sexta-feira, fevereiro 27, 2004
Há uma enorme discussão na blogosfera portuguesa sobre A Paixão de Cristo, o novo filme de Mel Gibson, que ainda nem sequer estreou entre nós. Pelo que já li, o filme leva a violência ao extremo e culpa os judeus pela morte de Jesus Cristo. Embora eu até acredite que a maioria das reacções publicadas possa ser excessiva, há algumas verdades que não devem ser negligenciadas:
- o autor do filme é Mel Gibson, um actor/realizador que há muito conhecido por pertencer a uma corrente extremista e assumidamente anti-semita da igreja católica;
- Mel Gibson investiu cerca de 5 milhões de contos da sua fortuna pessoal para fazer este filme, pelo que é inegável o seu empenho em contar esta história - estaria ele disposto a gastar o mesmo num filme sobre qualquer outro tema?
- o pai de Mel Gibson (com o qual este mantém um relacionamento bastante próximo) pertence à mesma corrente religiosa que o filho e é um conhecido anti-semita de longa data, inclusivé com livros publicados sobre a matéria (vejam esta tenebrosa entrevista aqui);
Por tudo isto, nada do que é relatado em A Paixão de Cristo é ingénuo ou sem segundas intenções: há uma tentativa assumida de relatar a suposta "verdade dos factos" segundo os Gibson. Num mundo em que o anti-semitismo é um fenómeno novamente em ascenção e em que os filmes de Hollywood têm o poder de influência que todos lhes reconhecem, é lamentável que um filme com estas características seja lançado neste momento - é evidente o oportunismo de atirar as achas para a fogueira no momento certo, para que esta arda mais e com vigor...
Outros blogues trataram o assunto melhor que eu (recomendo a Rua da Judiaria e o Aviz como os que melhor trataram o tema), mas não queria deixar de dar aqui a minha opinião, sobretudo porque este tipo de fenómenos racistas causam-me alguma náusea e preocupação.
- o autor do filme é Mel Gibson, um actor/realizador que há muito conhecido por pertencer a uma corrente extremista e assumidamente anti-semita da igreja católica;
- Mel Gibson investiu cerca de 5 milhões de contos da sua fortuna pessoal para fazer este filme, pelo que é inegável o seu empenho em contar esta história - estaria ele disposto a gastar o mesmo num filme sobre qualquer outro tema?
- o pai de Mel Gibson (com o qual este mantém um relacionamento bastante próximo) pertence à mesma corrente religiosa que o filho e é um conhecido anti-semita de longa data, inclusivé com livros publicados sobre a matéria (vejam esta tenebrosa entrevista aqui);
Por tudo isto, nada do que é relatado em A Paixão de Cristo é ingénuo ou sem segundas intenções: há uma tentativa assumida de relatar a suposta "verdade dos factos" segundo os Gibson. Num mundo em que o anti-semitismo é um fenómeno novamente em ascenção e em que os filmes de Hollywood têm o poder de influência que todos lhes reconhecem, é lamentável que um filme com estas características seja lançado neste momento - é evidente o oportunismo de atirar as achas para a fogueira no momento certo, para que esta arda mais e com vigor...
Outros blogues trataram o assunto melhor que eu (recomendo a Rua da Judiaria e o Aviz como os que melhor trataram o tema), mas não queria deixar de dar aqui a minha opinião, sobretudo porque este tipo de fenómenos racistas causam-me alguma náusea e preocupação.
Após um curto período de férias que também serviu para o Estarreja Efervescente descansar da agitação de dias recentes, estão novamente abertas as hostilidades com o regresso desta página à sua actividade habitual.
Começo por fazer, com algum atraso, o devido agradecimento ao excelente site Notícias de Aveiro pela inclusão do Estarreja Efervescente na sua lista de links.
Os últimos dias estiveram repletos de situações altamente comentáveis e bastante interessantes, sobretudo ao nível da política nacional, com a curiosa dança de Marcelo, Santana e Freitas na batalha perdida da candidatura à candidatura à Presidência da república em 2006. Se faltasse alguma coisa para convencer definitivamente Cavaco, certamente que os acontecimentos da última semana foram o empurrão decisivo para a sua candidatura. Aliás, estou convencido que mesmo que Cavaco não estivesse interessado em concorrer, depois do que se passou neste Carnaval, a decisão seria inevitavelmente invertida... mesmo que seja só para chatear!
No entanto, o assunto que nos últimos dias mais satisfação me deu, foi a discreta publicação, pelo Ministério da Saúde, de uma lei que impede que os proprietários de farmácias possam concorrer aos concursos para a abertura de novas farmácias. É que, em 13 de Novembro de 2002, eu fui um dos farmacêuticos que enviaram uma pequena carta de protesto ao Ministro da Saúde a protestar precisamente contra esta aberração legislativa. Aqui fica o texto da carta:
Exmo. Sr. Ministro da Saúde
Vimos por este meio protestar junto de V. Excia pela forma injusta e provavelmente ilegal como decorreram os recentes processos de instalação de novas farmácias. De facto, verificou-se que entre os vencedores dos referidos concursos públicos constavam diversos proprietários de farmácias, uma situação que é potencialmente geradora de ilegalidades, pois a legislação portuguesa impede que um farmacêutico em sociedade ou em nome individual seja proprietário de mais que um alvará de farmácia.
Esta situação foi originada por uma interpretação claramente distorcida da portaria 936-A/99, de 22 de Outubro, que fez com que os farmacêuticos proprietários de farmácias há mais de 10 anos fossem admitidos a concurso, excluindo-se os que haviam adquirido um alvará de farmácia há menos de 10 anos. Com esta visão da lei chega-se ao absurdo de um farmacêutico que seja proprietário de farmácia há 9 anos não poder concorrer a nenhum dos novos alvarás, enquanto alguém que seja proprietário há 60 anos pode concorrer e tem elevadas probabilidades de vencer o concurso, ultrapassando os jovens farmacêuticos com menos de 10 anos de profissão.
O resultado deste modo de analisar a nossa legislação está à vista: ao contrário do que se pretendia e do que havia sido anunciado, a portaria 936-A/99 não veio facilitar o acesso dos jovens farmacêuticos à propriedade das farmácias, mas sim constituir uma autêntica injecção de capital nos já de si recheados cofres dos proprietários de farmácias. Para além disso, a confusão provocada no mercado farmacêutico por estes resultados dos concursos irá tornar mais provável a ocorrência de todo o tipo de situações de propriedade ilegal de farmácias, facto que já tem sido referido na comunicação social.
A melhoria dos cuidados farmacêuticos prestados à população tem funcionado como um autêntico elo mais fraco em todo este processo, pois neste momento verifica-se que existem várias populações que vão ficar à espera que um farmacêutico venda a farmácia que actualmente possui, para então pensar em instalar a farmácia que lhe foi atribuída no concurso público. Ou seja, a Saúde Pública de algumas localidades está neste momento subordinada aos sortilégios do mercado de venda de farmácias: o interesse público aguarda que se resolvam as contingências dos interesses individuais de alguns.
Uma vez que toda esta situação foi desencadeada por uma abusiva interpretação indirecta de uma portaria, claramente contra o espírito da lei que lhe serve de base, pedimos a V. Excia que analise este assunto com o cuidado que ele merece, e que proceda de modo a repor a moralidade e a equidade de oportunidades no sector. É inadmissível que uma lei discrimine de forma tão arbitrária, ilógica e injusta profissionais do mesmo sector.
A indignação entre os muitos prejudicados pela presente situação é enorme. Sabemos que a portaria em questão não foi lançada por este governo. No entanto, a responsabilidade política pelos resultados agora publicados é já do actual executivo. Acreditamos, contudo, que é possível inverter o rumo desta situação, repondo a legalidade e a imagem das instituições públicas portuguesas.
Esta carta é subscrita pelos farmacêuticos abaixo-assinados e será amplamente divulgada, para que possa ser apoiada pelo maior número possível de profissionais do sector.
Na altura, esta carta mereceu a atenção de alguma imprensa (O Independente, Correio da Manhã, TVI, ...) e causou sobretudo um forte impacto entre os farmacêuticos. Gosto de pensar que este pequeno gesto contribuiu para alterar o disparate que se havia instalado. Obviamente que tenho que elogiar o actual Ministro da Saúde pela coragem que teve ao tomar esta medida... depois de tanto o ter zurzido neste blogue, fica aqui demonstrado que o mundo não se divide apenas em bons e maus: há também os assim-assim, que pelos vistos são a quase totalidade da população...
Começo por fazer, com algum atraso, o devido agradecimento ao excelente site Notícias de Aveiro pela inclusão do Estarreja Efervescente na sua lista de links.
Os últimos dias estiveram repletos de situações altamente comentáveis e bastante interessantes, sobretudo ao nível da política nacional, com a curiosa dança de Marcelo, Santana e Freitas na batalha perdida da candidatura à candidatura à Presidência da república em 2006. Se faltasse alguma coisa para convencer definitivamente Cavaco, certamente que os acontecimentos da última semana foram o empurrão decisivo para a sua candidatura. Aliás, estou convencido que mesmo que Cavaco não estivesse interessado em concorrer, depois do que se passou neste Carnaval, a decisão seria inevitavelmente invertida... mesmo que seja só para chatear!
No entanto, o assunto que nos últimos dias mais satisfação me deu, foi a discreta publicação, pelo Ministério da Saúde, de uma lei que impede que os proprietários de farmácias possam concorrer aos concursos para a abertura de novas farmácias. É que, em 13 de Novembro de 2002, eu fui um dos farmacêuticos que enviaram uma pequena carta de protesto ao Ministro da Saúde a protestar precisamente contra esta aberração legislativa. Aqui fica o texto da carta:
Exmo. Sr. Ministro da Saúde
Vimos por este meio protestar junto de V. Excia pela forma injusta e provavelmente ilegal como decorreram os recentes processos de instalação de novas farmácias. De facto, verificou-se que entre os vencedores dos referidos concursos públicos constavam diversos proprietários de farmácias, uma situação que é potencialmente geradora de ilegalidades, pois a legislação portuguesa impede que um farmacêutico em sociedade ou em nome individual seja proprietário de mais que um alvará de farmácia.
Esta situação foi originada por uma interpretação claramente distorcida da portaria 936-A/99, de 22 de Outubro, que fez com que os farmacêuticos proprietários de farmácias há mais de 10 anos fossem admitidos a concurso, excluindo-se os que haviam adquirido um alvará de farmácia há menos de 10 anos. Com esta visão da lei chega-se ao absurdo de um farmacêutico que seja proprietário de farmácia há 9 anos não poder concorrer a nenhum dos novos alvarás, enquanto alguém que seja proprietário há 60 anos pode concorrer e tem elevadas probabilidades de vencer o concurso, ultrapassando os jovens farmacêuticos com menos de 10 anos de profissão.
O resultado deste modo de analisar a nossa legislação está à vista: ao contrário do que se pretendia e do que havia sido anunciado, a portaria 936-A/99 não veio facilitar o acesso dos jovens farmacêuticos à propriedade das farmácias, mas sim constituir uma autêntica injecção de capital nos já de si recheados cofres dos proprietários de farmácias. Para além disso, a confusão provocada no mercado farmacêutico por estes resultados dos concursos irá tornar mais provável a ocorrência de todo o tipo de situações de propriedade ilegal de farmácias, facto que já tem sido referido na comunicação social.
A melhoria dos cuidados farmacêuticos prestados à população tem funcionado como um autêntico elo mais fraco em todo este processo, pois neste momento verifica-se que existem várias populações que vão ficar à espera que um farmacêutico venda a farmácia que actualmente possui, para então pensar em instalar a farmácia que lhe foi atribuída no concurso público. Ou seja, a Saúde Pública de algumas localidades está neste momento subordinada aos sortilégios do mercado de venda de farmácias: o interesse público aguarda que se resolvam as contingências dos interesses individuais de alguns.
Uma vez que toda esta situação foi desencadeada por uma abusiva interpretação indirecta de uma portaria, claramente contra o espírito da lei que lhe serve de base, pedimos a V. Excia que analise este assunto com o cuidado que ele merece, e que proceda de modo a repor a moralidade e a equidade de oportunidades no sector. É inadmissível que uma lei discrimine de forma tão arbitrária, ilógica e injusta profissionais do mesmo sector.
A indignação entre os muitos prejudicados pela presente situação é enorme. Sabemos que a portaria em questão não foi lançada por este governo. No entanto, a responsabilidade política pelos resultados agora publicados é já do actual executivo. Acreditamos, contudo, que é possível inverter o rumo desta situação, repondo a legalidade e a imagem das instituições públicas portuguesas.
Esta carta é subscrita pelos farmacêuticos abaixo-assinados e será amplamente divulgada, para que possa ser apoiada pelo maior número possível de profissionais do sector.
Na altura, esta carta mereceu a atenção de alguma imprensa (O Independente, Correio da Manhã, TVI, ...) e causou sobretudo um forte impacto entre os farmacêuticos. Gosto de pensar que este pequeno gesto contribuiu para alterar o disparate que se havia instalado. Obviamente que tenho que elogiar o actual Ministro da Saúde pela coragem que teve ao tomar esta medida... depois de tanto o ter zurzido neste blogue, fica aqui demonstrado que o mundo não se divide apenas em bons e maus: há também os assim-assim, que pelos vistos são a quase totalidade da população...
segunda-feira, fevereiro 16, 2004
As últimas semanas do Estarreja Efervescente foram algo estranhas: depois de se terem batido todos os records diários de visitas e pageviews há duas semanas, passou-se para um período (a última semana) em que se registaram mínimos históricos que esta página não conhecia desde Outubro ... enfim, sinais da falta de actividade da blogosfera estarrejense, que parece estar a adormecer lentamente!
Por outro lado, tenho que agradecer a alguns bloguistas a referência que fizeram ao Estarreja Efervescente:
- O Sumo de Laranja, um interessante blogue social-democrata da autoria do aveirense Luis Miranda começou por se enganar na autoria do Estarreja Efervescente (confundiu-me com o anterior presidente da Câmara de Estarreja, algo que sucede quase diariamente...), mas depois corrigiu o erro, num post em que se admirava com a "infecção" bloguista que tem afectado Estarreja nos últimos meses.
- O Luis Carmelo incluiu o Estarreja Efervescente na lista de links do excelente Miniscente, um blogue erudito e muito bem escrito.
Para ambos, os meus parabéns pela qualidade das páginas (que eu já conhecia) e os sinceros agradecimentos pela referência.
Até breve!
quarta-feira, fevereiro 11, 2004
O Saco de Gatos
Desta vez estou de acordo com o Marinhão: isto realmente vai de pior a pior, com o aparecimento da pré-candidatura de João Soares. O PS actual é claramente um saco de gatos que se esgadanham mutuamente. E João Soares mais não fez do que marcar o seu território. Neste momento a única questão em aberto tem a ver com o facto de se saber se António Costa e José Sócrates (mais duas más opções...) também vão avançar já ou esperam pelas europeias...
Tudo isto se passa porque existe actualmente entre a nossa classe política a convicção generalizada de que o PS vai ganhar confortavelmente as eleições europeias. A derrotista frase de Durão Barroso em Aveiro ("...aconteça o que acontecer nas eleições eu não vou fugir...") e a fortíssima competição interna no PS pelos lugares nas listas são bons exemplos disso mesmo. Aliás, não foi ingenuamente que Jorge Coelho e João Soares escolheram este momento para o lançamento das suas candidaturas: eles têm medo que Ferro Rodrigues saia fortalecido de uma vitória expressiva nas eleições europeias, e por isso há que fragilizá-lo o mais possível e o quanto antes... para além disso, dificilmente voltariam a ter condições para lançar as suas candidaturas, caso Ferro saísse vencedor das europeias.
Eu estou convencido que todas estas manobras e o mau desempenho da oposição PS vão ter consequências graves para o partido. Não acredito que o PS ganhe claramente as eleições europeias e também não acredito que Ferro Rodrigues daqui a um ano ainda seja líder do PS... e face às opções disponíveis, acho que o PS precisa de uma "tareia eleitoral" forte para poder proceder à indispensável depuração interna e então regressar ao poder com força e credibilidade para governar efectivamente o país. É que se o regresso for demasiado precoce, corre-se o risco deste se revelar efémero...
Desta vez estou de acordo com o Marinhão: isto realmente vai de pior a pior, com o aparecimento da pré-candidatura de João Soares. O PS actual é claramente um saco de gatos que se esgadanham mutuamente. E João Soares mais não fez do que marcar o seu território. Neste momento a única questão em aberto tem a ver com o facto de se saber se António Costa e José Sócrates (mais duas más opções...) também vão avançar já ou esperam pelas europeias...
Tudo isto se passa porque existe actualmente entre a nossa classe política a convicção generalizada de que o PS vai ganhar confortavelmente as eleições europeias. A derrotista frase de Durão Barroso em Aveiro ("...aconteça o que acontecer nas eleições eu não vou fugir...") e a fortíssima competição interna no PS pelos lugares nas listas são bons exemplos disso mesmo. Aliás, não foi ingenuamente que Jorge Coelho e João Soares escolheram este momento para o lançamento das suas candidaturas: eles têm medo que Ferro Rodrigues saia fortalecido de uma vitória expressiva nas eleições europeias, e por isso há que fragilizá-lo o mais possível e o quanto antes... para além disso, dificilmente voltariam a ter condições para lançar as suas candidaturas, caso Ferro saísse vencedor das europeias.
Eu estou convencido que todas estas manobras e o mau desempenho da oposição PS vão ter consequências graves para o partido. Não acredito que o PS ganhe claramente as eleições europeias e também não acredito que Ferro Rodrigues daqui a um ano ainda seja líder do PS... e face às opções disponíveis, acho que o PS precisa de uma "tareia eleitoral" forte para poder proceder à indispensável depuração interna e então regressar ao poder com força e credibilidade para governar efectivamente o país. É que se o regresso for demasiado precoce, corre-se o risco deste se revelar efémero...
terça-feira, fevereiro 10, 2004
A Esperança
Contrariando a maioria das expectativas iniciais, John Kerry é o mais que provável candidato democrata à presidência dos EUA. Basta ouvir Kerry durante alguns minutos para perceber que ele é um candidato fortíssimo à vitória nas presidenciais de Novembro: o discurso moderado e racional e a forma inteligente como tem enfrentado os debates e entrevistas televisivas não deixam dúvidas. Num eventual debate frente a frente com George W. Bush, é fácil de prever que Kerry não terá qualquer problema em arrasar politicamente o desempenho do actual presidente dos EUA, para além de não ter a imagem de radical de Howard Dean, o ar tecnocrático e elitista de Al Gore (também conhecido como "Al Bore") ou a fragilidade política de Wesley Clark. Kerry é o candidato ideal e a grande esperança não só para os EUA, como para o mundo. Para além de tudo isto, tem ainda a vantagem de estar casado com uma portuguesa, o que poderá vir a ser uma excelente oportunidade de influência para o nosso país e para a comunidade portuguesa nos EUA. Visitem o site de John Kerry em www.johnkerry.com.
A Preocupação
Preocupante, é o mínimo que se pode dizer da pré-candidatura à liderança do PS que Jorge Coelho lançou este fim de semana.
Para além da enormíssima falta de lealdade para com o actual líder que este anúncio representou, estamos perante um acontecimento que pode colocar em causa a própria credibilidade do PS enquanto partido de governo em Portugal.
De facto, Jorge Coelho é de longe a pior de todas as hipóteses para liderar o PS e na minha opinião é o grande responsável pelo fracasso que foi a governação Guterres.
Coelho foi um mau ministro em todas as pastas que ocupou e tem responsabilidades directas em quase todos os grandes erros do anterior governo. Aliás, a própria forma como Coelho abandonou o governo é disso um bom exemplo: quando se discutia publicamente o mais que duvidoso negócio da TAP com a Swissair e o governo atravessava uma fase de grande decadência, Jorge Coelho aproveitou o desastre da ponte de Entre os Rios para saltar fora, fugindo deste modo ao afundamento da própria governação, num acto de chico-espertice política sem par em Portugal. É que, das duas uma: ou Jorge Coelho não tinha quaisquer responsabilidades sobre a queda da ponte (e nesse caso não se deveria ter demitido) ou, se as tinha, então a demissão não chegava, pois ser responsável (mesmo que indirectamente) pela morte de 60 pessoas é crime e nesse caso, obviamente que a demissão não seria suficiente para o ilibar... Enfim, a onda de choque que a tragédia provocou na altura serviu de fumo branco para que ninguém avaliasse devidamente a estratégia de Coelho.
Para além destes factos, não nos devemos esquecer de que Coelho sempre foi apontado como sendo, por excelência, o "homem do aparelho" no PS, o que em termos práticos é o mesmo que dizer que era ele quem distribuia os tachos e geria os compadrios que estiveram na base da queda do governo, à qual ele conseguiu misteriosamente escapar incólume.
Por ser um mestre na arte de reunir apoios de militantes e até da propria imprensa, infelizmente tenho que reconhecer que Jorge Coelho será líder do PS quando quiser, o que é um perigo não só para o partido, mas também para a política portuguesa em geral.
Contrariando a maioria das expectativas iniciais, John Kerry é o mais que provável candidato democrata à presidência dos EUA. Basta ouvir Kerry durante alguns minutos para perceber que ele é um candidato fortíssimo à vitória nas presidenciais de Novembro: o discurso moderado e racional e a forma inteligente como tem enfrentado os debates e entrevistas televisivas não deixam dúvidas. Num eventual debate frente a frente com George W. Bush, é fácil de prever que Kerry não terá qualquer problema em arrasar politicamente o desempenho do actual presidente dos EUA, para além de não ter a imagem de radical de Howard Dean, o ar tecnocrático e elitista de Al Gore (também conhecido como "Al Bore") ou a fragilidade política de Wesley Clark. Kerry é o candidato ideal e a grande esperança não só para os EUA, como para o mundo. Para além de tudo isto, tem ainda a vantagem de estar casado com uma portuguesa, o que poderá vir a ser uma excelente oportunidade de influência para o nosso país e para a comunidade portuguesa nos EUA. Visitem o site de John Kerry em www.johnkerry.com.
A Preocupação
Preocupante, é o mínimo que se pode dizer da pré-candidatura à liderança do PS que Jorge Coelho lançou este fim de semana.
Para além da enormíssima falta de lealdade para com o actual líder que este anúncio representou, estamos perante um acontecimento que pode colocar em causa a própria credibilidade do PS enquanto partido de governo em Portugal.
De facto, Jorge Coelho é de longe a pior de todas as hipóteses para liderar o PS e na minha opinião é o grande responsável pelo fracasso que foi a governação Guterres.
Coelho foi um mau ministro em todas as pastas que ocupou e tem responsabilidades directas em quase todos os grandes erros do anterior governo. Aliás, a própria forma como Coelho abandonou o governo é disso um bom exemplo: quando se discutia publicamente o mais que duvidoso negócio da TAP com a Swissair e o governo atravessava uma fase de grande decadência, Jorge Coelho aproveitou o desastre da ponte de Entre os Rios para saltar fora, fugindo deste modo ao afundamento da própria governação, num acto de chico-espertice política sem par em Portugal. É que, das duas uma: ou Jorge Coelho não tinha quaisquer responsabilidades sobre a queda da ponte (e nesse caso não se deveria ter demitido) ou, se as tinha, então a demissão não chegava, pois ser responsável (mesmo que indirectamente) pela morte de 60 pessoas é crime e nesse caso, obviamente que a demissão não seria suficiente para o ilibar... Enfim, a onda de choque que a tragédia provocou na altura serviu de fumo branco para que ninguém avaliasse devidamente a estratégia de Coelho.
Para além destes factos, não nos devemos esquecer de que Coelho sempre foi apontado como sendo, por excelência, o "homem do aparelho" no PS, o que em termos práticos é o mesmo que dizer que era ele quem distribuia os tachos e geria os compadrios que estiveram na base da queda do governo, à qual ele conseguiu misteriosamente escapar incólume.
Por ser um mestre na arte de reunir apoios de militantes e até da propria imprensa, infelizmente tenho que reconhecer que Jorge Coelho será líder do PS quando quiser, o que é um perigo não só para o partido, mas também para a política portuguesa em geral.
sexta-feira, fevereiro 06, 2004
Andava há quase uma semana para escrever isto, mas ainda não tinha tido tempo: eu sou muito provavelmente um dos portugueses que há mais tempo odeia José Mourinho. Desde os tempos em que ele era tradutor de Bobby Robson no FCP que eu tenho esta fixação. Foi, pode dizer-se, um daqueles casos raros de ódio à primeira vista. Tudo começou quando, era Mr. Robson o treinador do meu Sporting e eu li, algures no recanto de um jornal desportivo qualquer, uma referência ao jovem licenciado em Educação Física que fazia de tradutor do técnico inglês. "Então este gajo andou 5 anos a tirar um curso e depois vai servir de tradutor de inglês?!", pensei eu ao ler o tal artigo de jornal (nesse tempo dizia-se que os professores de Educação Física eram dos poucos que ainda conseguiam arranjar empregos facilmente)... e a partir daí fiquei atento. Confesso que achei estranho o facto de Robson chamar Mourinho para o Porto, depois de Sousa Cintra o ter injustamente despedido ("então no Porto não havia quem soubesse falar inglês? Estes estrangeiros que para aqui vêm têm cada mania..."), mas não liguei muito ao facto. O clique que me fez despoletar a minha antipatia aconteceu alguns meses mais tarde, quando pela primeira vez ouvi (já não sei onde) Mourinho falar de qualquer coisa (já não me lembro o quê). O facto do FCP nessa altura ter passado por uma fase (mais uma...) em que ganhava quase tudo (e o Sporting nada...) fez-me considerar aquilo um acto de arrogância ("estes gajos acham-se tão bons que até põem o tradutor a fazer declarações"). O caso começou a ganhar contornos preocupantes pouco depois: quando soube que Mourinho também ia com Robson para o Barcelona e com um ordenado de 6000 contos por mês, passei a dispôr de fundamentação prática para uma raiva que até então era relativamente irracional... ("mas como é que ele conseguiu espetar este golpe ao Barcelona?"). Quando Robson saiu de Barcelona foi sem surpresa que ouvi dizer que Mourinho ficava ("a indemnização deve ser demasiado cara - fica mais barato pagar-lhe o ordenado") e foi com um sorriso nos lábios que li poucos meses depois uma reportagem sobre o papel de Mourinho no clube ("sou uma espécie de psicólogo, que trabalha essencialmente na parte mental dos jogadores", disse ele - "bela treta", pensei eu).
Quando o contrato com o barça chegou ao fim, li outra entrevista ("tenho tido convites de vários clubes da 1ª divisão, mas tenho que escolher com calma, pois não me quero envolver com qualquer um") que por um lado me divertiu ("está bem abelha: acredito mesmo!") e por outro me deixou curioso ("ele parecia com demasiada confiança..."). Alguns meses depois, Vale e Azevedo surpreendia tudo e todos e contratava Mourinho ("Porquê? Será que ele está doido?"). Foi com uma irritação enorme que vi o Sporting perder (em Dezembro de 2000) 3-0 com o Benfica de Mourinho... e foi com espanto que observei o oportunismo com que Mourinho abandonou o autêntico cemitério de treinadores em que este clube se tornou ("como é que este gajo tem a coragem de saltar fora desta maneira?").
Foi nesse dia que percebi que Mourinho era, acima de tudo, um mestre de gestão de imagem. Tenho que reconhecer que, desde o início da sua carreira e até ao passado sábado (antes da conferência de imprensa...), Mourinho não cometeu um único erro e conseguiu conquistar um estado de graça na imprensa portuguesa como nunca antes tinha acontecido. Aliás, recordo uma frase de Manuel Cajuda a este propósito: "qualquer pessoa que já tenha falado ao telefone com José Mourinho pode ser considerada um grande treinador de futebol".
A passagem de Mourinho pelo União de Leiria foi um claríssimo exemplo disso mesmo: fortemente patrocinada pelo grupo Media Capital, a equipa de Leiria despediu Manuel José (que tinha feito a melhor sequência de resultados da história do clube) fez meio campeonato de bom nível (embora pior que nos tempos de Manuel José...) e foi considerada a equipa-sensação da época! E Mourinho foi contratado pelo FCP... e o resto da história todos nos lembramos: o clube ganhou tudo o que havia para ganhar e eu quase que baixei os braços nesta minha cruzada anti-Mourinho, pois as evidências eram demasiado fortes - o que é que se poderia pedir mais a um treinador?
Andava eu rendido à (para mim) desagradável realidade de me ter enganado quando esta semana renasceu a esperança: finalmente um deslize! Uma argumentação absurda sobre uma reposição ilegal de bola utilizada como pretexto para se ir embora! Ou seja, o trio campeonato-taça de Portugal-taça UEFA era para Mourinho o equivalente FCP aos 3-0 do Benfica ao Sporting e ele quer é dar à sola antes que as coisas comecem a dar para o torto... e, melhor que tudo, toda a gente percebeu! Até os adeptos do FCP e Pinto da Costa!
Afinal, ainda há esperança para os meus maus fígados!!!
Quando o contrato com o barça chegou ao fim, li outra entrevista ("tenho tido convites de vários clubes da 1ª divisão, mas tenho que escolher com calma, pois não me quero envolver com qualquer um") que por um lado me divertiu ("está bem abelha: acredito mesmo!") e por outro me deixou curioso ("ele parecia com demasiada confiança..."). Alguns meses depois, Vale e Azevedo surpreendia tudo e todos e contratava Mourinho ("Porquê? Será que ele está doido?"). Foi com uma irritação enorme que vi o Sporting perder (em Dezembro de 2000) 3-0 com o Benfica de Mourinho... e foi com espanto que observei o oportunismo com que Mourinho abandonou o autêntico cemitério de treinadores em que este clube se tornou ("como é que este gajo tem a coragem de saltar fora desta maneira?").
Foi nesse dia que percebi que Mourinho era, acima de tudo, um mestre de gestão de imagem. Tenho que reconhecer que, desde o início da sua carreira e até ao passado sábado (antes da conferência de imprensa...), Mourinho não cometeu um único erro e conseguiu conquistar um estado de graça na imprensa portuguesa como nunca antes tinha acontecido. Aliás, recordo uma frase de Manuel Cajuda a este propósito: "qualquer pessoa que já tenha falado ao telefone com José Mourinho pode ser considerada um grande treinador de futebol".
A passagem de Mourinho pelo União de Leiria foi um claríssimo exemplo disso mesmo: fortemente patrocinada pelo grupo Media Capital, a equipa de Leiria despediu Manuel José (que tinha feito a melhor sequência de resultados da história do clube) fez meio campeonato de bom nível (embora pior que nos tempos de Manuel José...) e foi considerada a equipa-sensação da época! E Mourinho foi contratado pelo FCP... e o resto da história todos nos lembramos: o clube ganhou tudo o que havia para ganhar e eu quase que baixei os braços nesta minha cruzada anti-Mourinho, pois as evidências eram demasiado fortes - o que é que se poderia pedir mais a um treinador?
Andava eu rendido à (para mim) desagradável realidade de me ter enganado quando esta semana renasceu a esperança: finalmente um deslize! Uma argumentação absurda sobre uma reposição ilegal de bola utilizada como pretexto para se ir embora! Ou seja, o trio campeonato-taça de Portugal-taça UEFA era para Mourinho o equivalente FCP aos 3-0 do Benfica ao Sporting e ele quer é dar à sola antes que as coisas comecem a dar para o torto... e, melhor que tudo, toda a gente percebeu! Até os adeptos do FCP e Pinto da Costa!
Afinal, ainda há esperança para os meus maus fígados!!!
Há empresas que pelos serviços que prestam assumem uma importância enorme nas nossas vidas, a qual infelizmente nem sempre é directamente proporcional à sua competência. Esta reflexão vem a propósito do mais recente dos blogues "made in Estarreja", o TMN Troca Pontos, um verdadeiro símbolo do sentimento de desespero e impotência a que um cidadão comum acaba por se ter de resignar, face a autênticas situações de impunidade que actualmente existem no nosso país, em que algumas empresas fazem rigorosamente o que lhes apetece, muitas vezes sem qualquer respeito pelo público. O que fazer numa situação destas? Será que em Portugal existe alguma autoridade com competência para receber este género de queixas e exigir explicações aos eventuais prevaricadores?
Visitem o blogue e comentem, s.f. f.
Visitem o blogue e comentem, s.f. f.
terça-feira, fevereiro 03, 2004
O modo absolutamente parcial e até cruel como a comunicação social portuguesa e europeia normalmente se refere à barbaridade quase diária a que são sujeitos os israelitas deixa-me profundamente revoltado. A irrelevância com que o mais recente atentado contra um autocarro em Jerusalém foi noticiado é absolutamente perturbante. Há de facto uma cultura mediática e populista de hipersensibilidade em relação a alguns factos (como é o caso da morte de Feher) e de indiferença em relação a outros, mesmo que estes sejam tão ou mais chocantes que os anteriores, como é o caso dos atentados em Israel ou dos crimes de pedofilia, a que hoje já ninguém liga.
O Nuno Guerreiro na Rua da Judiaria faz o retrato perfeito do que aqui escrevo, disponibilizando inclusivé um tenebroso link para quem quiser ver o que as nossas televisões não mostram.
O Nuno Guerreiro na Rua da Judiaria faz o retrato perfeito do que aqui escrevo, disponibilizando inclusivé um tenebroso link para quem quiser ver o que as nossas televisões não mostram.
segunda-feira, fevereiro 02, 2004
Começo a semana de volta ao tema do IC1: Depois de ter lido os posts que o José Matos dedicou a esta matéria (aqui, aqui e aqui), penso que é importante recordar o que é que verdadeiramente está aqui em causa:
- O IC1 começou por ser visto como uma oportunidade de desenvolvimento para o nosso concelho e para as empresas do futuro Parque Industrial de Estarreja - ainda antes de se falar no seu traçado, era clara a esperança de que esta via pudesse tornar mais fáceis as comunicações com Aveiro e o Porto, para além de permitir finalmente aliviar algum do trânsito da EN109;
- Os motivos que levaram à rejeição da "Proposta Nascente" tinham a ver principalmente com o facto desta não ter nenhum valor acrescentado em relação à A1 em termos de melhoria das ligações a Aveiro e Porto, para além de não servir de alternativa à 109. Ou seja, com esta proposta, Estarreja seria um mero ponto de passagem para o IC1 e os estarrejenses e aqueles que connosco se relacionassem seriam obrigados a continuar a usar a EN109;
Foi neste momento que começaram as manifestações públicas de desagrado. Não porque os estarrejenses fossem um grupo de obcecados com um determinado ponto cardeal, mas principalmente porque as legítimas esperanças que esta oportunidade de desenvolvimento havia levantado estavam prestes a ser levianamente descartadas.
Ou seja, a partir deste momento todas as forças políticas defenderam publicamente a necessidade de garantir esses dois factores essenciais: a alternativa à EN109 (que é uma permanente ameaça à vida dos estarrejenses - a este propósito recordo uma AM para a qual o Eng. Aníbal Teixeira levou uma lista de 14 avancanenses que haviam perdido a vida em acidentes nessa estrada) e a perspectiva de não ficar à margem do eixo de desenvolvimento que o IC1 inevitavelmente criaria.
A partir daqui, todos conecemos as histórias dos avanços e recuos do actual executivo camarário, que depois de anunciar com pompa e circunstância a solução definitiva, vem dizer que afinal ainda se está a estudar a melhor hipótese.
No momento em que estamos, é óbvio que não será possível encontrar uma solução que verdadeiramente satisfaça dos nossos interesses. Os mesmos governantes que em Estarreja anunciaram um traçado a poente promoveram o mesmo traçado a nascente no concelho de Ovar. E as duas coisas não são conciliáveis. Por muito que isso nos custe, temos que constatar que no jogo de forças de bastidores foi Ovar quem ganhou. Por isso, resta-nos tentar minimizar o mal que já foi feito e exigir responsabilidades e contrapartidas aos autores desta "facada nas costas". O José Matos tem razão quando diz que a não construção a poente é uma enorme decepção para o PSD de Estarreja. E também tem razão quando diz que é o governo central quem decide. Só lhe falta uma coisa para estarmos de acordo: é que em política quem não cumpre o que promete deve sofrer as consequências dos seus actos. E o PSD de Estarreja não deve ter medo de exigir responsabilidades ao governo, mesmo que este seja do seu partido...
No entanto, ressalvo que, de facto, não há ainda uma decisão definitiva sobre esta matéria... mas que há vários sinais bastante óbvios, lá isso, há.
Para terminar: reconheço que tenho tido uma postura de velho do restelo em relação à problemática do IC1... no entanto, apetece-me recordar aqui um provérbio húngaro que há alguns meses serviu de título a uma crónica de António Lobo Antunes: "todo o bocadinho acrescenta, disse o rato... e fez chichi no mar".
- O IC1 começou por ser visto como uma oportunidade de desenvolvimento para o nosso concelho e para as empresas do futuro Parque Industrial de Estarreja - ainda antes de se falar no seu traçado, era clara a esperança de que esta via pudesse tornar mais fáceis as comunicações com Aveiro e o Porto, para além de permitir finalmente aliviar algum do trânsito da EN109;
- Os motivos que levaram à rejeição da "Proposta Nascente" tinham a ver principalmente com o facto desta não ter nenhum valor acrescentado em relação à A1 em termos de melhoria das ligações a Aveiro e Porto, para além de não servir de alternativa à 109. Ou seja, com esta proposta, Estarreja seria um mero ponto de passagem para o IC1 e os estarrejenses e aqueles que connosco se relacionassem seriam obrigados a continuar a usar a EN109;
Foi neste momento que começaram as manifestações públicas de desagrado. Não porque os estarrejenses fossem um grupo de obcecados com um determinado ponto cardeal, mas principalmente porque as legítimas esperanças que esta oportunidade de desenvolvimento havia levantado estavam prestes a ser levianamente descartadas.
Ou seja, a partir deste momento todas as forças políticas defenderam publicamente a necessidade de garantir esses dois factores essenciais: a alternativa à EN109 (que é uma permanente ameaça à vida dos estarrejenses - a este propósito recordo uma AM para a qual o Eng. Aníbal Teixeira levou uma lista de 14 avancanenses que haviam perdido a vida em acidentes nessa estrada) e a perspectiva de não ficar à margem do eixo de desenvolvimento que o IC1 inevitavelmente criaria.
A partir daqui, todos conecemos as histórias dos avanços e recuos do actual executivo camarário, que depois de anunciar com pompa e circunstância a solução definitiva, vem dizer que afinal ainda se está a estudar a melhor hipótese.
No momento em que estamos, é óbvio que não será possível encontrar uma solução que verdadeiramente satisfaça dos nossos interesses. Os mesmos governantes que em Estarreja anunciaram um traçado a poente promoveram o mesmo traçado a nascente no concelho de Ovar. E as duas coisas não são conciliáveis. Por muito que isso nos custe, temos que constatar que no jogo de forças de bastidores foi Ovar quem ganhou. Por isso, resta-nos tentar minimizar o mal que já foi feito e exigir responsabilidades e contrapartidas aos autores desta "facada nas costas". O José Matos tem razão quando diz que a não construção a poente é uma enorme decepção para o PSD de Estarreja. E também tem razão quando diz que é o governo central quem decide. Só lhe falta uma coisa para estarmos de acordo: é que em política quem não cumpre o que promete deve sofrer as consequências dos seus actos. E o PSD de Estarreja não deve ter medo de exigir responsabilidades ao governo, mesmo que este seja do seu partido...
No entanto, ressalvo que, de facto, não há ainda uma decisão definitiva sobre esta matéria... mas que há vários sinais bastante óbvios, lá isso, há.
Para terminar: reconheço que tenho tido uma postura de velho do restelo em relação à problemática do IC1... no entanto, apetece-me recordar aqui um provérbio húngaro que há alguns meses serviu de título a uma crónica de António Lobo Antunes: "todo o bocadinho acrescenta, disse o rato... e fez chichi no mar".