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terça-feira, outubro 26, 2010

Se se (re)confirmar a não candidatura do Candidato Vieira serei provavelmente forçado à difícil opção entre a abstenção e o voto no gajo de Viana do Castelo. Com a excepção desta última, ambas as hipóteses são igualmente tentadoras e têm sensivelmente o mesmo conteúdo político. Aliás, estou tão empenhado nestas presidenciais que é igualmente possível que simplesmente me esqueça de ir votar ou sequer de me abster intencionalmente.
Estou inclusive convencido de que Cavaco estará mais ou menos na mesma: se não fosse o linguarudo Marcelo, creio mesmo que ele se esqueceria de se recandidatar.

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segunda-feira, outubro 25, 2010

Crónica de um hara-kiri político anunciado

Decidi dar este título ao texto antes mesmo de o escrever, o que apenas faço raramente e provavelmente deveria fazer ainda menos. De qualquer modo, creio que esta opção resulta essencialmente da vontade de frisar (palavra sempre desagradável de escrever e que - convém frisá-lo - apenas uso por manifesta falta de imaginação adicional) uma ideia mais forte ou, melhor ainda, trata-se de uma garantia que faça com que, na remo(r)ta hipótese de alguém ler este texto, que fique na memória com o essencial daquilo que pretendo dizer.
Dito isto, foquemo-nos no essencial: perante a mais que previsível e anunciada mega crise orçamental, as fortíssimas pressões externas (quem conhece Angela Merkel que o diga) e a estupidez semiditatorial de alguns líderes europeus (quem conhece Carla Bruni que o diga), Pedro Passos Coelho (PPC) deveria ter feito o mais fácil - deixar Sócrates enterrar-se e embrulhar-se com o orçamento, fazer discursos sobre crescimento económico, bombardeamento fiscal, inoperância do governo perante a despesa, etc., etc., mas sempre sem se comprometer com nada e sobretudo esticando os silêncios da forma mais longa possível. Se eu fosse PPC diria, antecipadamente e de caras, de preferência numa cerimónia pública e talvez até em outdoors espalhados pelo país: "- Sr. Engenheiro, tem aqui um cheque em branco. Faça bom uso dele. Orçamento? Nem o quero ver - o meu partido abstém-se, quaisquer que sejam as suas propostas. O Sr. foi eleito para governar, a situação é grave e por isso, como sou um indivíduo com sentido de Estado, concedo-lhe esta oportunidade". Enfim, nada mais envenenado. E ao fazer as coisas desta forma o governo cairia 6 meses depois, ainda com o PSD à frente das sondagens e o PR já na posse de todas as suas prerrogativas dissolvedoras. PPC seria eleito PM com maioria absoluta (embora utilizando a muleta CDS) e o PS passaria 8 anos a juntar os cacos do episódio.
No entanto, numa demonstração de imberbidade política levada ao extremo, PPC, que na altura se sentia o melhor condutor do mundo (acreditando que 10% de avanço nas sondagens até lhe dariam para comer bolo-rei com uma câmara de TV no céu da boca), decidiu armar-se aos cágados e jogar a cartada sebastiânica: o governo cairia com o chumbo do orçamento, passar-se-iam 6 meses de governo de gestão e depois lá surgiria ele sentado no seu Ângélico (não é um erro ortográfico) cavalo, pronto a resolver tudo, qual homem providencial na ressaca da tempestade. O problema foi quando o baronato decidiu intervir e, vendo o partido a descer nas sondagens e níveis de arrebitanço de cachimbo anormalmente elevados para os lados da São Caetano à Lapa (sempre quis escrever esta expressão), tratou de procurar acalmar o rapaz, da única forma que sabe fazer: com insuportável paternalismo público, com chantagens emocionais privadas, com visitas de banqueiros a comandar matilhas de camera men em directo nas TVs e com as inevitáveis e discretas pressões internacionais.
Entre a espada e a parede, PPC fez mais uma vez o pior - tentou fugir para a frente, esquecendo-se de que corridas em direcção a lâminas afiadas nunca foram a melhor opção para quem deseja saber o nome de mais de 50% dos seus bisnetos.
E assim foi: hoje houve um grupo de 4 ou 5 senhores engravatados e segurando malas pretas que em nome do PSD estiveram, pela quarta vez, reunidos com o PS a discutir o IVA dos pacotes de leite achocolatado, sempre com milhares de jornalistas à entrada e saída da sala. No final deste processo e depois de tanta negociação não haverá um único eleitor que não classifique este como "o orçamento PS-PSD", sendo indiferente o facto do PSD na realidade se abster e da culpa objectiva desta situação ser muito mais do partido que nos governou em 12,5 dos 15 últimos anos do que do outro, que dos 2,5 anos a que teve direito ainda se deu ao luxo de dividir o palco com o CDS e oferecer 0,5 a Pedro Santana Lopes.
É assim a vida: Sócrates passou de uma situação em que liderava um governo decadente, 10% atrás do principal partido da oposição nas sondagens e na iminência de ter que fazer um orçamento impossível e historicamente estúpido, antipatriótico e absurdo, para um momento em que repartirá as culpas pelo que sucedeu com um líder da oposição em queda de popularidade, com sinais de insurreição no seu próprio partido e com o qual já está empatado nas sondagens.
É deste tipo de situações que saem as grandes viragens dos sistemas políticos: PS e PSD enovelaram-se a si próprios e mostram níveis de decadência interna (veja-se os resultados das eleições das federações de Aveiro e Coimbra do PS) que batem máximos históricos quase diariamente. Alberto João Jardim e Jorge Coelho hoje são senadores que falam de cátedra para as respectivas hostes e de um modo geral não há perspectivas de evolução.
Aposto (e escrevo isto no dia vinte e cinco de outubro de dois mil e dez) que nas próximas eleições legislativas (sejam elas quando forem), CDS e BE terão, cada um, mais de 15%. E aposto também que a soma dos votos dos futuros ex-pequenos partidos será suficiente para atingir uma maioria de votos na AR.

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quarta-feira, outubro 20, 2010

A propósito de um assunto completamente diferente, um dos mais inteligentes dos meus amigos gostava de citar a "inteligência colectiva" como uma espécie de garantia contra arbitrariedades das classes dirigentes. E é disso mesmo que se trata quando se fala nesta crise, política e orçamental - ninguém aceita ou compreende que o mesmo governo que há um ano (portanto, bem depois do início da crise - e curiosamente antes das eleições...) aumentou os funcionários públicos acima da inflação e se propunha lançar uma série de projectos faraónicos e desnecessários esteja agora a contar migalhas e a cortar as unhas rentes. Nem mesmo a tão propalada incompetência dos políticos nacionais justificaria tamanha imprudência.
Esta é, na sua essência, uma crise de soberania. Todos o sabem, mesmo que poucos se atrevam a reconhecê-lo publicamente. É inaceitável que Angela Merkel governe Portugal e é vergonhoso que os partidos do "arco do poder" o aceitem pacificamente. Entre o regresso ao escudo com a preservação de 10% do ordenado ou a obediência submissa a poderes centralizados e não eleitos que nos bombardeiam fiscalmente, poucos portugueses escolheriam a segunda opção.
No fundo, no fundo, os fazedores de opinião do bloco central são apenas saloios com medo que os grandes lideres europeus pensem mal deles. A inteligência colectiva do povo percebe isso. E o Euro não vale isto.

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sábado, outubro 16, 2010

Há um episódio do Seinfeld em que George Costanza envia pelo correio o cheque da renda de casa e se "esquece" de o assinar... Obviamente, Teixeira dos Santos também o viu.

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sexta-feira, outubro 15, 2010

Entre Sócrates, Passos Coelho ou Paulo Bento, poucos portugueses hesitariam na escolha para primeiro-ministro do único que não é candidato. E eu concordo.

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