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domingo, março 27, 2011

O futuro ex-Primeiro Ministro da Checoslováquia demitiu-se (e ainda bem, mas não pelos motivos em que o próprio certamente acredita e muito menos pelos afirmados publicamente)

No dia 30 de Setembro de 1938, em Munique, Edouard Daladier e Neville Chamberlain assinaram com Hitler e Mussolini o vergonhoso Pacto de Munique, que na prática consistiu na entrega da Checoslováquia a Hitler em nome da paz.
Passaram-se 72 anos e a história assume um paralelismo assustador. Desta vez a paz foi substituída no argumentário dos pagadores de resgates pela expressão "estabilidade financeira da zona Euro", o número de cordeiros exigidos para o sacrifício subiu para quatro (dois já entregues, um a caminho e outro à espera do que se passará nos 6 meses seguintes à entrega do cordeiro lusitano), mas o principal interessado é o mesmo e pelas mesmas razões: a Alemanha, a sua economia e a insustentável tentação hegemónica e supremacista que a afecta.
Entendamo-nos: todos os economistas sabem que há formas muito mais eficazes de combater os ataques especulativos à zona Euro. Veja-se as palavras de Paul Krugman (por exemplo aqui), que são bem ilustrativas de que esta monocultura da dicotomia austeridade vs. bancarrota é apenas um dos lados da questão. Falta solidariedade económica à Europa e os que hoje estão oportunisticamente ao lado dos que ocupam as posições mais elevadas da cadeia alimentar tardam em perceber que não tardará muito até que a sequência de queda de peças de dominó chegue até eles. Curiosamente, a última peça ainda não percebeu que não pode ficar sozinha - e que se isso acontecer cairá da mesma forma que todas as outras.
Ironicamente, o mecanismo que permite que hoje em dia a Europa seja uma oligarquia centralista e egoísta foi conseguido essencialmente graças ao esforço pessoal daquele que viria a ser uma das suas primeiras vítimas - embora os tratados de Nice e Amesterdão tenham sido terríveis e profundamente lamentáveis, é essencialmente graças às possibilidades abertas pelo tratado de Lisboa que a Europa central pode ditar as suas leis desta forma, pois o peso político dos países mais periféricos diminuiu para níveis que os aproximam da irrelevância. Se no dia 13 de Dezembro de 2007 José Sócrates soubesse o que sabe hoje, certamente que a banda sonora das palmadinhas nas costas de Durão Barroso seria qualquer coisa como "estes gajos que se lixem, pá".
Enfim, aconteceu o que aconteceu e neste processo a queda do governo português é apenas um detalhe desagradável para os predadores, na medida em que provavelmente fará com que o prato chegue à mesa 2 meses mais tarde que o previsto. Ainda assim, lá estará.
Segue-se a Espanha e com ela a Europa vai tremer. Se tivermos sorte será nessa altura que terminará o pesadelo e finalmente o Euro será extinto. No futuro será recordado como um belo sonho que terminou mal e mais uma prova de que de facto não se pode confiar no escorpião (leia-se, a Alemanha): é a sua natureza...!

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