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sábado, novembro 27, 2004



O autor deste blogue ainda tinha direito a alguns dias de muito merecidas férias. Até para a semana!

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quinta-feira, novembro 25, 2004

O Armando Tavares enviou para a redacção do Estarreja Efervescente este texto, que fala sobre o estranho desaparecimento de várias árvores centenárias no local onde está actualmente em construção a rotunda do hospital. Aqui fica o protesto, que também já saiu no Jornal da Ria:

Foi quase o 11 de Setembro

Foi quase um 11 de Setembro. Foi quase em Setembro (raiavam os primeiros dias de Novembro). Foram quase 11. Sete ou oito, não importa saber ao certo. Que foi um atentado ambiental, disso não há duvidas. Seis, sete ou oito, ou até uma só árvore centenária, cortada sem dó nem piedade. Cortadas pelo pé, para depois se arrancar as raízes às entranhas da terra, assim, a sangue frio. Torturar desta forma o ambiente é progredir? Seria necessário tal razia? Não haveria alternativas? Não se pode parar o desenvolvimento, mas prosperar, violando desta forma bruta e cruel um património florestal que já é tão pouco, será louvável? Creio que não. Não estou falar de pequenos arbustos, de silvas muito menos, mas sim de plátanos, essas pequenas árvores centenárias outrora plantadas junto ao nosso rio, que já ninguém se lembra de ver nascer, mas que muitos de nós vimos agora morrer. Como morrem as árvores. De pé.
Se é assim que se limpa Estarreja, prefiro sem hesitar... a sujidade!

Nota: alguém sabe o que aconteceu às ditas árvores? Ou quem é que ficou com a madeira? Aguardam-se respostas na secção de comentários deste blogue VJS.

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terça-feira, novembro 23, 2004

- Concorda com a Carta de Direitos Fundamentais, a regra das votações por maioria qualificada e o novo quadro institucional da União Europeia, nos termos constantes da Constituição para a Europa?
- Hã?! Importa-se de repetir, por favor?
- Concorda com a Carta de Direitos Fundamentais, a regra das votações por maioria qualificada e o novo quadro institucional da União Europeia, nos termos constantes da Constituição para a Europa?
- Sim, mas isso é um conjunto de banalidades que não acrescenta nada; Não; Não.
- Desculpe, mas eu perguntei se Concorda com a Carta de Direitos Fundamentais, a regra das votações por maioria qualificada e o novo quadro institucional da União Europeia, nos termos constantes da Constituição para a Europa? E a resposta é SIM ou não.
- Ah... mas é que quando me fazem 3 perguntas complexas ao mesmo tempo eu tenho este péssimo hábito de tentar dar respostas individuais a cada uma delas...
- Desculpe, mas o Sr. cidadão deve ser atrasado mental. Pela última vez... Concorda com a Carta de Direitos Fundamentais, a regra das votações por maioria qualificada e o novo quadro institucional da União Europeia, nos termos constantes da Constituição para a Europa?
- Bem, a análise contabilística das respostas atrás referidas dá 2-1 para o não. Portanto a minha resposta é não.
- Já viu bem o que arranjou?! O Presidente da Comissão Europeia é português, o Presidente da República de Portugal já disse que sim e os dois maiores partidos também já disseram que sim!!! Com que descaramento é que o meu amigo vem agora dizer que não?
- Eu só respondi a uma pergunta...
- Bem, vou dar-lhe mais uma hipótese... Concorda com a Carta de Direitos Fundamentais, a regra das votações por maioria qualificada e o novo quadro institucional da União Europeia, nos termos constantes da Constituição para a Europa, não concorda?
- Não.

O cidadão sou eu. E ao longo dos próximos tempos irei explicar porquê.

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Blogues

Eu não conheço a Carolina (fui lá parar através do link do Santa Terrinha), mas este blogue é um luxo. A começar pela musiquinha de entrada! Parabéns pelo aniversário!

O Tirópassarinho deixou de existir! De facto, parece que a autofagia da oposição estarrejense começou a dar os seus primeiros frutos e os bloggers situacionistas viram-se remetidos à sua insignificância... face à nova realidade local, o exercício de oposição à oposição tornou-se redundante!

Há dois blogues que eu costumo visitar e que já ando para linkar há algum tempo: o Pé de meia, do mfc, e o Rio Abaixo, do Villas. Experimentem.

E este gajo (alguém sabe quem é?) passou-se de vez. A minha vénia (bem curvada) para este blogue... Só é pena que ele de vez em quando apague tudo... mas isso também já faz parte da mística.

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segunda-feira, novembro 22, 2004

Texto da minha crónica pentasemanal (será que é esta a palavra para "de 5 em 5 semanas"?) na RVR:

Os Dias do Fim

Se compararmos as dificuldades com que o governo foi defrontado nesta última semana com as verificadas em períodos anteriores, até poderemos pensar que as coisas nem correram mal de todo, sobretudo tendo em conta de quem é que estamos a falar. De facto, ao contrário dos tempos em que broncas como a do "barco do aborto", a dança de Secretários de Estado entre ministérios completamente diferentes ou a demissão de Marcelo se arrastavam penosamente no tempo e nos telejornais, a verdade é que os últimos sete dias até foram relativamente pacíficos. No entanto, na minha opinião estes dias foram injustamente calmos. Aliás, penso que neste momento estamos a assistir a dois fenómenos curiosos, que decorrem mais ou menos em simultâneo:
- Por um lado a imprensa está com a sensação que se corre o risco de vitimizar Santana, transformando-o num combatente contra fortes adversidades, sozinho a lutar contra o monstro que é a comunicação social, uma espécie de Dom Quixote com objectivos, um rebelde com causa. Depois da vitória de Bush nos EUA, cuja campanha foi inteligentemente manipulada pelo aparelho republicano de modo a apresentar o presidente como um combatente idealista disposto a enfrentar o resto do mundo só para defender o seu povo da ameaça terrorista, a campainha soou nas redacções nacionais e os jornalistas passaram a ter necessidade de poupar artificialmente Santana e os seus pares. Não que a cadência de disparates tenha diminuído, mas apenas porque há o risco das críticas de tornarem contraproducentes, como no caso americano;
- Por outro lado, e paralelamente a esta complacência dos media, está-se a observar algo do mesmo género na oposição: Sócrates parece mais ocupado com questões de organização interna e apenas surge a espaços no combate político - é nítido o empenho em não deixar desgastar a sua imagem, embora este propósito seja conseguido à custa duma abertura de espaço para o governo que se poderá revelar fatal se não for adequadamente enfrentada. Parece haver no PS a convicção de que o governo se enterra sozinho e portanto mais vale guardar energias para mais perto das eleições. Por seu turno, o PCP está novamente a atravessar uma crise interna e neste momento as suas preocupações têm mais a ver com a necessidade de calar os renovadores do que propriamente de fazer oposição de forma eficaz. E o Bloco de Esquerda está a viver as previsíveis consequências da sua estratégia política habitual: a sobre-exposição mediática dos seus elementos, o radicalismo das intervenções e a focalização política em assuntos marginais e mediáticos fizeram com que a credibilidade dos seus representantes fosse irremediavelmente abalada. Hoje em dia já ninguém liga ao que diz Louçã, por muito bem feita que seja a sua intervenção.
Neste cenário de aparente oportunidade de recuperação, o PSD acabou estranhamente por se afundar ainda mais, transformando a semana passada na primeira semana do fim do mandato de Santana, no partido e no poder.
De facto, tudo começou com um congresso do PSD ao qual quase todas as figuras mais importantes do partido faltaram, com a notável excepção de Marques Mendes, que mais uma vez teve coragem suficiente para se sacrificar pelo partido e assumir frontalmente as suas discordâncias. Neste vazio de poder e peso institucional, foi nítida a confirmação daquilo que há muito se percebia pela actuação do governo: a ascensão de Nuno Morais Sarmento, e o seu posicionamento estratégico para suceder a Santana Lopes, que provavelmente quando perceber que vai deixar de ser primeiro-ministro, fará o que sempre fez ao longo da sua vida pública: desistirá a meio do seu mandato, desta vez do cargo de presidente do PSD.
Morais Sarmento, promovido a figura de proa do PSD, é tudo menos alguém com perfil para ser líder daquele que dentro de 2 anos será o maior partido da oposição: para além dos irritantes defeitos de dicção, o mais preocupante em Sarmento é a sua visão absolutamente instrumentalizadora do aparelho de estado. De facto, Sarmento foi o político que propôs de uma forma desabrida a manipulação dos serviços públicos de comunicação social por parte do governo como algo de perfeitamente legítimo, que defende sistematicamente as inaceitáveis pressões que o governo tem exercido em tudo quanto é jornal, televisão ou rádio e por fim, Sarmento era o rosto visível da recém abortada central de comunicação do governo, um dos projectos mais ilegítimos, totalitaristas e manipuladores da história democrática de Portugal. Jorge Sampaio vetou ontem a proposta de criação de uma central de marketing privativa do governo, que teria um orçamento de 400 mil contos anuais pagos com o dinheiro dos nossos impostos e cuja função seria apenas a de intoxicar o país com propaganda pró-governamental, para além de dar emprego a mais 30 assessores. Esta proposta recorda tudo o que os regimes totalitaristas fizeram de pior e iria criar uma assimetria de intervenção pública entre o governo e a oposição favorável ao primeiro e conseguida à custa do financiamento dos contribuintes. Era intolerável que Jorge Sampaio não a vetasse e é incompreensível a aparente indiferença da oposição neste caso.Para terminar, a Alta Autoridade para a Comunicação Social considerou esta semana que o governo pressionou a TVI de forma ilegítima. O ministro envolvido, o anónimo Gomes da Silva, decidiu anonimamente que não se demitia... e Morais Sarmento, no seu melhor, isto é, no seu pior, disse que a Alta Autoridade não tem qualquer credibilidade e iria ser substituída por outra entidade a criar ainda neste mandato... nada mau para uma semana que até nem foi das piores para o governo... e nem sequer precisei de falar do orçamento fantoche que foi aprovado há dois ou três dias!

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quinta-feira, novembro 18, 2004

Filme de Tegog

Já imaginagam o que seguia se o pguimeigo ministgo de Pogtugal falasse assim?
É que neste último congguesso do PSD fogam dados impogtantes passos desta diguecção...
Socogo!!!!



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Body Count de personalidades da comunicação social que perderam os seus cargos por pressão do governo(?) Santana:

Marcelo Rebelo de Sousa (ex-comentador da TVI)
Fernando Lima (ex-director do DN)
José Rodrigues dos Santos (ex-director de informação da RTP)

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terça-feira, novembro 16, 2004



O conselho de ministros de hoje foi altamente simbólico: o governo todo junto numa barca, isolado do resto do país, a navegar à vista e rodeado por toda a água que tem metido nos últimos tempos. E mesmo neste cenário Santana e Portas ainda tiveram vontade de regar mais um bocadinho, quando disseram que estava tudo bem na coligação...
Enfim, foi uma espécie de mistura do Barco do Amor com o Auto da Barca do Inferno e com uma participação especial da Arca de Noé, dada a quantidade de animais que se encontrava a bordo...

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Alberto Vidal, Manuel Figueira e Augusto Ferreira são três estarrejenses que têm muito a ensinar à maioria de nós. Foram ontem muito justamente homenageados pela Assembleia Municipal de Estarreja, que lhes atribuiu a Medalha de Ouro do Concelho de Estarreja. Aqui fica a reprodução do discurso feito na ocasião pelo Eng. Duarte Drummond Esmeraldo, que me parece particularmente feliz:

Na última Assembleia Municipal, aprovamos por unanimidade e aclamação a atribuição de Medalhas de Ouro do Concelho de Estarreja a Alberto Augusto Linhares Vidal, Augusto da Rocha Ferreira e Manuel Marques Figueira.
Esta atribuição segundo julgo saber, vem ao encontro do desejo dos Estarrejenses, é absolutamente consensual e só peca por ser tardia.
O meu convívio com os homenageados remonta a algumas décadas atrás, logo a seguir ao 25 de Abril de 1974, que tantas esperanças e promessas de mudança nos trouxe.
Muitas dessas esperanças continuam por cumprir, entre elas, a erradicação das bolsas de exclusão social e de pobreza, que nos últimos anos progrediu, em vez de regredir, e que afecta já dois milhões de portugueses (um quinto da população).
Os políticos no poder, utilizam o fantasma da crise e do défice, para deixar o campo livre aos mais espertos, que se aproveitam dela, par cavar ainda mais o fosso entre os novos-ricos com lucros, vencimentos e pensões milionárias e os novos pobres sem emprego, sem rendimento mínimo e sem esperança num futuro melhor.
As políticas avaliam-se pelos seus resultados e como os resultados são maus para a maioria da população há que tirar as devidas ilações.
Recordo com saudade, os tempos em que, embora, pertencendo a campos políticos diferentes, sempre mantivemos laços de amizade, cordialidade e de respeito mútuo com os homenageados.
Hoje ao olhar para o passado levou-me a reflectir o que é que as acções dos nossos homenageados tinham de comum e penso que encontrei algumas dessas singularidades das suas personalidades tão queridas da população de Estarreja.
· Foram todos trabalhadores voluntários por causas nobres de fazer bem aos mais carenciados, aos velhos, aos deficientes e excluídos sem olhar para os seus próprios interesses.
· Foram inovadores de práticas sociais, e souberam enfrentar dificuldades sem nunca desistirem,
· Ergueram instituições sólidas que se mantêm e manterão independentemente das alternâncias no poder ou ideologia politica.

Ao recordar algumas conversas no início dos seus projectos, verifiquei que todos eles tinham uma visão, um projecto e que nunca desistiram de levar à prática os seus sonhos.
A vida tem-me ensinado que muitas das coisas nobres que se fizeram e fazem em prol da sociedade, não dependem do recurso que toda a gente pensa ser o mais importante - o dinheiro.
Sabe-se que a filantropia burocrática de alguns organismos oficiais, esbanja milhões de euros, que além de não resolverem os problemas, com o seu aspecto caritativo de dar esmolas e educação aos "pobrezinhos", não fazem mais do que fixar bolsas de pobreza subsídio-dependentes, que hoje por respeito aos homenageados não vou dar exemplos recentes mas que nada tem a ver com o Rendimento Social Mínimo, mas sim com o modo como foi aplicado ou melhor sabotado na prática.
O que fez Augusto Ferreira na Cerciesta, Manuel Figueira na Humanitária de Salreu e de Alberto Vidal na ASE, foi dar a mão aos excluídos, e pô-los a participar na resolução dos seus próprios problemas, mobilizando o espírito de solidariedade existente mas adormecido na sociedade.
Não foi o cimento e os tijolos que foram importantes. O mais importante foi o envolvimento das pessoas no processo da solução dos seus próprios problemas, devolvendo-lhes o sentimento de pertença, dignidade e cidadania.
Julgo ter sido esse o segredo do seu sucesso das suas obras.
Ao ajudarem-se a si próprios, muitos deles desenvolveram o seu próprio espírito de solidariedade para com os outros e hoje como sócios trabalhadores continuam a ajudar não com dinheiro mas com trabalho outros necessitados.
As entidades, que não perceberam isto, falharam e cometeram erros de avaliação que vieram perturbar o processo em curso.
A sociedade, com a sua avaliação isenta e objectiva, aplaude e congratula-se com estas condecorações.
Pela nossa parte só desejamos que estes exemplos sejam compreendidos e estimulados pelas entidades oficiais, para bem fundamentalmente das franjas da pobreza envergonhada que desapossada de qualquer poder nem sabem reclamar aquilo a que por lei têm direito.
Parabéns aos condecorados com desejos de muitos anos de vida na companhia das suas famílias.


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domingo, novembro 14, 2004

Vejam esta notícia sobre a viúva de Arafat no Diário Digital.

PS - Como é que ainda consegues escrever um texto destes e assinar por baixo, Pedro?

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É irresistível voltar a escrever sobre o congresso do PSD. Ao ver nas televisões o resumo do dia de ontem, percebi que Santana Lopes protagoniza uma experiência até agora inédita na política portuguesa: penso que é a primeira vez que o primeiro-ministro e líder de um dos maiores partidos está sozinho com as bases, isto é, não tem o apoio da elite intelectual e ideológica do seu próprio partido.
De facto, talvez devido ao facto de ter passado 12 dos últimos 18 anos no poder, o PSD é provavelmente o partido português com uma maior riqueza de figuras relevantes. E se olharmos para este congresso, não vemos lá personalidades como Marcelo Rebelo de Sousa, Cavaco Silva, Pacheco Pereira, Manuela Ferreira Leite, António Borges, Braga de Macedo, Eduardo Catroga, Teresa Gouveia, Miguel Cadilhe, Leonor Beleza, Carlos Tavares, etc. (pelo menos não aparecem nas TVs, o que quer dizer que se estão presentes, estão calados). Marques Mendes apareceu mas estava contra. Isto é, sobraram os Morais Sarmentos (elevado à condição de grande figura do partido...) e o povo. O que não chega para manter um partido no poder.

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O congresso do PSD deste fim de semana lembra-me bastante o último congresso do PS com Guterres na liderança. E Marques Mendes parece ser o Manuel Maria Carrilho de serviço. Estou convencido que começou em Barcelos o fim da era Santana. Já não era sem tempo...

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sexta-feira, novembro 12, 2004

Eu estava para não escrever nada sobre a morte de Arafat. Mas este texto de Francisco José Viegas facilitou-me a vida. Aqui fica a sua versão integral (se eu pusesse só o link provavelmente ninguém o leria...), que eu subscrevo inteiramente (com a ressalva de quem apenas tomou conhecimento destes acontecimentos pelas TVs e jornais):

Não, não vou chorar lágrimas de crocodilo. Não vou deixar de reconhecer o seu papel no Médio Oriente e na chamada "causa palestiniana". É provável que seja um herói. Mas não vou tecer um elogio fúnebre. Se os palestinianos ainda não têm um país independente devem-no também a ele, que desfez acordos e mentiu descaradamente sobre os seus próprios planos, autorizando comandos suicidas formados por adolescentes e treino militar às crianças de Gaza. Se ainda há israelitas que se opõem à constituição de um estado palestiniano (e são muito poucos) devem-no muito a ele, que autorizou e mandou executar civis com a frieza de um "grande líder", condenando massacres em inglês e incentivando-os em árabe. Não aceito a encomenda de um Arafat transformado em anjo - desenho que, repetidamente, as televisões vão pintar durante as semanas mais próximas e que os jornais vão reter em colunas laudatórias, rendidas diante da morte do "grande estadista".Quem já viu destroços de autocarros israelitas e pedaços de corpos retirados de restaurantes destruídos à bomba em ruas de Jerusalém pode, sem dúvida, calar a voz e respeitar a dor dos que choram Arafat - e perguntar-se sobre os dias que vêm. Mas não fará mais do que isso.Eu vi a pizaria Sbarro, de Jerusalém, destruída por uma bomba da Fatah. Vi os jovens que dançavam na discoteca Dolphinarium, em Telavive, dias antes de ser destruída por um suicida recrutado pela Fatah e enviado pelo Hamas. Vi o restaurante perto de Haifa (a cidade da tolerância) onde centenas de judeus celebravam a sua Páscoa, e que os militantes da Fatah não hesitaram em destruir à bomba. Lembro-me de Itzhak Rabin confiar em Arafat depois dos acordos de Camp David - e de Arafat ter voltado atrás. Vi o pequeno mercado ao lado da Jaffa Road, em Jerusalém, semeado de corpos depois de um ataque organizado por militantes do Hamas que Arafat libertara dias antes. Ouvi Ehud Barak, em Jerusalém, falar com optimismo depois dos acordos de Oslo que Arafat rasgou depois de apertar a mão ao primeiro-ministro de Israel - abrindo as portas à vitória eleitoral de Ariel Sharon e da ala direita do Likud, um festim para os extremistas do Hamas e da Jihad.Quem viu esses destroços sabe que um estado palestiniano democrático seria impossível com Arafat. E, por isso, dificilmente chorará a sua morte. É doloroso escrever isso: não chorar a sua morte. Mas a verdade é que, tendo o dever de respeitar o vazio da morte, temos também o dever de não a usar para esconder as feridas abertas. Arafat não se transformou apenas numa peça dispensável - transformou-se num obstáculo à paz e à criação de um estado palestiniano democrático, arrastando o seu povo para uma guerra de fanáticos alimentada pelos ditadores da região. Ao mesmo tempo, criou um regime de terror nos média palestinianos, acumulou uma fortuna pessoal que ultrapassa de longe os 300 milhões de dólares (segundo a "Forbes") - grande parte dela desviada dos cofres da Autoridade Palestiniana -, autorizou execuções sumárias e fuzilamentos regulares, apoiou-se em líderes religiosos que pregavam nas mesquitas de Gaza sobre o dever de matar judeus, transformou a Autoridade Palestiniana num aparelho corrupto e voraz. É forçoso reconhecer que desaparece um líder e uma figura histórica. Mas o reconhecimento do facto não implica que se seja desleal para com a memória e as suas mágoas.


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Estarreja dos Pequenitos

O regulamento de venda de terrenos do futuro eco(?)-parque é afinal apenas um documento de síntese de vários regulamentos de outros parques industriais. O melhor que se pode dizer é que este é um mau começo para um projecto que se queria inovador a nível nacional e até europeu. Basta escrever "eco-industrial" no google para perceber o que é que eu quero dizer.

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quarta-feira, novembro 10, 2004

No seu comentário a este post, o meu amigo e colega Jorge Peliteiro desafiava-me a explicar essa propalada divergência entre a ruralidade e a intelectualidade. A pergunta é pertinente, sobretudo porque vem de um "Bushista". E no tal texto eu associava claramente os adeptos de Bush à ruralidade e os de Kerry à intelectualidade. Começo por fazer o necessário "mea culpa": o Peliteiro é um intelectual e se fosse americano teria votado Bush, tal como várias outras importantes personalidades (como por exemplo Pacheco Pereira). No entanto, estes exemplos não constituem uma regra, mas sim a excepção: ficou provado que o eleitor republicano típico provém da América rural e tradicionalista, é muito mais conservador que a maioria dos europeus conservadores e vive fora das grandes cidades. Por outro lado, os media, os universitários e a população dos principais centros urbanos inclinaram-se claramente para Kerry. O que quer dizer que o voto democrata varia directamente com o grau de acesso à informação, a abertura de espírito e o contacto com outras realidades (leia-se outros países e culturas). Este facto está estatisticamente provado em todos os artigos que se dedicam à análise das eleições americanas.
Portanto, caro Peliteiro, aqui ficam as definições vladimíricas de ruralismo e intelectualidade:
- Rural é aquele que vive fora de um centro urbano, quer em número de km, quer por não ter acesso a informação externa por outras vias (tv cabo, internet, etc.). Pode-se ser rural à força, por vontade própria ou por inércia. Um ruralista tem medo do que não conhece e é facilmente amedrontável. Saca logo da pistola quando lhe falam em casamentos gay e acha que só os medricas é que se preocupam com a justiça das guerras. Vai à missa todos os domingos. Não gosta de intelectuais;
- Intelectuais são aqueles que possuem várias e pormenorizadas explicações para tudo. A medida do número de teorias por assunto quadrado que um intelectual produz é semelhante à inércia com que não resolve os seus problemas. Um intelectual é sempre contra a guerra, seja esta contra quem for. Um intelectual sente-se moralmente superior a um rural. Um intelectual acha que um rural é moralista. Eu sei que há intelectuais de direita (como por exemplo o Peliteiro), mas não cabem nesta definição. Um intelectual vai todos os dias à internet. Um intelectual fuma, fala pelo menos uma língua estrangeira (o que na América já é considerado bastante) e sofre quando tem que ir ao McDonald's. Os intelectuais têm sempre uma causa, na qual se esforçam empenhadamente por acreditar. Não há intelectuais com mais de 45 anos (a partir desta idade ou ficam numa zona intermédia ou se tornam conservadores. E têm inveja dos ruralistas).

Depois deste exercício de disparate, aqui fica uma curiosa sondagem que acaba por vir bastante a propósito:



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segunda-feira, novembro 08, 2004


Um dia depois de saber que José Castelo Branco usa óculos sem graduação só para ficar com ar de intelectual, reparei nesta fotografia de Santana. Coincidência?

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Não deixa de ser curioso saber que John Kerry foi o candidato democrata com maior número de votos até hoje. Este facto só confirma as conclusões do post anterior. Sinceramente, acredito que nas próximas eleições a vitória já vai ser disputada entre duas pessoas normais. E também acredito que qualquer Bush que o tente não terá hipóteses. Porque, como os americanos (e o mundo...) irão ver nos próximos 4 anos, o orgulho às vezes sai caro!

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quinta-feira, novembro 04, 2004

As quatro razões dos americanos

Como é fácil de perceber pela leitura de alguns dos posts mais antigos do Estarreja Efervescente (como por exemplo o anterior...), fiquei bastante desiludido com o resultado das eleições americanas. Aliás, não sou o único europeu a reagir desta forma. Antes pelo contrário. No entanto, penso que neste momento há que tentar perceber o que aconteceu. E na minha opinião há quatro razões fundamentais que justificam esta aparentemente tão irracional votação:
1 - O medo do terrorismo. A estratégia republicana de apresentar Bush como o candidato mais forte e credível para enfrentar a ameça terrorista resultou em pleno. A campanha de Bush manipulou o medo com uma mestria notável e estou sinceramente convencido que este foi o factor decisivo. Sem o medo, Bush nunca teria ganho;
2 - O orgulho americano. Nos últimos tempos os EUA foram duplamente atacados: pelos terroristas, no 11 de Setembro, e pela comunidade internacional, com a condenação quase unânime da invasão do Iraque. E quando um país é atacado, independentemente de se achar que os motivos até poderão ser válidos (como no caso das mentiras em torno da invasão do Iraque), a tendência do povo desse país é defender-se. E quando alguém se defende, usa as suas melhores armas. E entre o florzinha Kerry e o bruto Bush, a escolha foi natural para os americanos. Para além disso, a América também pretendeu dizer ao mundo que "aqui mandamos nós" e num momento em que todo a comunidade internacional exigia a substituição de Bush, a maior parte dos americanos não quis dar o braço a torcer, porque isso seria um sinal de fraqueza. E a maior potência mundial não pode dar sinais de debilidade;
3 - A repulsa pela intelectualidade representada por Kerry. Não é por acaso que a maioria dos votos de Bush são provenientes de zonas rurais, em que as mentalidades continuam a ter muito a ver com a imagem do americano que tem as suas próprias armas para defender as terras e a família. Para além disso, os EUA serem uma terra em que o espírito de conquista está ainda muito presente (apesar da falta de índios, ou "native americans", como agora lhes chamam...). E entre o cowboy do Texas que fala a linguagem simples das classes mais baixas e o intelectual de Boston que despeja dezenas de medidas em série, todas justificadas com complexos raciocínios e dissertações ideológicas, a América mais simples e menos culta escolheu, naturalmente, o primeiro. A América das universidades, das artes e dos espectáculos foi vencida pela América mais crua, que vive afastada do glamour dos grandes centros urbanos, o que até era previsível, pois em termos populacionais estes são em muito maior número que aqueles;
4 - A falta de força de Kerry. Por muito que o tentasse disfarçar (e tentou-o várias vezes), Kerry é um pacifista. No mais profundo sentido da palavra. E este facto, juntamente com a já referida divisão entre os intelectuais e os mais simples, fragilizou a imagem de Kerry, que na parte final da campanha ainda teve uma tentativa vã de criar artificialmente chavões que pudessem tornar a sua mensagem mais "light". No entanto, estas inversões contra-natura apenas lhe trouxeram uma imagem de incoerência e muito poucos votos da parte do eleitorado que lhe escapava.

Depois de feita esta análise, a derrota de Kerry até parece natural. E nem sequer percebo porque é que tive esperanças. Ou melhor, até percebo: é que se o preço a pagar para ganhar umas eleições é ter que ser igual a Bush, então mais vale perdê-las e ser como Kerry. Há ideais que não têm preço e na política não pode valer tudo. E mais vale perder a lutar pelo que está certo do que ganhar à custa duma postura como a de Bush.
De qualquer modo, penso que estas eleições foram um importante avanço para a América, que na verdade nunca deixou de ter esta divisão. Pela primeira vez estes dois lados da sociedade americana extremaram as respectivas posições e enfrentaram-se. E, muito sinceramente, eu até acho que nestas condições Kerry perdeu por poucos. Talvez o próximo já possa ganhar...

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terça-feira, novembro 02, 2004

É hoje... espera-se! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry! Kerry!

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