo de verdadeiramente impensável naquele hospital público.

O dia seguinte começou de forma bastante agradável - o chefe, surpreendido com o facto da tarefa ter sido concluída a tempo, encolheu os ombros, grunhiu e virou-me costas, dando início às 5 semanas menos produtivas da minha vida profissional e a um braço de ferro de contornos absolutamente tragicómicos, de que um dia certamente voltarei a falar...
A técnica que me ajudou teve menos sorte: encontrei-a a chorar, depois de ter sido insultada e ostracizada por todos os outros técnicos, que a acusaram de estar a "fazer de criada do doutorzinho" e de lhe terem dito que "se eles de habituam qualquer dia temos todos que ficar a trabalhar depois da hora".
As razões que me fizeram recordar esta história são óbvias para quem leu a notícia de hoje do Público e ajudam-nos a todos a recordar este portuguesíssimo culto da preguiça, agora pelos vistos escudado pelos altos representantes do interesse público e que tão activamente lutam pela defesa "da concorrência" entre os "retalhistas" do sector...

Infarmed muda de ideias depois de queixa de farmácias da ANF

Farmácia impedida de continuar aberta 24 horas por dia

Nota: é altamente duvidoso que o Infamed tenha legitimidade formal para tomar a decisão que tomou, uma vez que a lei parece ser clara na atribuição da responsabilidade às autarquias e que não estão em causa aspectos técnicos. Por outro lado, é igualmente muito improvável que a Farmácia em causa não tenha razão, dados os factos de ter autorização de quem efectivamente tem competências para regular este aspecto (as autarquias) e o óbvio interesse público da expansão do horário das farmácias. Por último, é interessante ver o contraste entre o voluntarismo do Infarmed, cujo incansável nariz enfrenta até os mais intrincados labirintos jurídicos e a AdC, outrora baluarte da defesa da concorrência no sector farmacêutico e agora em provável gozo de um merecido repouso estival, depois de mais um ano de incansável irrelevância...!

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