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quarta-feira, janeiro 02, 2008

Fui pela primeira vez aos Estados Unidos (isto é, a Nova Iorque e Washington) há pouco mais de sete anos, cerca de nove meses antes do "nine-eleven". Na altura, para além do óbvio deslumbramento com tudo o que me rodeava e da procura rua a rua do universo Seinfeldiano, o que mais me impressionou foi o contraste entre a repressão contra os fumadores e a tolerância passiva perante a obesidade mórbida.
Ainda hoje a imagem mais forte que guardo da minha ida ao World Trade Center é a da multidão engravatada que, com cinco graus negativos, fumava no exterior do edifício enquanto conversava animadamente, perante olhares julgadores e profundamente reprovadores de tudo quanto era pedaço de pulmão saudável (mesmo que envolto em artérias recheadinhas de pingue de primeira classe).
Bem sei que, enquanto há fumadores passivos, não há comedores de hamburgueres passivos, e que o problema da obesidade é muito mais individual e tem menos externalidades que o do tabagismo.
No entanto, a questão não era essa. Aliás, só por coincidência é que esta onda (mundial, reconheça-se) de políticas anti-tabágicas coincide com os interesses da Saúde Pública.
Aquilo que se passava nos EUA há pelo menos sete anos e que provavelmente também
passará a acontecer no Portugal pós-ontem é algo bem mais preocupante: chama-se moralismo social, fundamentalismo pela uniformidade e insustentável paixão pela opressão/repressão.
As sociedades modernas vivem sob a ditadura do politicamente correcto, dos mamilos quadriculados nos anúncios de gel duche, das esposas fiéis e que fazem sexo tântrico, dos primeiros-ministros que fazem jogging, do descafeinado, da manteiga sem sal e do L. casei imunitase.
Os primeiros a cair foram os fumadores, esse estranho grupo de masoquistas que sistematicamente são os principais defensores das medidas anti-tabágicas. A verdade é que eram um alvo fácil e que, reconheça-se, estava mesmo a pedi-las, tão patético é o seu gosto pela auto-flagelação.
A seguir, já está mais ou menos o processo em marcha, virão os gordos.
É estranha esta cíclica necessidade da humanidade de periodicamente encontrar um alvo para, numa primeira fase, azucrinar, mais tarde ostracizar e posteriormente exterminar. Os judeus já passaram por isto mais que uma vez, com as consequências que se conhecem. Desta vez, porém, as coisas são diferentes: os perseguidores já não matam e o ódio pelas vítimas é quase um passatempo social. No entanto, há um lado mais preocupante: agora o alvo somos todos nós.

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