quarta-feira, junho 23, 2004
Caros amigos e eventuais visitantes:
O autor deste blogue encontra-se a curtir uns merecidos 15 dias de férias, pelo que é pouco provável o surgimento de novos posts...
O meu período de ausência vai ser fértil em acontecimentos importantíssimos. Em princípio, quando eu regressar, Portugal já será campeão europeu com o Cristiano Ronaldo a ser coroado como melhor jogador da Europa, Scolari estará a caminho de um clube qualquer com um contrato milionário e mais dois ou três jogadores da nossa selecção serão também transferidos por um preço disparatado... Em Estarreja, já terá decorrido a próxima Assembleia Municipal e todos saberemos como é que o executivo camarário vai justificar o injustificável: ou seja, qual o motivo do ataque institucional gratuito da Câmara à Assembleia Municipal de Estarreja e quem foram os deputados do PSD que "fugiram" com as nossas pobres (em qualidade) propostas de elevação de Estarreja a cidade e Salreu e Pardilhó a vilas. E os deputados municipais, em nome do pragmatismo, da
condescendência amigável, do interesse municipal e da brandura dos costumes cá da terra, lá terão que ceder a mais esta trapalhada camarária... Será certamente interessante este debate, embora eu confesse que não o iria ver sem algum constrangimento: é que está-se a tirar nobreza e dignidade a uma medida notável e que ficará para a história do nosso concelho! Por isso é que eu mantenho a convicção de que a proposta deveria ser retirada.
Quando eu voltar o país estará certamente mais calmo, em início de período estival. A nossa classe política estará a entrar no primeiro de quase 3 meses de merecidas férias e o assunto dominante dos telejornais (para além do Iraque e da Casa Pia) será naturalmente e ainda o futebol, com as danças e novelas de transferências de jogadores na ordem do dia...
Mas como a hora é já de saudades, pelo que só me resta deixar aqui o indispensável
Até Breve!
segunda-feira, junho 21, 2004
Afinal somos mesmo os maiores! Era só saber escolher... Até o Nuno Valente jogou bem (fiquei atónito - desde o baile que Lucas, extremo-direito da Académica e ex-jogador do Avanca, lhe deu num certo jogo do último campeonato, nunca pensei que uma exibição destas fosse possível! E logo contra o Joaquín!)!
Mas, como eu ia dizendo, quer dizer, escrevendo, somos mesmo uma autêntica máquina! Imparáveis! Os melhores do mundo! Os melhores da história recente! A melhor equipa de todos os tempos!
Como se costuma dizer, o futebol é isto mesmo. E isto é música para os meus ouvidos!
Mas, como eu ia dizendo, quer dizer, escrevendo, somos mesmo uma autêntica máquina! Imparáveis! Os melhores do mundo! Os melhores da história recente! A melhor equipa de todos os tempos!
Como se costuma dizer, o futebol é isto mesmo. E isto é música para os meus ouvidos!
domingo, junho 20, 2004
Estamos a 1 hora e 9 minutos do Portugal-Espanha.
Estou na fase em que acho que vamos ganhar 3-0. Já me esqueci das duas sofríveis exibições anteriores (embora a primeira bem pior que a segunda), do facto do Nuno Valente ir ser titular e do Scolari ir provavelmente manter o Cristiano Ronaldo no banco... Mas o que é que se há-de fazer? Misteriosamente, continuo a acreditar que vão ser mesmo 3-0 a nosso favor!
Estou na fase em que acho que vamos ganhar 3-0. Já me esqueci das duas sofríveis exibições anteriores (embora a primeira bem pior que a segunda), do facto do Nuno Valente ir ser titular e do Scolari ir provavelmente manter o Cristiano Ronaldo no banco... Mas o que é que se há-de fazer? Misteriosamente, continuo a acreditar que vão ser mesmo 3-0 a nosso favor!
quarta-feira, junho 16, 2004
Esqueçam tudo o que vos disse. Vamos a eles! Até os comemos! E este gajo tem que jogar!
Já percebi
Finalmente. Tal como tinha escrito no post anterior, tenho passado os dias com um sentimento de angústia em relação à inevitabilidade de estar nervoso e preocupado com o próximo jogo da selecção. Sempre que tentava racionalizar o assunto, pensando na pouca importância do futebol, que afinal é apenas um jogo rodeado dos mais baixos princípios morais, com jogadores que apenas se preocupam com o seu próprio umbigo e com a sua conta bancária, acabava invariavelmente preocupado com o facto de jogar o Deco ou o Rui Costa, o Simão ou o Ronaldo...
No entanto, duas conversas com a minha avó paterna serviram para me ajudar a esclarecer um pouco desta parvoíce colectiva que neste momento envolve o país. A minha avó, que não devia ver um jogo de futebol há vários anos, assistiu ao malfadado Portugal-Grécia. Estive com ela alguns dias depois do jogo e ela perguntou-me mais ou menos isto: "Ouve lá, passo a vida a ouvir dizer maravilhas do Figo, que ele é o melhor do mundo e ganha 100 mil contos por mês, mas afinal ele é mas é um incompetente... mesmo com ele a jogar nós perdemos o jogo!". Fiquei sem resposta. Até que percebi: Figo não é, nem nunca foi, sequer metade do que se diz dele. O erro é nosso, pois as nossas esperanças têm por base a ilusão de um jogador miraculoso, que na realidade não existe. Jogadores como Maradona, Pelé ou Platini podiam fazer milagres. Figo não. E, se pensarmos bem, nunca o fez. Então porque raio é que nós o tratamos assim?
No seguimento da conversa, eu expliquei à minha avó que andava irritado com o facto de não conseguir evitar estar do lado de uma cambada de indivíduos tão repelentes como grande parte dos que constituem a nossa selecção e de andar genuinamente aflito com a eventualidade de sermos eliminados tão precocemente. Ela respondeu-me: "tu não estás do lado deles. Tu está do lado de Portugal.". Ora nem mais. É isso mesmo. Eu estou do lado de Portugal. Quer joguem o Figo, o Rui Costa ou o deficiente que aparece nas filmagens das comemorações das vitórias do FCP, eu quero é que Portugal ganhe. E o resto que se lixe.
Finalmente. Tal como tinha escrito no post anterior, tenho passado os dias com um sentimento de angústia em relação à inevitabilidade de estar nervoso e preocupado com o próximo jogo da selecção. Sempre que tentava racionalizar o assunto, pensando na pouca importância do futebol, que afinal é apenas um jogo rodeado dos mais baixos princípios morais, com jogadores que apenas se preocupam com o seu próprio umbigo e com a sua conta bancária, acabava invariavelmente preocupado com o facto de jogar o Deco ou o Rui Costa, o Simão ou o Ronaldo...
No entanto, duas conversas com a minha avó paterna serviram para me ajudar a esclarecer um pouco desta parvoíce colectiva que neste momento envolve o país. A minha avó, que não devia ver um jogo de futebol há vários anos, assistiu ao malfadado Portugal-Grécia. Estive com ela alguns dias depois do jogo e ela perguntou-me mais ou menos isto: "Ouve lá, passo a vida a ouvir dizer maravilhas do Figo, que ele é o melhor do mundo e ganha 100 mil contos por mês, mas afinal ele é mas é um incompetente... mesmo com ele a jogar nós perdemos o jogo!". Fiquei sem resposta. Até que percebi: Figo não é, nem nunca foi, sequer metade do que se diz dele. O erro é nosso, pois as nossas esperanças têm por base a ilusão de um jogador miraculoso, que na realidade não existe. Jogadores como Maradona, Pelé ou Platini podiam fazer milagres. Figo não. E, se pensarmos bem, nunca o fez. Então porque raio é que nós o tratamos assim?
No seguimento da conversa, eu expliquei à minha avó que andava irritado com o facto de não conseguir evitar estar do lado de uma cambada de indivíduos tão repelentes como grande parte dos que constituem a nossa selecção e de andar genuinamente aflito com a eventualidade de sermos eliminados tão precocemente. Ela respondeu-me: "tu não estás do lado deles. Tu está do lado de Portugal.". Ora nem mais. É isso mesmo. Eu estou do lado de Portugal. Quer joguem o Figo, o Rui Costa ou o deficiente que aparece nas filmagens das comemorações das vitórias do FCP, eu quero é que Portugal ganhe. E o resto que se lixe.
terça-feira, junho 15, 2004
Se eu fosse o Scolari
Estive quase para não escrever este texto, uma vez que tudo o que de mal eu já aqui escrevi sobre a nossa selecção se tem (infelizmente) vindo a confirmar. Aliás, já por diversas vezes me interroguei sobre qual seria o motivo pelo qual eu ainda me consentia ficar irritado com este assunto. Mas é inevitável. À medida que a hora do segundo jogo se aproxima, regressa a esperança, por muito que eu a tente repelir...
Para começar, vamos recordar os principais factos que nos trouxeram a este ponto:
1. Portugal fez uma figura miserável no Mundial de 2002;
2. O país pediu a cabeça de Gilberto Madaíl e António Oliveira;
3. Só rolou a cabeça de Oliveira;
4. Artur Jorge tentou conquistar a presidência da Federação Portuguesa de Futebol a Madaíl. Para poder concorrer, precisava do apoio da Associação de Treinadores de Futebol;
5. Madaíl prometeu à Associação de Treinadores que se o apoiassem, o próximo seleccionador nacional seria português (falava-se em Manuel José);
6. Artur Jorge nem sequer conseguiu ser candidato - a sua própria classe profissional apoiou Madaíl;
7. Os donos do futebol português vetaram o nome de Manuel José;
8. Madaíl contratou Scolari, ignorando o acordo com a Associação de Treinadores;
9. Scolari chega à selecção;
10. Figo diz que "se for para perder prestígio, não vou à selecção";
11. Vários jogadores anunciam o fim das suas carreiras internacionais (Jorge Costa, Pedro Barbosa, Paulo Bento, etc.);
12. Vitor Baía e João Pinto são afastados da selecção sem qualquer explicação;
13. Scolari convoca Deco;
14. Figo e Rui Costa lideram um movimento "anti-Deco" na selecção;
15. Scolari amua com Maniche, Fernando Meira e Sérgio Conceição;
16. Rui Costa e Figo fazem uma época fraquíssima nos seus respectivos clubes, chegando ao fim da temporada em péssima forma;
17. Ricardo acaba a época a distribuir frangos e sob um intenso fogo de críticas por parte da imprensa;
18. Depois de uma época fabulosa (2002-2003), Deco faz uma temporada de nível médio (2003-2004), embora terminando claramente a subir de forma;
19. O FCP é campeão europeu e acaba a época em grande, com quase todos os seus jogadores em alto nível;
20. O povo pede a convocação de Vitor Baía, campeão europeu, confiante e em boa forma;
21. Scolari não convoca Baía;
22. Scolari convoca Maniche, depois de só o ter feito jogar na selecção uma ou duas vezes;
23. Na véspera do jogo com a Grécia, Figo diz aos jornalistas que não concorda com a presença de Deco na selecção;
24. A selecção entra nervosíssima em campo e Portugal perde 2-1 com a Grécia;
25. O povo pede a inclusão de Deco na equipa;
26. Hoje de manhã, Rui Costa, visivelmente irritado com os jornalistas, diz que a equipa não jogou de forma diferente nas duas partes do jogo com a Grécia.
Ou seja, temos uma selecção de meninos mimados e embirrentos, que depois de toda uma carreira sénior recheada de falhanços e desilusões, parece estar prestes a dar-nos mais esta "prenda" (eliminação na fase de grupos do Euro).
Scolari negociou com Figo a sua colaboração em troca da titularidade de Rui Costa e Fernando Couto. Os sacrificados foram Deco e Ricardo Carvalho, que provavelmente são neste momento o melhor defesa e o melhor médio da selecção. O resultado é o que está à vista...
Por tudo isto, se eu fosse Scolari, a equipa seria: Moreira; Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Jorge Andrade e Rui Jorge; Costinha e Maniche; Simão Sabrosa, Deco e Cristiano Ronaldo; Nuno Gomes.
Ou seja, trocaria um guarda-redes bom, mas em crise (Ricardo), por um de igual nível mas a atravessar um excelente momento de forma e confiança (Moreira). Fernando Couto seria obviamente substituído por Ricardo Carvalho. Os desestabilizadores Figo e Rui Costa seriam enviados não para o banco, mas sim nos primeiros aviões para Espanha e Itália, respectivamente. Podia ser que deste modo os colegas deixassem de ter medo deles... Pauleta seria trocado por Nuno Gomes, pois este está em melhor forma e na selecção tem um rendimento bastante superior ao que tem no Benfica.
Claro que este exercício de treinador de bancada não serve rigorosamente para nada, a não ser para satisfazer o meu ego...
De qualquer modo, tenho a certeza de que Scolari nunca teria coragem para algo deste género.
Infelizmente, a partir de Sábado certamente que deixaremos de ter este tipo de preocupações!
Estive quase para não escrever este texto, uma vez que tudo o que de mal eu já aqui escrevi sobre a nossa selecção se tem (infelizmente) vindo a confirmar. Aliás, já por diversas vezes me interroguei sobre qual seria o motivo pelo qual eu ainda me consentia ficar irritado com este assunto. Mas é inevitável. À medida que a hora do segundo jogo se aproxima, regressa a esperança, por muito que eu a tente repelir...
Para começar, vamos recordar os principais factos que nos trouxeram a este ponto:
1. Portugal fez uma figura miserável no Mundial de 2002;
2. O país pediu a cabeça de Gilberto Madaíl e António Oliveira;
3. Só rolou a cabeça de Oliveira;
4. Artur Jorge tentou conquistar a presidência da Federação Portuguesa de Futebol a Madaíl. Para poder concorrer, precisava do apoio da Associação de Treinadores de Futebol;
5. Madaíl prometeu à Associação de Treinadores que se o apoiassem, o próximo seleccionador nacional seria português (falava-se em Manuel José);
6. Artur Jorge nem sequer conseguiu ser candidato - a sua própria classe profissional apoiou Madaíl;
7. Os donos do futebol português vetaram o nome de Manuel José;
8. Madaíl contratou Scolari, ignorando o acordo com a Associação de Treinadores;
9. Scolari chega à selecção;
10. Figo diz que "se for para perder prestígio, não vou à selecção";
11. Vários jogadores anunciam o fim das suas carreiras internacionais (Jorge Costa, Pedro Barbosa, Paulo Bento, etc.);
12. Vitor Baía e João Pinto são afastados da selecção sem qualquer explicação;
13. Scolari convoca Deco;
14. Figo e Rui Costa lideram um movimento "anti-Deco" na selecção;
15. Scolari amua com Maniche, Fernando Meira e Sérgio Conceição;
16. Rui Costa e Figo fazem uma época fraquíssima nos seus respectivos clubes, chegando ao fim da temporada em péssima forma;
17. Ricardo acaba a época a distribuir frangos e sob um intenso fogo de críticas por parte da imprensa;
18. Depois de uma época fabulosa (2002-2003), Deco faz uma temporada de nível médio (2003-2004), embora terminando claramente a subir de forma;
19. O FCP é campeão europeu e acaba a época em grande, com quase todos os seus jogadores em alto nível;
20. O povo pede a convocação de Vitor Baía, campeão europeu, confiante e em boa forma;
21. Scolari não convoca Baía;
22. Scolari convoca Maniche, depois de só o ter feito jogar na selecção uma ou duas vezes;
23. Na véspera do jogo com a Grécia, Figo diz aos jornalistas que não concorda com a presença de Deco na selecção;
24. A selecção entra nervosíssima em campo e Portugal perde 2-1 com a Grécia;
25. O povo pede a inclusão de Deco na equipa;
26. Hoje de manhã, Rui Costa, visivelmente irritado com os jornalistas, diz que a equipa não jogou de forma diferente nas duas partes do jogo com a Grécia.
Ou seja, temos uma selecção de meninos mimados e embirrentos, que depois de toda uma carreira sénior recheada de falhanços e desilusões, parece estar prestes a dar-nos mais esta "prenda" (eliminação na fase de grupos do Euro).
Scolari negociou com Figo a sua colaboração em troca da titularidade de Rui Costa e Fernando Couto. Os sacrificados foram Deco e Ricardo Carvalho, que provavelmente são neste momento o melhor defesa e o melhor médio da selecção. O resultado é o que está à vista...
Por tudo isto, se eu fosse Scolari, a equipa seria: Moreira; Paulo Ferreira, Ricardo Carvalho, Jorge Andrade e Rui Jorge; Costinha e Maniche; Simão Sabrosa, Deco e Cristiano Ronaldo; Nuno Gomes.
Ou seja, trocaria um guarda-redes bom, mas em crise (Ricardo), por um de igual nível mas a atravessar um excelente momento de forma e confiança (Moreira). Fernando Couto seria obviamente substituído por Ricardo Carvalho. Os desestabilizadores Figo e Rui Costa seriam enviados não para o banco, mas sim nos primeiros aviões para Espanha e Itália, respectivamente. Podia ser que deste modo os colegas deixassem de ter medo deles... Pauleta seria trocado por Nuno Gomes, pois este está em melhor forma e na selecção tem um rendimento bastante superior ao que tem no Benfica.
Claro que este exercício de treinador de bancada não serve rigorosamente para nada, a não ser para satisfazer o meu ego...
De qualquer modo, tenho a certeza de que Scolari nunca teria coragem para algo deste género.
Infelizmente, a partir de Sábado certamente que deixaremos de ter este tipo de preocupações!
segunda-feira, junho 14, 2004
Uma das frases da semana, segundo o Jornal da Ria, foi esta:
"A diferença é que ontem todos os partidos votaram a favor da proposta das elevações. Hoje, no PS há abstenções. O povo sabe julgar", da autoria de José Eduardo de Matos, em declarações ao Jornal de Estarreja.
Embora eu não seja militante do PS, fui eleito deputado municipal numa lista deste partido, o que faz com que eu enfie a carapuça e consequentemente me sinta visado pela referida frase.
Obviamente que, uma vez que não a li no seu contexto original, posso estar a ser induzido em erro. No entanto, parece-me importante comentá-la. É que eu tenho medo de ter sido mal interpretado nos últimos textos que dediquei a este tema: eu não me abstenho em relação à elevação de Estarreja a cidade e Salreu e Pardilhó a vilas desta forma tão atabalhoada. Eu sou contra as elevações nestas condições. Os Estarrejenses têm dignidade mais que suficiente para poderem recusar esta "oferta" dos deputados do PSD, que a todos atropela na ansiedade de concluir o processo antes das próximas eleições.
Muito sinceramente, a teoria de que "a cavalo dado não se olha o dente" é miserabilista e indigna de um concelho como o nosso. Eu acho que os Estarrejenses mereciam melhor. A Assembleia Municipal de Estarreja em que eu estive presente também pensava da mesma forma.
Não estamos desesperados para ser cidade (ou vilas) a qualquer preço. Até porque o valor que nos pedem (o da nossa dignidade) é demasiado elevado. E o povo saberá certamente julgar quem a perde. É que a dignidade só se vende uma vez!
"A diferença é que ontem todos os partidos votaram a favor da proposta das elevações. Hoje, no PS há abstenções. O povo sabe julgar", da autoria de José Eduardo de Matos, em declarações ao Jornal de Estarreja.
Embora eu não seja militante do PS, fui eleito deputado municipal numa lista deste partido, o que faz com que eu enfie a carapuça e consequentemente me sinta visado pela referida frase.
Obviamente que, uma vez que não a li no seu contexto original, posso estar a ser induzido em erro. No entanto, parece-me importante comentá-la. É que eu tenho medo de ter sido mal interpretado nos últimos textos que dediquei a este tema: eu não me abstenho em relação à elevação de Estarreja a cidade e Salreu e Pardilhó a vilas desta forma tão atabalhoada. Eu sou contra as elevações nestas condições. Os Estarrejenses têm dignidade mais que suficiente para poderem recusar esta "oferta" dos deputados do PSD, que a todos atropela na ansiedade de concluir o processo antes das próximas eleições.
Muito sinceramente, a teoria de que "a cavalo dado não se olha o dente" é miserabilista e indigna de um concelho como o nosso. Eu acho que os Estarrejenses mereciam melhor. A Assembleia Municipal de Estarreja em que eu estive presente também pensava da mesma forma.
Não estamos desesperados para ser cidade (ou vilas) a qualquer preço. Até porque o valor que nos pedem (o da nossa dignidade) é demasiado elevado. E o povo saberá certamente julgar quem a perde. É que a dignidade só se vende uma vez!
quinta-feira, junho 10, 2004
Fiquei, obviamente, estarrecido com a morte de Sousa Franco. Ver um académico brilhante que abandona a calma da sua vida quotidiana para se lançar numa luta violentíssima em termos físicos e psicológicos em nome de ideais é, por si só, algo de extraordinário. Durante os dias de campanha foram várias as vezes que comentei com alguns amigos o que é que levaria alguém com o percurso profissional, académico e político de Sousa Franco a sujeitar-se a ouvir insultos completamente despropositados de figuras tão ridículas como aquela criança do PP ou a desmiolada do PSD da Guarda. O absurdo fim de tudo isto é perfeitamente dramático: depois de tudo aquilo por que havia passado antes, a gota que acaba por fazer transbordar o copo foram os inacreditáveis acontecimentos da lota de Matosinhos. Tal como todos os portugueses que têm televisão em casa, já vi as reportagens dos vários canais algumas dezenas de vezes. No entanto, a que me chocou mais foi a que a RTP 1 transmitiu cerca de uma hora depois do sucedido, e que estranhamente não voltei a ver. Ficou-me na retina um momento em que Sousa Franco, completamente afogueado, está a ser puxado e arrastado por Narciso Miranda e Manuel Seabra, que faziam força em direcções opostas, no meio de uma enorme fúria popular e de uma luta titânica de vários seguranças. Sousa Franco morreu poucos minutos depois. Será que se Manuel Seabra, Narciso Miranda e os respectivos apoiantes fossem menos selvagens isto teria acontecido? Mesmo que a morte de Sousa Franco nada tenha a ver com o que sucedeu em Matosinhos, penso que a direcção do PS deveria impedir que qualquer um destes dois arruaceiros concorresse à CM de Matosinhos. Pelo menos em nome do PS.
A última nota vai para o protagonista do momento mais ignóbil do dia: Mário Soares, que nem sequer gostava de Sousa Franco, reagiu à sua morte com lágrimas de crocodilo, elogios hipócritas e um chocante aproveitamento político do facto, ao afirmar que a melhor forma de honrar a memória de Sousa Franco seria votar no PS no próximo dia 13!
Mesmo durante a campanha eleitoral, ainda ninguém tinha descido tão baixo. Há pessoas que não merecem o ar que respiram!
A última nota vai para o protagonista do momento mais ignóbil do dia: Mário Soares, que nem sequer gostava de Sousa Franco, reagiu à sua morte com lágrimas de crocodilo, elogios hipócritas e um chocante aproveitamento político do facto, ao afirmar que a melhor forma de honrar a memória de Sousa Franco seria votar no PS no próximo dia 13!
Mesmo durante a campanha eleitoral, ainda ninguém tinha descido tão baixo. Há pessoas que não merecem o ar que respiram!
quarta-feira, junho 09, 2004
Chegou hoje à caixa de correio do Estarreja Efervescente mais um link para um site estarrejense: a página da Escola Secundária de Estarreja.
A lista de blogues de consulta recomendada foi também aumentada com a inclusão de algumas páginas que já lá deveriam estar há algum tempo...
A lista de blogues de consulta recomendada foi também aumentada com a inclusão de algumas páginas que já lá deveriam estar há algum tempo...
segunda-feira, junho 07, 2004
Há assuntos que não se devem deixar morrer. E este é um deles. Depois deste e deste posts (e também deste do José Carlos Sá), mais uma reflexão sobre
O Caso da Proposta Voadora
... ou seja, sobre a tão comentada polémica que rodeia o facto da proposta de elevação de Estarreja a cidade e Salreu e Pardilhó a vilas ter sido apresentada na Assembleia da República por um grupo de deputados do PSD antes mesmo da Assembleia Municipal de Estarreja (AM) a ter analisado e discutido. Para além de tudo o que já se disse e escreveu sobre esta matéria, há ainda algumas dúvidas que permanecem:
1. Quem são os autores da referida proposta?
É que a CME apresentou na AM a tal proposta como sendo da sua autoria. Das duas uma: ou o documento foi mesmo feito pela CME ou o executivo camarário mentiu à Assembleia. Como este último cenário não deve sequer ser equacionado, todos devemos partir do princípio de que a CME é de facto a autora da proposta.
2. Quem forneceu a proposta aos deputados do PSD antes de a entregar à Assembleia Municipal de Estarreja?
É absolutamente evidente que, sendo a proposta da autoria da CME, foi alguém relacionado com o actual executivo camarário que entregou a proposta aos deputados do PSD para que estes a analisassem e apresentassem na Assembleia da República, ou então tratou-se de um caso de fuga de informação. Ora, neste caso temos algumas sub-hipóteses:
2.1. Foi um elemento do executivo camarário quem entregou a proposta aos deputados do PSD
Neste caso, mais não resta ao responsável por este acto a justificação pública da sua atitude e a apresentação do respectivo pedido de desculpas à AM, aos deputados municipais e ao povo de Estarreja. Se não o fizer, o pedido de demissão é a única atitude decente a tomar.
2.2. Foi um funcionário da CME quem surripiou a proposta e a entregou aos deputados do PSD
Neste caso há que abrir um inquérito interno para averiguar toda a verdade sobre o sucedido. Obviamente que a primeira pergunta deverá ser dirigida aos deputados, que têm o dever moral de denunciar quem lhes entregou a proposta.
2.3. Foi a oposição quem entregou a proposta aos deputados do PSD para assim criar este facto político.
Neste caso, parece-me natural e provável que os tais deputados venham a público denunciar os elementos da oposição que lhes entregaram toda a documentação. Obviamente que os "opositores responsáveis" se deverão demitir dos cargos que exercem se este cenário se verificar.
2.4. Não vai aparecer nenhum culpado.
Infelizmente este é o cenário que me parece mais provável. Neste caso, por inerência das suas funções, o culpado é o Presidente da Câmara Municipal de Estarreja, que é quem deveria garantir a segurança e confidencialidade destas matérias e sobretudo proteger as instituições democráticas locais de situações tão ridículas como estas. Naturalmente, neste caso, aplicar-se-iam todas as condições referidas em 2.1...
Ou seja, ou tivemos um caso de autêntica espionagem política em Estarreja, ou estamos perante uma falta de respeito gratuita pela Assembleia Municipal, tendo o prestígio, representatividade e a honra desta instituição sido trocados por algumas penas de pavão cujo destino é serem colocadas no chapéu de alguns deputados do PSD (alguém os conhece?) e dos próprios elementos do executivo camarário!
O Caso da Proposta Voadora
... ou seja, sobre a tão comentada polémica que rodeia o facto da proposta de elevação de Estarreja a cidade e Salreu e Pardilhó a vilas ter sido apresentada na Assembleia da República por um grupo de deputados do PSD antes mesmo da Assembleia Municipal de Estarreja (AM) a ter analisado e discutido. Para além de tudo o que já se disse e escreveu sobre esta matéria, há ainda algumas dúvidas que permanecem:
1. Quem são os autores da referida proposta?
É que a CME apresentou na AM a tal proposta como sendo da sua autoria. Das duas uma: ou o documento foi mesmo feito pela CME ou o executivo camarário mentiu à Assembleia. Como este último cenário não deve sequer ser equacionado, todos devemos partir do princípio de que a CME é de facto a autora da proposta.
2. Quem forneceu a proposta aos deputados do PSD antes de a entregar à Assembleia Municipal de Estarreja?
É absolutamente evidente que, sendo a proposta da autoria da CME, foi alguém relacionado com o actual executivo camarário que entregou a proposta aos deputados do PSD para que estes a analisassem e apresentassem na Assembleia da República, ou então tratou-se de um caso de fuga de informação. Ora, neste caso temos algumas sub-hipóteses:
2.1. Foi um elemento do executivo camarário quem entregou a proposta aos deputados do PSD
Neste caso, mais não resta ao responsável por este acto a justificação pública da sua atitude e a apresentação do respectivo pedido de desculpas à AM, aos deputados municipais e ao povo de Estarreja. Se não o fizer, o pedido de demissão é a única atitude decente a tomar.
2.2. Foi um funcionário da CME quem surripiou a proposta e a entregou aos deputados do PSD
Neste caso há que abrir um inquérito interno para averiguar toda a verdade sobre o sucedido. Obviamente que a primeira pergunta deverá ser dirigida aos deputados, que têm o dever moral de denunciar quem lhes entregou a proposta.
2.3. Foi a oposição quem entregou a proposta aos deputados do PSD para assim criar este facto político.
Neste caso, parece-me natural e provável que os tais deputados venham a público denunciar os elementos da oposição que lhes entregaram toda a documentação. Obviamente que os "opositores responsáveis" se deverão demitir dos cargos que exercem se este cenário se verificar.
2.4. Não vai aparecer nenhum culpado.
Infelizmente este é o cenário que me parece mais provável. Neste caso, por inerência das suas funções, o culpado é o Presidente da Câmara Municipal de Estarreja, que é quem deveria garantir a segurança e confidencialidade destas matérias e sobretudo proteger as instituições democráticas locais de situações tão ridículas como estas. Naturalmente, neste caso, aplicar-se-iam todas as condições referidas em 2.1...
Ou seja, ou tivemos um caso de autêntica espionagem política em Estarreja, ou estamos perante uma falta de respeito gratuita pela Assembleia Municipal, tendo o prestígio, representatividade e a honra desta instituição sido trocados por algumas penas de pavão cujo destino é serem colocadas no chapéu de alguns deputados do PSD (alguém os conhece?) e dos próprios elementos do executivo camarário!
sexta-feira, junho 04, 2004
Mais uma interessante pérola que chegou à caixa de correio do Estarreja Efervescente, sobre um debate parlamentar que provavelmente só por acaso é que nunca existiu:
Em Portugal, o poder de compra caiu de tal
modo que até a classe média
está a sentir na pele essa queda. No seu estilo
inconfundível, o Bloco de
Esquerda atacou o Governo com o seguinte
argumento:
- A situação está tão degradada em Portugal com
os valores éticos, sociais e morais a serem postos quotidianamente em causa
por este Governo, que até as universitárias estão a começar a
prostituir-se.
A resposta de Durão Barroso não se fez esperar:
- Em primeiro lugar, este Governo não recebe
lições de ética nem quaisquer outras de ninguém; em segundo lugar e
como é apanágio de V. Exª que já nos habituou à distorção sistemática da
realidade o que acontece é exactamente o oposto: a situação é tão boa que até as prostitutas já são universitárias.
Em Portugal, o poder de compra caiu de tal
modo que até a classe média
está a sentir na pele essa queda. No seu estilo
inconfundível, o Bloco de
Esquerda atacou o Governo com o seguinte
argumento:
- A situação está tão degradada em Portugal com
os valores éticos, sociais e morais a serem postos quotidianamente em causa
por este Governo, que até as universitárias estão a começar a
prostituir-se.
A resposta de Durão Barroso não se fez esperar:
- Em primeiro lugar, este Governo não recebe
lições de ética nem quaisquer outras de ninguém; em segundo lugar e
como é apanágio de V. Exª que já nos habituou à distorção sistemática da
realidade o que acontece é exactamente o oposto: a situação é tão boa que até as prostitutas já são universitárias.
quinta-feira, junho 03, 2004
Assembleia Municipal
O José Carlos Sá chamou a atenção para a oportunidade perdida pela última Assembleia Municipal. Embora eu não tenha estado presente e até concorde com o princípio de "quem está de fora, racha lenha", resolvi dar aqui a minha opinião:
De facto existem constrangimentos regimentais que fazem com que numa Assembleia Municipal extraordinária apenas se possam debater os temas previamente agendados para essa sessão. No entanto, penso que o regimento também permite acrescentar pontos à ordem de trabalhos, desde que o plenário aprove essa medida. Ora, o caso deste incidente institucional entre a Câmara Municipal e a AM é gravíssimo e sem dúvida merecedor de inclusão urgente na agenda de qualquer sessão da AM, ordinária ou extraordinária. Faltou à mesa a coragem política para discutir esta matéria. Até porque também poderemos estar a travar uma luta contra o tempo, pois se a AM mantiver a sua palavra e entender que o documento que nos foi apresentada em Fevereiro era pouco digna, seria incompreensível que não se pedisse aos deputados do PSD responsáveis por esta atitude abusiva para retirarem de imediato a proposta que estes apresentaram na Assembleia da República, substituindo-a por uma que seja subscrita pelos legítimos representantes da população de Estarreja.
No entanto, tenho a certeza que pelo menos na sessão ordinária da AM que terá que ser realizada em Junho vai ser possível discutir esta matéria. Nem que seja no período antes da ordem do dia...
Uma última nota sobre a tal sessão a que eu faltei: os termos das conclusões da investigação ao "caso do testamento de Júlio Neves" são no mínimo chocantes. "Apropriação ilícita de 15 milhões de escudos"??? Em português corrente a expressão "apropriação ilícita" significa "roubo". Será que era mesmo isto que a AM queria dizer? Ou foi apenas uma infeliz escolha de palavras? E como é que a Câmara Municipal de Estarreja vai reagir a esta acusação de "apropriação ilícita"?
O José Carlos Sá chamou a atenção para a oportunidade perdida pela última Assembleia Municipal. Embora eu não tenha estado presente e até concorde com o princípio de "quem está de fora, racha lenha", resolvi dar aqui a minha opinião:
De facto existem constrangimentos regimentais que fazem com que numa Assembleia Municipal extraordinária apenas se possam debater os temas previamente agendados para essa sessão. No entanto, penso que o regimento também permite acrescentar pontos à ordem de trabalhos, desde que o plenário aprove essa medida. Ora, o caso deste incidente institucional entre a Câmara Municipal e a AM é gravíssimo e sem dúvida merecedor de inclusão urgente na agenda de qualquer sessão da AM, ordinária ou extraordinária. Faltou à mesa a coragem política para discutir esta matéria. Até porque também poderemos estar a travar uma luta contra o tempo, pois se a AM mantiver a sua palavra e entender que o documento que nos foi apresentada em Fevereiro era pouco digna, seria incompreensível que não se pedisse aos deputados do PSD responsáveis por esta atitude abusiva para retirarem de imediato a proposta que estes apresentaram na Assembleia da República, substituindo-a por uma que seja subscrita pelos legítimos representantes da população de Estarreja.
No entanto, tenho a certeza que pelo menos na sessão ordinária da AM que terá que ser realizada em Junho vai ser possível discutir esta matéria. Nem que seja no período antes da ordem do dia...
Uma última nota sobre a tal sessão a que eu faltei: os termos das conclusões da investigação ao "caso do testamento de Júlio Neves" são no mínimo chocantes. "Apropriação ilícita de 15 milhões de escudos"??? Em português corrente a expressão "apropriação ilícita" significa "roubo". Será que era mesmo isto que a AM queria dizer? Ou foi apenas uma infeliz escolha de palavras? E como é que a Câmara Municipal de Estarreja vai reagir a esta acusação de "apropriação ilícita"?
quarta-feira, junho 02, 2004
Foi hoje dado mais um passo para a compreensão do "fenómeno Mourinho": a conferência de imprensa que serviu para o apresentar como treinador do Chelsea veio também revelar que Mourinho mal sabe falar inglês, revelando falhas quer ao nível do vocabulário, quer na construção de frases e sobretudo no sotaque, com erros que podem ser considerados de palmatória. Ou seja, ficou provado que Mourinho nunca foi um tradutor, pois qualquer jovem de 15 anos fala melhor inglês que ele...
terça-feira, junho 01, 2004
Mais um post com alguns dias de atraso, mas que apesar de tudo acaba por ter alguma actualidade:
Mourinho
Como os mais atentos leitores deste blogue certamente já perceberam, eu nunca fui um adepto de José Mourinho. Aliás, antes pelo contrário. No entanto, aqui estou para me render à evidência. Por muito que isso me custe admitir, José Mourinho é o melhor treinador português da actualidade e provavelmente das últimas dezenas de anos. Pronto. Custou a sair, mas lá consegui escrever. Agora já está.
Poderão os meus críticos dizer que eu só escrevo estas linhas porque o FCP é campeão da Europa e que este texto é apenas um acéfalo produto de seguidismo de tudo o que na última semana se disse e escreveu sobre esta matéria, ao que eu respondo "eh, pá... isso não é inteiramente mentira, mas também não é completamente verdade". Passo a explicar:
Existe uma grande diferença entre o vencedor e o segundo classificado, entre o finalista vencedor e o finalista vencido. Hoje todos nos lembramos de que Eddy Merckx ou Jacques Anquetil como dois dos maiores ciclistas de todos os tempos, mas quase ninguém se lembra de Raymond Poulidor, também ele senhor de um palmarés impressionante, mas que ficou conhecido como o "eterno segundo", pois nunca venceu nenhum Tour de France, embora por diversas vezes tenha estado perto de o conseguir. Para se ser um vencedor é necessária uma mentalidade especial, uma certa arrogância e sobretudo uma enorme coragem e auto-confiança. E foi isso que o FCP deste ano teve em toda a sua carreira e em todas as provas (a final da Taça de Portugal com o Benfica foi um caso de grande azar e uma disparatada atitude de Jorge Costa). E é justo dizer-se que todo esse trabalho mental, que acabou por ser o que fez a diferença na final, com um índice de aproveitamento de oportunidades elevadíssimo (4 remates, 3 golos, salvo erro), se deve principalmente ao trabalho de José Mourinho. E esse mérito ninguém lho pode tirar. Trata-se de uma forma de estar na vida tão implacável, ambiciosa e vencedora, que nos deixou a todos perplexos. Não é vulgar ver gente assim em Portugal.
Tecnicamente, Mourinho é um bom treinador, embora não seja brilhante. A sua principal virtude acaba por ser a rapidez de detecção e emenda dos seus próprios erros. Aliás, isso foi bem evidente ao longo do percurso do FCP na Liga dos Campeões: contra o Manchester United Paulo Ferreira esteve sozinho contra dois adversários (Ryan Giggs e o defesa-esquerdo, cujo nome já não me recordo) até ao momento do golo de Scholes. Nessa altura Mourinho emendou a mão, o jogo equilibrou-se e bastou uma oportunidade para Costinha resolver tudo. Contra o Lyon, o erro foi o mesmo: Alenichev não defendia e o FCP passou meia hora de grande sufoco, com constantes idas à linha de fundo e cruzamentos perigosíssimos, que só a entrada de Pedro Emanuel resolveu, ao compensar no centro uma deslocação para ajuda aos flancos dos centrais Jorge Costa e Ricardo Carvalho. A própria forma como a final se resolveu foi interessante: com Deco e Maniche bem marcados e impedidos de lançar o ataque da equipa e o jogo num perigoso impasse, o lançamento de Alenichev em campo foi o factor decisivo, pois o FCP passou a ter um factor de desequilíbrio no meio-campo sem perder força defensiva.
Até nos seus primeiros tempos no Porto Mourinho soube emendar a mão: quem é que ainda se recorda que o guarda-redes em que Mourinho apostava inicialmente era Nuno e não Baía? Só que quando Baía começou a mover as suas habituais influências (as mesmas que agora fazem a vida negra a Ricardo e a Quim...) e o balneário começou a escapar ao seu controlo, o actual treinador do Chelsea não hesitou. E as coisas acalmaram. É que Baía é o único guarda-redes português com autorização para dar frangos sem ser criticado pela imprensa (veja-se a diferença entre as reacções aos monumentais perús de Baía contra o Gil Vicente e aos dois erros de Ricardo contra o Boavista...) e isso é um bem inestimável para qualquer equipa. Quando Baía regressou à titularidade, Mourinho ganhou o balneário.
Para concluir, resta assinalar o facto desta vitória ser um feito muito mais notável que o de 1987, fundamentalmente por dois motivos: porque em 87 a Taça dos Campeões era uma prova de eliminatórias em duas mãos e logo mais vulnerável ao factor sorte e porque a equipa de 87 tinha jogadores muito melhores que a de 2004. Se olharmos para o plantel de 87, verificamos que nele só 2 ou 4 jogadores da actualidade é que teriam lugar, para além do facto de actualmente o FCP não ter jogadores com a excepcional classe de Futre, Madjer ou Fernando Gomes.
Por tudo isto, e porque em Portugal não é habitual ver-se este tipo de mentalidade, o mérito desta vitória é principalmente de Mourinho. Dele e de mais ninguém. Por muito que isso custe a admitir a muita gente. Incluindo a mim próprio.
Mourinho
Como os mais atentos leitores deste blogue certamente já perceberam, eu nunca fui um adepto de José Mourinho. Aliás, antes pelo contrário. No entanto, aqui estou para me render à evidência. Por muito que isso me custe admitir, José Mourinho é o melhor treinador português da actualidade e provavelmente das últimas dezenas de anos. Pronto. Custou a sair, mas lá consegui escrever. Agora já está.
Poderão os meus críticos dizer que eu só escrevo estas linhas porque o FCP é campeão da Europa e que este texto é apenas um acéfalo produto de seguidismo de tudo o que na última semana se disse e escreveu sobre esta matéria, ao que eu respondo "eh, pá... isso não é inteiramente mentira, mas também não é completamente verdade". Passo a explicar:
Existe uma grande diferença entre o vencedor e o segundo classificado, entre o finalista vencedor e o finalista vencido. Hoje todos nos lembramos de que Eddy Merckx ou Jacques Anquetil como dois dos maiores ciclistas de todos os tempos, mas quase ninguém se lembra de Raymond Poulidor, também ele senhor de um palmarés impressionante, mas que ficou conhecido como o "eterno segundo", pois nunca venceu nenhum Tour de France, embora por diversas vezes tenha estado perto de o conseguir. Para se ser um vencedor é necessária uma mentalidade especial, uma certa arrogância e sobretudo uma enorme coragem e auto-confiança. E foi isso que o FCP deste ano teve em toda a sua carreira e em todas as provas (a final da Taça de Portugal com o Benfica foi um caso de grande azar e uma disparatada atitude de Jorge Costa). E é justo dizer-se que todo esse trabalho mental, que acabou por ser o que fez a diferença na final, com um índice de aproveitamento de oportunidades elevadíssimo (4 remates, 3 golos, salvo erro), se deve principalmente ao trabalho de José Mourinho. E esse mérito ninguém lho pode tirar. Trata-se de uma forma de estar na vida tão implacável, ambiciosa e vencedora, que nos deixou a todos perplexos. Não é vulgar ver gente assim em Portugal.
Tecnicamente, Mourinho é um bom treinador, embora não seja brilhante. A sua principal virtude acaba por ser a rapidez de detecção e emenda dos seus próprios erros. Aliás, isso foi bem evidente ao longo do percurso do FCP na Liga dos Campeões: contra o Manchester United Paulo Ferreira esteve sozinho contra dois adversários (Ryan Giggs e o defesa-esquerdo, cujo nome já não me recordo) até ao momento do golo de Scholes. Nessa altura Mourinho emendou a mão, o jogo equilibrou-se e bastou uma oportunidade para Costinha resolver tudo. Contra o Lyon, o erro foi o mesmo: Alenichev não defendia e o FCP passou meia hora de grande sufoco, com constantes idas à linha de fundo e cruzamentos perigosíssimos, que só a entrada de Pedro Emanuel resolveu, ao compensar no centro uma deslocação para ajuda aos flancos dos centrais Jorge Costa e Ricardo Carvalho. A própria forma como a final se resolveu foi interessante: com Deco e Maniche bem marcados e impedidos de lançar o ataque da equipa e o jogo num perigoso impasse, o lançamento de Alenichev em campo foi o factor decisivo, pois o FCP passou a ter um factor de desequilíbrio no meio-campo sem perder força defensiva.
Até nos seus primeiros tempos no Porto Mourinho soube emendar a mão: quem é que ainda se recorda que o guarda-redes em que Mourinho apostava inicialmente era Nuno e não Baía? Só que quando Baía começou a mover as suas habituais influências (as mesmas que agora fazem a vida negra a Ricardo e a Quim...) e o balneário começou a escapar ao seu controlo, o actual treinador do Chelsea não hesitou. E as coisas acalmaram. É que Baía é o único guarda-redes português com autorização para dar frangos sem ser criticado pela imprensa (veja-se a diferença entre as reacções aos monumentais perús de Baía contra o Gil Vicente e aos dois erros de Ricardo contra o Boavista...) e isso é um bem inestimável para qualquer equipa. Quando Baía regressou à titularidade, Mourinho ganhou o balneário.
Para concluir, resta assinalar o facto desta vitória ser um feito muito mais notável que o de 1987, fundamentalmente por dois motivos: porque em 87 a Taça dos Campeões era uma prova de eliminatórias em duas mãos e logo mais vulnerável ao factor sorte e porque a equipa de 87 tinha jogadores muito melhores que a de 2004. Se olharmos para o plantel de 87, verificamos que nele só 2 ou 4 jogadores da actualidade é que teriam lugar, para além do facto de actualmente o FCP não ter jogadores com a excepcional classe de Futre, Madjer ou Fernando Gomes.
Por tudo isto, e porque em Portugal não é habitual ver-se este tipo de mentalidade, o mérito desta vitória é principalmente de Mourinho. Dele e de mais ninguém. Por muito que isso custe a admitir a muita gente. Incluindo a mim próprio.