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segunda-feira, dezembro 23, 2013

Quando vemos o pneu do nosso carro furado à noite, num dia de chuva em que não pusemos lentes de contacto, com as crianças já lá dentro e a mala cheia de tralhas, as primeiras palavras são inevitavelmente para descrever a mãe de um potencial culpado pela ocorrência. Contudo, depois de aceitarmos a situação e começarmos a complexa operação de troca de pneu, o sentimento vai mudando. Ali, com a camisa molhada colada ao peito, com os óculos de ver a parecerem óculos de scuba diving e sobretudo com o negrume do óleo a infiltrar-se insidiosamente por baixo das unhas, ali sentimo-nos homens. O facto do carro estar estacionado em cima do passeio à saída de um dos restaurantes mais em voga na cidade (onde aliás tínhamos acabado de jantar) só serve para tornar o cenário ainda mais másculo. As senhoras olham-nos impressionadas e os homens fazem um esgar misto entre o gabiru que se vai inteirar da situação e o resmungar irritado perante o olhar de "havia de ser bonito se isto acontecesse contigo" que as suas companheiras lhes deitavam, percebendo de imediato que o efeito romântico do jantar recente tinha soçobrado graças à masculinidade do mecânico improvisado.
O que são os 100 km a 80 à hora que se seguiram e o que quer que venha a custar a brincadeira perante tudo isto? Ossículos do ofício, nada mais!

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domingo, novembro 24, 2013

Gostei de sentir cada um dos três graus que me esperavam à porta de casa e especialmente do facto destes estarem sozinhos. Há qualquer coisa de civilizado em viver num país frio.

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segunda-feira, novembro 04, 2013

Quim Anão 

Na verdade já nem sei se algum dia existiu um "Quim Anão" ou se este é apenas um personagem da minha mitologia pessoal. De qualquer modo, creio que no final deste texto já ninguém se lembrará do respectivo título, cuja explicação remeterei para o final da minha próxima sessão de psicanálise.
Assim sendo, e porque dos fracos não reza a história, cá fica a crónica que escrevi no dia 30 de Setembro de 2013 e que, por razões que vão desde a afonia à falta de tempo, só veio a ser emitido pela Rádio Voz da Ria há cerca de 10 dias. A pedido de várias famílias (na verdade, a pedido de 3 pessoas), cá fica também a versão escrita daquilo que a minha doce voz gravou no iPhone e que os meus ágeis polegares trataram de remeter para a RVR com quase um mês de atraso:

Dizer que em Estarreja o PSD coligado com o CDS ganharia qualquer eleição, nem que o candidato fosse o Emplastro é uma forma muito intuitiva, bastante prática e razoavelmente errada de colocar o problema. Eu próprio recorri algumas vezes a este tipo de formulações, que no entanto pecam por não se focarem no essencial e sobretudo por subalternizarem factores estruturais que podem explicar o enorme sucesso eleitoral de quem quer que se apresente às urnas vestido simultaneamente de cor-de-laranja, azul e amarelo.
Mas comecemos pelo princípio. E o princípio para mim é dizer que fui e sou um fervoroso adepto da candidatura de Fernando Mendonça, cuja qualidade das propostas e projecto político são absolutamente fantásticas, para além de se tratar de uma das pessoas individualmente mais geniais que conheci até hoje.
Dito isto, importa perceber porque é que o PS em Estarreja é uma quase nulidade eleitoral, que sem as circunstâncias irrepetíveis de 1993 nunca teria ganho uma única eleição.
A verdade é que tudo começou há muitos anos, ainda nos tempos do antigo regime e com a forma como se fez a transição para a democracia em Portugal em geral e em Estarreja em particular. Com a chegada da liberdade, a sociedade portuguesa dividiu-se politicamente pelos partidos que então começavam a dar os primeiros passos. A oposição ao regime filiou-se no PCP, UDP, MRPP e outros que tais, enquanto que os moderados (não fascistas e não comunistas) encontraram abrigo essencialmente no PS e PSD. O CDS ficou com a herança do antigo regime e com os defensores do liberalismo económico que consideravam que PS e PSD eram, apesar de tudo, demasiado esquerdistas.
Em Estarreja as coisas foram ligeiramente diferentes, pois nessa altura o PS não existia. E como tal a população não excessivamente politizada (isto é, a esmagadora maioria) acabou por encontrar abrigo político no único partido que de facto existia e no qual se inscreveram várias das pessoas socialmente mais activas e influentes da sociedade da época. Ser do PSD passou, por isso, a ser parte do DNA dos estarrejenses, sendo esta uma característica que se transmite de pais para filhos, numa tradição familiar dificilmente combatível.
Entretanto os anos passaram e o PS acabou por surgir em Estarreja, não com o mesmo estatuto de força política herdeira do socialismo democrático de inspiração francesa e escandinava que se verificava no resto do país, mas essencialmente como porto de abrigo e ponto de encontro de ex-comunistas e PSDs desiludidos. Ou seja, em Estarreja o PS não existe, nem nunca existiu, enquanto partido verdadeiramente estruturado na sociedade e que funcionasse como reflexo do pensamento e modo de vida populares.
Em 1993 houve um parêntesis neste processo, pois por uma enorme casualidade criaram-se circunstâncias únicas: Lurdes Breu arrastava-se penosamente após 17 anos de má gestão autárquica, as obras da Praça Francisco Barbosa eram um desastre arquitectónico e, 7 anos após a entrada do país na CEE, o progresso parecia chegar a todo o lado menos a Estarreja. Além disso, Cavaco Silva e o PSD a nível nacional estavam na fase descendente da sua influência política e em Estarreja CDS e PSD eram ambos muito fortes e estavam profundamente divididos. Foi perante esta nesga de oportunidade que o PS ganhou a Câmara e que a manteve tangencialmente 4 anos mais tarde, sendo que, mesmo assim, em ambas as ocasiões a soma dos votos de PSD e CDS teria permitido a estes partidos ganharem confortavelmente as eleições. Isto é, se a coligação existisse desde 93, o PS nunca teria ganho a Câmara de Estarreja.
Chegados a 2013 o PS apresentou Fernando Mendonça, um candidato de enormíssimo valor intelectual e com um projecto político consistente e de elevada qualidade. No entanto, faltava-lhe o resto: o PS enquanto partido não tem implantação popular, para além de que a candidatura de Mendonça foi facilmente rotulada de urbano-elitista. De facto, ao apresentar como candidato o Director de uma Galeria de Arte que é também escritor, a liderar uma candidatura que apostava nas novas tecnologias e que entre os seus principais protagonistas tinha jovens altamente criativos e que aplicavam conceitos modernos de comunicação e marketing político era algo de tão inadequado à natureza rural e operária da maior parte do eleitorado que, em boa verdade, o resultado até acabou por ser surpreendente pela positiva. Foi aliás esta dissociação das raízes populares que fez surgir uma candidatura como a de José Artur Pinho, que apostando numa ligação mais directa ao terreno acabou por contabilizar um número de votos apesar de tudo bastante assinalável. Pelo contrário, foi graças à enorme implementação popular e ligação ao terreno de um candidato como Manuel Almeida que foi possível ao PS ganhar a aparentemente inacessível Junta de Freguesia de Salreu.
Fernando Mendonça sai derrotado destas eleições, mas deixa várias heranças de grande valor e que seguramente serão capitalizadas pelo PS dentro de 10 a 15 anos: é que hoje os tempos são diferentes e as raízes populares já não se criam nas conversas à saída da missa, do posto de leite ou nos concertos da banda da aldeia, mas no Facebook e nos bares de praia da Torreira. E por isso há uma geração de estarrejenses que neste momento tem menos de 35 anos e se está nas tintas para as eleições, mas que tem sensibilidade para aspectos como a qualidade da mensagem, a criatividade, o design gráfico e das fotografias dos cartazes de campanha e que prefere esta forma de fazer política à tradicional mensagem de raiz familiar e profundamente implantada no terreno que o PSD tão bem tem gerido. Além disso, ao arriscar colocar jovens em lugares de destaque nas suas listas, Fernando Mendonça sabia que não estava a seguir a via mais fácil - mas seguramente que acabou por escolher a forma mais sustentada de implantar localmente um partido político. É um trabalho de fundo, que não vai dar frutos a curto prazo, mas que seguramente que terá resultados no futuro. É aliás curioso que um desses jovens, Gonçalo Costa, tenha tido mais votos que o próprio candidato à Câmara (o que se poderá explicar também com a bipolarização proporcionada pela inexistência da lista independente nas eleições para a AM).
No entanto, e independentemente da análise destas subtilezas eleitorais, o que interessa avaliar é que até hoje o PS, iludido com os circunstancialismos únicos e irrepetíveis de 93 e 97, não tinha ainda percebido que de facto não existia em Estarreja. Mendonça perdeu e provavelmente acabou a sua vida política local. No entanto, deixa o trabalho feito - e quando daqui a 8 ou 12 anos finalmente alguém do PS ganhar a Câmara de Estarreja por motivos virtuosos e não como consequência de divisões ou erros da coligação, estará a beneficiar do que agora se iniciou.
Para terminar, uma palavra para Diamantino Sabina, que está de parabéns e tem pelo menos o benefício da dúvida. Aguarda-se com expectativa a apresentação de uma verdadeira estratégia de desenvolvimento para o concelho e sobretudo vai ser importante perceber que tipo de autonomia conseguirá Sabina manter relativamente à figura tutelar de José Eduardo de Matos. É que com o futuro Presidente da AM a ser também o político eleitoralmente mais bem sucedido da história da política local estarrejense, a vida de Sabina não será fácil e as dificuldades em impor a sua personalidade e liderança serão seguramente enormes. Vai ser muito interessante ver quem cede quando as opiniões dos dois deixarem de ser coincidentes… e sobretudo vai ser curioso ver quem vai exercer de facto a presidência política da CME.

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domingo, outubro 27, 2013

O indivíduo claramente já estava ao balcão da Recepção há algum tempo, mas ainda assim não dava sinais de impaciência. Semblante neutro, olhar confiante, vestuário razoavelmente cuidado e barba feita.
- Boa tarde, vim buscar os exames da D. Ludia.
- Ludia?! - respondeu a solícita recepcionista, enquanto rapidamente testava o sistema para o estranho nome.
- Edactamente! - respondeu o cavalheiro, segundos antes da recepcionista, com a melhor das suas poker faces sorridentes lhe entregar um envelope onde se podia ler o nome da D. Luzia.

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quarta-feira, setembro 11, 2013

10 Anos 

Este blog faz hoje 10 anos. Decrépito, anacrónico e remetido a esparsas pulsões de estupidez ou verve intelectualóide do seu autor, mas creio que ainda o posso considerar como um blog activo. Aliás, ainda hoje cá escrevi um texto novo (e com todas estas características).

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sexta-feira, julho 19, 2013

A caixa de Pandora 


É difícil falar do actual momento político do país sem cair em lugares-comuns ou banalidades, tão obviamente estúpida é a sequência de eventos a que estamos a assistir.
Em primeiro lugar, a origem do problema: anos sucessivos de má governação, perdão, de péssima governação fizeram com que Portugal fosse um país onde se realizam obras estúpidas, totalmente dependente de crédito externo (mas isso não é nada de extraordinário - hoje em dia todos os países funcionam assim) e, pior que isso, um país sem qualquer flexibilidade laboral, que atira os jovens para o desemprego e, o mais grave de tudo, um Estado que todos os anos gasta mais 8,6 mil milhões de euros do que o que recebe.
Ora, não é preciso ser Professor de Economia para perceber que esta situação era e é absolutamente insustentável.
Chegados a este ponto, bastou alguma agitação nos mercados de capitais para os investidores reduzirem os níveis de risco e, como tal, subirem os juros dos empréstimos mais arriscados, entre os quais se encontram os investimentos na dívida pública dos parentes pobres da Europa. 
Neste contexto existiam duas formas de se resolver o problema: o BCE poderia ter intervido da mesma forma que o fizeram o Fed ou o Banco de Inglaterra e cortado o mal pela raiz, emitindo moeda. O risco de uma espiral inflacionista, argumento sempre apresentado nestas ocasiões, é altamente questionável, dado o cenário de contracção económica. 
A alternativa a esta óbvia política com provas dadas era os países com dificuldade no acesso a crédito recorreram à Troika e aplicarem medidas de austeridade. Optou-se - e mal - pela segunda via.
Ainda assim, a austeridade não seria necessariamente má. Se o fim de obras estúpidas como as faraónicas rotundas e monumentos locais, piscinas municipais supérfluas, aeroportos, TGVs e outras que tais são medidas de austeridade, então eu sou radicalmente pró-austeridade. Do mesmo modo, se o encerramento de institutos públicos com gestores que recebem ordenados milionários e milhares de funcionários que pouco fazem pelo bem comum é austeridade, eu sou igualmente a favor da austeridade. Aliás, se eles dizem "mata", eu digo "esfola!". O problema é que em Portugal a versão troikista-gasparina da austeridade é, tão só e apenas, aumentar impostos. 
É a via mais fácil, menos trabalhosa e também a que teoricamente produziria mais resultados a curto prazo, prontos a servir entre duas salsichas de Frankfurt e uma colherada de sauerkraut. 
Ora, como todos muito bem sabemos, esta opção tem o desagradabilíssimo efeito secundário de fazer recuar a economia e, como tal, agravar o défice, pelo simples efeito matemático de que se colocarmos um valor mais ou menos fixo (a despesa pública) em percentagem de um valor que diminui (o PIB), esta proporção será necessariamente maior, por muitas voltas que se dêem à equação.
Perante este beco sem saída, e também porque o executor deste disparate estava publicamente desgastado e a sofrer uma contestação crescente, as loiras cabeças pensantes da Europa que manda decidiram proceder à sua substituição por uma tecnocrata discreta e pré-aprovada pelas altas instâncias. O timing era teoricamente perfeito: a um mês do Verão, a nova Ministra teria um estado de graça facilmente extensível até às eleições alemãs de Outubro e como tal o risco de desagregação das políticas merkelianas seria desse modo reduzido. A Europa estaria calma e Angela poderia ter um percurso angelical até ao mandato seguinte.
O problema é que em Berlim esqueceram-se dos animais políticos portugueses. Tudo começou com o regresso de Sócrates e a forma como Teixeira dos Santos com toda a subtileza deu um tiro, quer dizer um balázio, no porta-aviões, quando fez o tema das swaps regressar à praça pública. Imediatamente o nome de Maria Luís Albuquerque ficou politicamente aniquilado e ainda por cima numa fase em que a Troika já não tinha tempo útil para uma nova nomeação. 
Foi então que Portas entrou em acção - apercebendo-se da fragilidade da situação e da nesga de oportunidade para saltar deste comboio em andamento, Portas demitiu-se, tentando deixar o ónus da queda do governo para Passos. A ideia seria capitalizar a imagem de "direita responsável que tudo fez para suster aqueles doidos" mas que a certa altura teve que desistir "porque já não dava para aturar aquilo".
Foi então que a Troika reagrupou e resolveu as coisas, provavelmente excluindo o CDS de qualquer solução governativa que não passasse pelo governo actual e agitando o fantasma do bloco central.
Muito a contragosto, Portas teve que ceder. Era isso ou a irrelevância de se ver atirado para a oposição junto com o BE e a CDU, ele que tanto gosta de se sentir no "arco da governação". Resignado, Portas optou pela estratégia do "second best" e tomou conta do governo, conseguindo a tutela da economia, finanças e relacionamento com a Troika. Nada mau para quem nem sequer chegou aos 10% de votos!
Contudo, quando tudo parecia ter voltado ao normal e a vida poderia prosseguir com a tão apreciada tranquilidade lusitana, eis que surge o fígado de Cavaco Silva, que há mais de 20 anos esperava a oportunidade de se vingar de Portas e do facto deste lhe ter feito a vida negra enquanto primeiro-ministro. A vingança serve-se fria ou, no caso de Cavaco, congelada e recessa.
Foi então que surgiu o momento actual, para o qual contribuiu um involuntário voluntarismo de António José Seguro, que sem perceber minimamente o que se está a passar colocou-se na posição de se preparar para pertencer, pelo menos moralmente, a um governo que vai durar menos de um ano e que nesse curto período não só não vai fazer nada, como vai levar com as culpas populares de tudo o que se passou até aqui, condicionando ainda opções futuras num eventual governo socialista. Em nome de uma suposta responsabilidade de salvação nacional, Seguro está a fazer um frete a Cavaco, sem perceber que enquanto o faz está a cometer um quase insólito hara-kiri político.
Com esta solução, em Portugal a oposição parlamentar vai passar a ter apenas 2 rostos (quer dizer, 3 porque um deles é bicéfalo): os do PCP e do BE, como se quem não fosse troikista tivesse obrigatoriamente que ser comunista ou bloquista.
Entendamo-nos: o actual governo tem legitimidade democrática e apoio parlamentar. Se as comadres estão disponíveis para continuarem a governar juntas, então que o façam até ao fim do mandato. Não faz qualquer sentido a inclusão do PS nesta confusão e o apelo de Cavaco é pura e simplesmente estúpido e ressabiado. O PS já estava comprometido com a Troika desde que a chamou e com ela assinou um memorando. Não era necessário este vínculo adicional. Cavaco está a tratar de si próprio, das suas amarguras e a tentar ficar na história por motivos que não envolvam bolo-rei ou o valor da sua reforma. Não vai conseguir.
Contudo, é com este tipo de desestruturações artificiais que se distorcem as democracias. Esta caixa de Pandora que Cavaco abriu pode ter consequências absolutamente imprevisíveis e que serão seguramente piores que a situação anterior.

(texto da minha crónica de hoje na RVR)

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segunda-feira, julho 15, 2013

Só se fossem geridos por completos incapazes políticos (Hã?!) é que os partidos do "arco do poder" aceitariam o repto (quer dizer, o réptil) lançado por Cavaco Silva. É que ao fundirem-se num governo ou qualquer tipo de estrutura/acordo/negociata de "salvação nacional" estariam a deixar o lugar da oposição vago para ser ocupado apenas por dois partidos: CDU e BE.
Ou seja, o único contraponto a uma governação que todos sabemos que vai ser desastrosa seriam o BE e a CDU, que por essa via ascenderiam a uma situação eventualmente até de alternativa viável (daí que Louçã tenha atempadamente cedido o posto a indivíduos mais apresentáveis num cenário de negociação para formar governo).
Basicamente, quem não apoiar esta cavaquice ou é comuna ou trotskista.

PS - Dito isto, a verdade é que para entregar o país ao AJS se calhar mais vale deixar que PPC e PP acabem de fazer o papel de lacaios da Troika e esperar que AJS caia por inevitabilidade, à medida que o cheiro a poder se começar a intensificar no Largo do Rato.

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quarta-feira, julho 03, 2013

Aqui há gato 

Apesar de tudo PPC é bem mais inteligente do que isto. Tem que haver qualquer coisa para explicar este exercício de surrealismo. Ninguém pode acreditar que era assim que ele achava que as culpas iriam parar ao CDS. Eu não acredito - e acho que aqui há gato.

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domingo, junho 16, 2013

A greve dos professores 

Os professores têm toda a razão em estar insatisfeitos. A forma como este governo (e também os anteriores, reconheça-se) tem actuado face ao serviço público de educação é absolutamente miserável e conduziu a uma muito objectiva degradação da qualidade do ensino público. Nuno Crato é um péssimo ministro, cuja carreira académica passada tem sido usada para branquear uma actuação a todos os títulos lamentável e profundamente reprovável.
Os professores são mal pagos, têm más condições de trabalho e são obrigados a trabalhar em sistemas absolutamente anti-pedagógicos e que em nada premeiam os melhores profissionais. Frequentemente têm vidas pessoais muitíssimo prejudicadas pela incompetência de quem gere o processo de colocação e, sobretudo, são profissionais que não mereciam isto.
A esmagadora maioria dos professores que conheci ao longo da vida eram pessoas de grande valor, tendo alguns sido mesmo verdadeiramente excepcionais. Ainda hoje recordo muitas coisas que me foram ensinadas por grandes professores. Os professores são uma das profissões mais importantes na nossa sociedade.
Dito isto, há também que dizer que os sindicatos dos professores não fazem, nem nunca fizeram, parte da solução - criam problemas, exercem pressões inaceitáveis sobre os seus pares e promovem uma cultura de reivindicações centradas em privilégios e direitos adquiridos que em nada contribui para a resolução dos problemas dos professores e do ensino. Os sindicatos de professores lutam pelos que estão colocados e habitam o sistema há mais tempo, esquecem-se dos que estão fora do circuito e são geridos por professores que passam anos sem dar aulas, exclusivamente dedicados à actividade sindical.
É este tipo de reivindicação oligárquica e elitista que está na base desta greve aos exames. É absolutamente indecente o que estas cúpulas de indivíduos politicamente motivados e que estão há anos sem dar uma aula decidiram fazer aos alunos dos outros.
E é, também, contraproducente. É que fora das reuniões magnas dos professores há todo um país que vê crianças e jovens inocentes a serem sacrificados em nome da vaidade e sede de protagonismo destes sindicalistas egocêntricos. E para o resto da população os professores, cuja luta era aceite de forma quase unânime, estão a perder a razão, pois os fins obviamente não justificam os meios. Os alunos, que são as supostas razões de ser da existência das escolas e dos próprios professores,  estão a ser o "sacrificial lamb" desta luta pelos tempos de antena mediáticos.
A greve não é uma boa forma de luta. É, aliás, a pior das formas de luta. Haveria imensas formas alternativas de protesto - desobediência civil na aplicação do acordo ortográfico, manifestações junto aos ministérios, greve apenas à avaliação dos filhos dos ministros e deputados dos partidos do poder, cordões humanos, sessões de sensibilização da população para os males que o governo faz ao ensino, divulgação pública do estado em que estão as escolas, etc. Isto que se está a passar não é uma greve ou uma luta pela qualidade do ensino, mas sim outra coisa qualquer, algures entre a luta partidária e a defesa de privilégios instalados. Mas longe, muito longe, do que seria preciso fazer. Quer para os professores, quer sobretudo para os alunos.

PS - Se o futuro dos alunos é um dano colateral aparentemente admissível para a elite sindicalista, há outros danos colaterais destra greve, muito bem explicados pelo Jorge Peliteiro.

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quinta-feira, junho 06, 2013

Olha o que fizeste ao Produto Interno, Bruto!


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quinta-feira, maio 23, 2013

Não, eu não me aguentaria sem escrever sobre a Raquel e o Martim. Em primeiro lugar, porque de facto é difícil encontrar momentos em que os defeitos da esquerda se cruzam de uma forma tão nua, crua e evidente com as virtudes da direita.
Martim é um exemplo para todos nós: com base em boas ideias, capacidade de resolução de problemas, iniciativa e descaramento, fez-se à luta, sem medos e sem traumas. Todos teríamos muito a ganhar se fôssemos assim, esquecendo o fado do desgraçadinho que cada vez mais vemos diariamente repetido nos meios de comunicação social portugueses. Martim tentou, está a tentar e aparentemente está a conseguir. Merece seguramente todo o êxito que tem e, maior descaramento ainda, fez tudo isso com 16 anos, indiferente à espiral negativa em que os adultos lançaram o país a que ele veio parar.
Do outro lado temos Raquel, detentora de um seguramente extenso currículo académico, viciada em estereótipos e obstinada em brilhar na TV. Perante o cheiro de um alvo fácil, Raquel atacou: uma criancinha tenrinha tinha aparentemente aberto a guarda e estava à mercê de todo um arsenal argumentativo solidificado em horas de leitura de autores progressistas. O problema foi o que aconteceu a seguir.
No entanto, antes disso vamos analisar um pouco melhor a cena. Martim estava de pé, a intervir a partir da bancada e a espantar todos com a sua história pessoal. Uma história sobre risco, empreendedorismo, iniciativa, inconformismo, ingenuidade e, claro, a audiência estava cativada. No palco estava Raquel, irritada com o protagonismo do miúdo e sobretudo com a glorificação da economia de mercado que a respectiva história representava. Não podia ser. Então a meio de uma crise económica e de um programa de austeridade em que o Estado luta para se emagrecer ao máximo, o programa de TV em que ela era a estrela estava a transformar-se numa ode ao salve-se quem puder?! Era preciso actuar. Foi isso que Raquel fez, com o primeiro argumento que lhe ocorreu.
Ao confrontar absurdamente um jovem empreendedor com o suposto facto das empresas às quais ele dava trabalho estarem a contratar empregados pagando o mínimo exigido pela lei, Raquel estava apenas a despolarizar a conversa e não a discutir realmente o assunto. É evidente que se todos nos preocupássemos com a responsabilidade social de todos os intervenientes da cadeia de valor dos produtos que consumimos a nossa vida seria um caos (como muito bem o descreve este excelente texto do Blasfémias). E Raquel, que foi ao Prós e Contras envergando roupa provavelmente produzida nas mesmas circunstâncias que a que o Martim vende, estava apenas a afastar o foco do programa das virtudes (que também as há) do capitalismo.
É por causa deste fechar de olhos à realidade e deste ódio de estimação à iniciativa privada e ao sucesso individual que alguma esquerda (a da Raquel) não faz, nem nunca há-de fazer, parte de qualquer solução, seja qual for o problema que se venha a colocar.

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terça-feira, maio 21, 2013

Viver no submundo 

Para viajar de Coimbra a Espinho de inter-regional é preciso sair do comboio em Aveiro e comprar manualmente um novo bilhete, que não pode ser comprado em Coimbra nem online. A CP é, de longe, a pior empresa ferroviária que eu conheço, está sempre em greves e cada vez tem menos serviços. Não merece um cêntimo dos nossos impostos. Privatizem-na já!

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sábado, abril 20, 2013

Segurando 1/4 de um rectângulo de papel higiénico, a minha filha que fazia 5 anos nesse dia disse-me: só posso limpar o pipi com isto, porque Portugal está em crise!

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sexta-feira, abril 19, 2013

Robert Edwards 

A minha crónica da RVR desta semana foi sobre Robert Edwards. Aqui fica o texto (o som pode ser ouvido aqui):
Foi em 1931 que Aldous Huxley, um escritor britânico que posteriormente veio a ser considerado um dos baluartes do pensamento moderno, escreveu o seu “Admirável Mundo Novo”. O livro era um fantástico exercício futurista, passado em Londres no ano de 2540 e constituía essencialmente aquilo a que o seu autor se referia como “utopia negativa”, ou seja, era uma espécie de sátira pessimista sobre o futuro, com especial ênfase em aspectos como a reprodução humana e o condicionamento psicológico e biológico da nossa espécie. Do livro constavam passagens como esta:

“As batas dos trabalhadores eram brancas e as mãos, enluvadas em borracha, pálidas, de aspecto asséptico. Um tapete rolante continuava a sua marcha enchendo o ar com o matraquilhar macio das suas engrenagens. Sobre ele milhares de provetas geometricamente alinhadas deixavam entrever um líquido quente e gelatinoso onde nadavam embriões humanos. Os transportadores continuavam a sua marcha lenta com o seu carregamento de homens e mulheres do futuro”.
A reprodução in vitro era de facto uma velha ambição da humanidade e a angústia perante o desconhecido fazia com que este cenário fosse encarado como algo de temível, longínquo, apenas alcançável por uma entidade superior e necessariamente má, tão fortes seriam os poderes na sua posse.
No entanto, a realidade ultrapassou a ficção e, 562 anos mais cedo do que Huxley previu (mas infelizmente 15 anos após a sua morte), foi mesmo possível concretizar o que até então parecia impossível: contra tudo e contra todos, perante o cepticismo geral e os medos de muitos, em Inglaterra, em 1978, Patrick Steptoe e Robert Edwards conseguiram o nascimento de uma criança após a realização de um tratamento de fecundação in vitro. Foi uma pedrada no charco, conseguida após anos de trabalho duma pequena equipa subfinanciada e quase solitária, criticada por muitos e completamente fora do star system dos investigadores da época.
Eram tempos em que tudo faltava: quando Edwards e Steptoe começaram a trabalhar nas suas tentativas de desenvolver a fecundação in vitro não existiam medicamentos adequados ao processo de estimulação ovárica, não se conhecia completamente o efeito de alguns dos poucos fármacos que existiam à época, não existiam catéteres apropriados para transferir embriões, os métodos analíticos necessários para aferir a concentração urinária ou sérica das várias hormonas envolvidas no processo de ovulação eram quase inexistentes, os meios de cultura e as condições laboratoriais eram absolutamente primários e nem sequer existiam testes de gravidez que permitissem conhecer imediatamente o resultado dos tratamentos!
Como também estávamos numa época em que as ecografias obstétricas ou não existiam ou estavam ainda a dar os primeiros passos, ninguém sabia verdadeiramente o que é que se estava a passar no útero de Lesley Brown, a primeira mãe de uma criança nascida por fecundação in vitro. Havia o receio de se estarem a criar monstros ou crianças com anomalias graves e, como se poderá pensar, o conservadorismo religioso encarava esta situação com o maior cepticismo. A própria universidade de Cambridge, a que Edwards e Steptoe estavam ligados, não encarava esta linha de investigação com bons olhos e por isso deslocalizou-os para Oldham, o que seria mais ou menos equivalente ao que sucederia se uma grande descoberta da Universidade de Coimbra fosse na realidade obtida em Condeixa.
Louise Brown, a menina que a 25 de Julho de 1978 se tornou na primeira criança a nível mundial nascida após a realização de um tratamento de fecundação in vitro, foi concebida após um tratamento em ciclo natural (isto é, sem estimulação ovárica), do qual resultou um único óvulo, que foi inseminado e transferido para o útero de Lesley Brown, uma inglesa de 30 anos com ambas as trompas obstruídas e uma história de mais de 9 anos de infertilidade. Quatro anos mais tarde, Lesley deu à luz uma segunda criança, Natalie Brown, na sequência de novo tratamento de fecundação in vitro. Em 1999 Natalie tornou-se na primeira criança nascida após fecundação in vitro a ser, ela própria, mãe de uma criança: aos 17 anos Natalie foi mãe de Casey, uma menina nascida após concepção natural. Era a prova que faltava e o fim do estigma para muitas outras crianças nascidas pelo mesmo método.
Robert Edwards, agraciado com o Prémio Nobel da Medicina em 2010 devido a esta fantástica descoberta (Steptoe faleceu em 1988), era um homem absolutamente brilhante, um embriologista visionário que teve a capacidade de persistir na luta pelas suas ideias e lutar de um modo perseverante contra as sucessivas adversidades que enfrentou. Este processo teve tudo para correr mal – e de facto foram necessários mais de 10 anos de investigação para que fosse possível o nascimento de Louise. No entanto, Edwards e Steptoe, com uma ética científica imbatível e uma capacidade de ousar inovar com pouco paralelismo a nível mundial lutaram sempre pelas ideias em que acreditavam e hoje o mundo seria um lugar completamente diferente se eles tivessem desistido.
Depois de 1978 tudo mudou: os nascimentos de crianças após fecundação in vitro multiplicaram-se e espalharam-se por todo o mundo. Hoje em dia são mais de 5 milhões as crianças nascidas na sequência destes tratamentos!
Robert Edwards e Patrick Steptoe ficarão na história como duas das pessoas que mais alegria trouxeram ao mundo em que vivemos. A humanidade deve-lhes muito, não só pelo valor da sua descoberta, mas sobretudo pelo capital de esperança que trouxeram a tantas pessoas. A infertilidade afecta 1 em cada 10 casais e para eles esta descoberta é uma verdadeira razão para viver.

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quarta-feira, abril 10, 2013

Danças, contradanças, um estalido e uma bola colorida 

Quando o governo aprovou o OE para 2013 todos sabiam que este era anti-constitucional. Na verdade, o TC foi muitíssimo brando na apreciação que fez, tanto era o material por onde escolher (eu, que sou um reconhecidíssimo constitucionalista blogosférico, já aqui chamei a atenção para o conveniente facto das medidas que abrangem pensionistas e funcionários públicos - os grupos sociais a que os juízes do TC pertencem ou pertencerão - terem sido escolhidas como alvo preferencial de correcção pelo TC).
Também todos sabíamos que PPC e Gaspar nunca se poderiam demitir após dois orçamentos anti-constitucionais (dois em dois) e daí que o dramatismo tenha sido, no essencial, uma palhaçada.
Se mais dúvidas houvessem, também todos sabíamos que Miguel Relvas nunca sairia pelo seu próprio pé na véspera da demissão "por culpa do TC" de todo o governo.
A própria troika sabia que o OE era inconstitucional e por isso tratou atempadamente de acautelar os tais 4 mil milhões de almofada (eram 5 mil milhões as normas que estavam em causa).
Mais ainda, José Sócrates também nunca teria escolhido fazer a vida negra a António José Seguro nesta altura se existisse algum risco do governo se demitir.
O próprio Cavaco sabia que o OE iria ser constitucionalmente chumbado e que o governo iria dramatizar e por isso, na única atitude politicamente inteligente que lhe vi em toda a minha vida (e provavelmente também na dele), desvalorizou o dramatismo antes mesmo deste acontecer.
Também António Costa resguardou-se a tempo quando percebeu que o governo iria durar até ao fim.
Por fim, o único que aparentemente não sabia de nada era António José Seguro: a moção de censura nesta altura foi um tiro, perdão um estalido, de pólvora seca absolutamente estéril e inconsequente, mediaticamente atropelado pelo regresso de Sócrates, pela demissão de Relvas e pelas danças em torno da decisão do TC. Pior ainda, Seguro enredou-se entre um radicalismo que não vai poder ter consequências (não pode passar os próximos 2 anos a pedir a demissão de um governo que não vai cair - e no campo do radicalismo BE e CDU não lhe deixam qualquer veleidade syrizadora), o facto de já não poder fazer parte da solução (porque na verdade é parte do problema) e a rasteira que PPC e Portas lhe pregaram, ao envolvê-lo novamente com a troika, desta vez à força, contra a sua vontade e sem margem para recuar.
Enfim, e enquanto estas danças se processam, o mundo pula e avança como uma bola colorida nas mãos destas crianças...!

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