sexta-feira, janeiro 07, 2011
O Dick Cheney de Águeda
Quando uma das maiores agências publicitárias do mundo se ofereceu para lhe pagar 1500 euros por uma página A4 de um texto sobre o valor do dinheiro, ao então deputado Manuel Alegre não lhe ocorreu que se pudesse tratar de um pedido para fazer publicidade (actividade legalmente proibida aos deputados). Aliás, a ideia era tão impensável que nem se lembrou de que, ao escrever um texto sobre os prazeres do dinheiro, poderia estar (ainda que de uma forma indirecta) a contribuir para a celebração da vertigem capitalista que o seu background ideológico sempre combateu.
De qualquer modo, na minha opinião nada disto é, em si, muito importante. Sob o ponto de vista formal, o problema está, obviamente, na justificação apresentada pelo candidato Alegre, que em vez de assumir a imprudência (de resto emendada pela devolução do cheque) preferiu fazer-se passar por tolinho ingénuo, mentindo da mesma forma que a minha filha de 2 anos e meio ontem fez depois de estragar um brinquedo. É este ar de culpado apanhado que mete os pés pelas mãos que é verdadeiramente preocupante na análise formal deste episódio. Além disso, ninguém gosta de ver um homem de 74 anos embaraçado e apanhado a mentir (até porque estamos todos fartos de ver outro homem de 53 anos a fazer o mesmo a toda a hora), pelo que o episódio até é, na sua essência, bastante constrangedor.
Contudo, na minha opinião, o mais grave deste episódio é mesmo o texto em causa, que é pior que cuspir na sopa: como se não bastasse a glorificação da pior parte do acto de ter dinheiro (isto é, gastá-lo estupidamente), ainda por cima Alegre adopta um tom aristocrático e fala... de espingardas e caça! Pagava para ver as caras dos bloquistas que o apoiam quando lerem o texto!
Em resumo, temos um candidato aristocrata que nem sempre diz a verdade, que gosta de armas e adora caçar. Estou a falar do homem que George W. Bush escolheu para seu vice-presidente? Não, estou a referir-me ao candidato apoiado pelo Bloco de Esquerda e PS às presidenciais portuguesas!!!
PS - Para que conste, eu já implico com Manuel Alegre pelo menos desde o dia 25 de Julho de 2006, pelo que este texto e o anterior têm raízes mais profundas do que a superficialidade das minhas opiniões poderia deixar antever.
Etiquetas: Política Nacional
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