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segunda-feira, março 24, 2008

Vistas com a distância de quem, como eu, está fora dos meandros da política local de Estarreja, as recentes posições do PSD estarrejense são ainda mais absurdas.
De facto, recapitulemos o que aconteceu nos últimos tempos:
- O Jornal de Estarreja e a Rádio Voz da Ria (e curiosamente também o blogue Terra Nostra...) publicitaram com grande destaque o conteúdo de uma carta anónima em que se atacava a administração do Hospital Visconde de Salreu (para além de vários insultos directos a funcionários do HVS, embora estes só tenham sido publicados pelo José Matos);
- Quando instada a comentar o assunto, a concelhia do PS respondeu do modo que seria de esperar que todos se tivessem comportado naquele momento: com bom senso, dizendo que uma carta daquelas deveria estar no caixote do lixo desde a primeira hora e lamentando que não tivesse sido dado o mesmo destaque a assuntos muito mais graves e importantes que se passaram em Estarreja nos últimos tempos (alguns dos quais foram novamente referidos pelo Diário de Aveiro na semana passada);
- Na sequência deste caso, o PS de Estarreja queixou-se publicamente de falta de imparcialidade da imprensa local;
- Perante a acusação, o PSD de Estarreja exigiu que a direcção da RVR tomasse publicamente uma posição sobre o assunto;
- Não havendo resposta da parte da direcção da RVR, o PSD de Estarreja suspendeu a sua colaboração com o programa "Pensar Estarreja" enquanto a direcção da rádio "não esclarecesse publicamente as razões de tal silêncio";
- A direcção da RVR reafirmou publicamente os princípios da sua imparcialidade;
- O jornalista Severiano de Oliveira demitiu-se;
- O José Matos (líder parlamentar do PSD na AM de Estarreja) acusou a direcção da RVR de "falta de independência perante um partido político".

Em primeiro lugar, analisemos o que se passou neste caso: um partido político queixou-se da forma como é tratado pela imprensa. Nada mais normal: José Sócrates, Luís Filipe Menezes, Marques Mendes, Pedro Santana Lopes e Hillary Clinton, entre milhares de outros, fizeram recentemente o mesmo. Aliás, até o José Matos fez o mesmo. E normalmente estes casos resolvem-se com respostas dos jornalistas envolvidos, comunicados da redacção dos órgãos de comunicação social, ou simplesmente são chutados para canto, tão banais são estas situações. A jornalista responsável pelo JE optou por responder na mesma edição em que publicou as queixas e a RVR poderia de facto ter dado uma resposta jornalística no momento certo. Optou por não o fazer, o que, sendo discutível, não deixa de ser uma opção legítima e perfeitamente normal.
Ou seja, a reacção do PSD de Estarreja, ao exigir uma resposta pública da parte da direcção da RVR é o único facto verdadeiramente inovador neste caso. Nunca se tinha visto um partido político tomar as dores de um órgão de comunicação social. E é também a primeira vez em que se vê um partido político acusar a administração de um órgão de comunicação social quando o que está em causa é uma questão meramente jornalística. É como se José Sócrates, perante a polémica sobre os projectos das obras que assinou nos anos 80 se tivesse queixado publicamente da Sonae ou do Eng. Belmiro de Azevedo e não do critério jornalístico do jornal Público! Num caso destes, quando muito, a Direcção da rádio apenas poderia ter feito o que fez: reafirmar a defesa de princípios de independência jornalística.
Este caso seria apenas insólito se não houvesse uma intenção política clara no meio de tudo isto: o actual Presidente da Direcção da RVR é Manuel Pinho Ferreira, vereador do PS. Ora, todos sabemos que em Estarreja a Direcção das colectividades locais sempre foi ocupada por pessoas ligadas aos partidos políticos. A própria RVR sempre teve líderes com actividade política e penso que é a primeira vez que alguém do PS ocupa este cargo. E todos os que estão ou estiveram quer na RVR, quer na política local, sabem perfeitamente que as sucessivas direcções da rádio nunca interferiram com os critérios jornalísticos - os cargos de direcção na rádio local são normalmente fretes ocupados por pessoas que altruisticamente perdem algum do seu tempo pessoal a tratar de assuntos que são de todos.
É por isso que o que o PSD de Estarreja fez neste caso não é só insólito, mas é também profundamente injusto: quer Pinho Ferreira, quer o jornalista Severiano de Oliveira estavam a trabalhar sem benefício pessoal (antes pelo contrário) numa causa que é de todos. E atacá-los desta maneira é um acto de aproveitamento político de um acontecimento banal (e recorrente) que, sem a pressão do PSD local, seria rapidamente esquecido e ultrapassado. Por muito que a partir de agora se argumente, esta triste medalha ninguém a tirará do peito do PSD de Estarreja: até agora, nunca um partido político tinha tido tamanho efeito destrutivo num órgão de comunicação social local.

PS - Aproveito a ocasião para deixar aqui um abraço ao Severiano de Oliveira, a alma da RVR durante os últimos 20 anos, com quem tive diversas vezes a oportunidade de estar no "ar". Mesmo que não tenhamos estado sempre de acordo, há uma coisa que ninguém pode deixar de reconhecer: a vida pública de Estarreja tem uma enorme dívida para com o Severiano e na RVR haverá sempre um "antes" e um "depois" do Severiano. Eu ainda acredito que o "depois" possa ser apenas um pequeno intervalo antes de um novo "durante". Ainda assim, obrigado Severiano, por todo o teu enorme esforço pessoal e excelente contributo para a formação de um espaço público de discussão política e social em Estarreja.

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Comments:
Caro Colega,

Bem sei que Estarreja lhe é um tema muito grato mas lembre-se dos seus leitores que não são de dessa bonita localidade e escreva qualquer coisa sobre as lides farmacêuticas.

Cumprimentos.
 
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