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quarta-feira, março 30, 2005

Porque nem só de críticas vive o blogue, aqui ficam algumas referências positivas:
- À entrevista de Pedro Rolo Duarte a Teresa Caeiro na SIC Mulher. Classe, estilo, ideias claras e uma surpreendente demarcação de alguns dos principais dogmas do PP. Uma mulher a seguir com atenção;
- À entrevista de Ana Sousa Dias a Miguel Sousa Tavares (vi na RTP2 e ontem estava a ser retransmitida na RTPN - não sei se voltará a ser emitida...). A subtileza da entrevistadora e a forma honesta e pessoal como o entrevistado se comportou contrastam favoravelmente com os desempenhos de um e de outra respectivamente na TVI e na RTP1 (a fazer de microfone de Marcelo);
- A Casa da Música, que finalmente está pronta, vai abrir em grande (com Lou Reed) e ainda por cima com regras civilizadas (oxalá haja firmeza para as manter): quem chegar atrasado não entra antes do intervalo e quem tiver um telemóvel que toque durante um espectáculo é expulso da sala;
- A candidatura de Francisco Assis à Câmara do Porto abre as portas do parlamento à estarrejense Marisa Macedo.

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segunda-feira, março 28, 2005

O poder da imprensa é impressionante. Os media portugueses decidiram (e muito bem) que Santana Lopes era um mau primeiro-ministro e deveria ser substituído. Fizeram uma campanha inteligente e atingiram o objectivo a que se propunham. Seguiu-se Sócrates, que em ano de eleições autárquicas e referendos começou o mandato a anunciar medidas populistas e populares.
A imprensa e a oposição concederam-lhe o famigerado e tantas vezes reclamado estado de graça, uns porque consideram que o novo PM é melhor que Santana e se sentem de responsáveis pela sua eleição e outros porque estão demasiado desorganizados para dizerem o que quer que seja (PSD e CDS) ou então estão presos às tentativas de acordo com o PS em dossiers-chave (aborto e código de trabalho, BE e CDU).
Sócrates foi directa e publicamente acusado de negócios pouco claros no Freeport de Alcochete e de pagamento de favores eleitorais a Freitas do Amaral e Belmiro de Azevedo. A imprensa ignorou as acusações (que nem sequer foram desmentidas!) e ao segundo dia já não se falava no assunto. Aliás, para Sócrates o simples facto de andar calado já é motivo para elogios ("a inteligente forma como gere a informação"). Quantos primeiros-ministros tiveram direito a um estado de graça desta amplitude?
Não confundamos as coisas: o "estado de graça" que os políticos reclamam (e merecem) é um período durante o qual a sociedade lhes dá o benefício da dúvida e evita a tentação de criticar imediatamente quem está a dar os primeiros passos na governação. O que é muito diferente do actual clima de subserviência (e em alguns casos servilismo) ao governo.
Ou seja, a nulidade da alternativa não deve ser suficiente para se idolatrar alguém. Para se ser o que Sócrates é hoje deveria ser preciso merecê-lo.

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quinta-feira, março 24, 2005

Nos 3 ou 4 países em que a lei dos MNSRM segue o modelo Sócrates-Correia de Campos-Belmiro de Azevedo há alguns estudos científicos curiosos, alguns dos quais só são possíveis de consultar através do site da Ordem dos Farmacêuticos. Aqui ficam os links para os interessados que não se queiram ficar pela leitura do sempre fiiável jornal A Voz do Dono:
- Estudo realizado nos EUA;
- Estudo realizado no Reino Unido;
- Estudo realizado na Austrália;
- Estudo realizado na Escócia.

Nota: o outro país que segue o modelo que Portugal se prepara para adoptar é a Irlanda.

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Ao contrário do que o meu aspecto sereno e ponderado possa fazer parecer, há em mim uma costela de mau feitio no seu estado mais puro. Que muitas vezes se manifesta contra aqueles de quem toda a gente gosta. Estou a escrever isto porque acabei de ouvir uma repórter de TV referir-se aos países nórdicos em geral e à Finlândia em particular como sendo "exemplos a seguir". Sinceramente, os nórdicos sempre me irritaram com a sua assepsia e brancura. São os líderes europeus em taxas de suicídio e consumo não-festivo de álcool. Falam línguas que ninguém percebe, têm temperaturas negativas 9 meses por ano, nunca ganharam uma Liga dos Campeões e não sabem cozinhar. Há alguém que gostasse mais de viver num desses países que em Portugal? se há, boa viagem!!!

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quarta-feira, março 23, 2005

Não tenho qualquer problema em reconhecer que este assunto é o que parece: uma obsessão. Mas cá vai mais um post:

Teorias da Conspiração

Como devem calcular, tenho conversado e trocado mails sobre a proposta de venda de MNSRM nos hospitais com muita gente. Entre defensores e opositores da medida, médicos, farmacêuticos e outras pessoas com ou sem ligações à área da saúde, há pelo menos uma opinião praticamente constante: esta proposta não é o que parece. Todos vêm esta medida como sendo parte de algo maior e ninguém acredita que esta acção governativa se resuma ao ingénuo acto de simplesmente alargar o número de locais em que se podem vender MNSRM. Aqui ficam algumas das teorias da conspiração que ouvi:
- O que Sócrates pretende é negociar com a ANF um atraso de 3 meses no pagamento da dívida do estado às farmácias. Com esse pequeno atraso seria possível reduzir 1% no défice e deste modo cumprir o PEC sem grande esforço;
- As campanhas do PS e PSD foram fortemente financiadas pelos laboratórios farmacêuticos, que se comprometeram a não aumentar os preços dos medicamentos sujeitos a receita médica obrigatória em troca desta medida, que lhes permitirá ganhar receitas por outra via;
- A campanha eleitoral do PS foi financiada por Belmiro de Azevedo, que sabendo do "pó" que Correia de Campos tem à ANF, aproveitou a oportunidade para realizar um sonho antigo e publicamente assumido em várias ocasiões;
- Como vingança pelo caso das farmácias sociais, Correia de Campos pretende liberalizar o mercado das farmácias. No entanto, como sabe que o estado deve demasiado dinheiro às farmácias, tomou esta medida como primeiro passo, em sintonia com Belmiro de Azevedo e outros gigantes da distribuição. Assim, quando as farmácias do Continente, Feira Nova, etc. estiverem no activo, o governo denunciará o acordo com a ANF e os medicamentos sujeitos a receita médica passarão a ser vendidos pelos hipermercados, com os quais se fará um novo acordo;
- Belmiro de Azevedo exigiu ao PS que tomasse esta medida antes de liberalizar a propriedade e instalação de farmácias, pois caso contrário não teria tempo de montar a sua própria rede e as multinacionais tomariam conta do mercado;
- Esta medida foi negociada com a ANF como contrapartida para a manutenção do acordo;
- A ANF está a estimular as gasolineiras a lutarem pela venda de MNSRM como forma de avacalhar a discussão. Os próximos a pedirem autorização para vender estes medicamentos serão os pequenos comerciantes e retalhistas (mercearias, cafés, etc.) e depois virão os clubes de futebol;
- Correia de Campos só aceitou fazer parte do governo depois de obrigar Sócrates a incluir esta medida no discurso de tomada de posse. Trata-se apenas de uma medida esporádica que não vai ter mais consequências e só foi tomada pela necessidade de vingança pessoal de Correia de Campos, que se sentiu humilhado e ridicularizado no caso das farmácias sociais.

Como é óbvio, espero que tudo isto seja mentira!!!

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Há uma frase famosa (cujo autor infelizmente desconheço) que diz mais ou menos o seguinte: "para todos os problemas há sempre uma solução muito simples e provavelmente errada". Parece ser esta a máxima do novo governo, quer com a questão da venda dos medicamentos nos supermercados, quer no caso das férias judiciais.
A opção pela via mais fácil e sobretudo mais populista é uma tentação a que poucos conseguem escapar. Mas um governo recém eleito com maioria absoluta tem legitimidade social para estudar e resolver convenientemente os problemas sem recorrer a expedientes populistas próprios de desesperados políticos.
Sinceramente, o governo Sócrates é uma desilusão em tudo o que é possível falhar ao fim de 10 ou 15 dias:
- Uma tomada de posse com o anúncio de uma medida avulsa, tecnicamente errada e até despropositada;
- A presença no cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros de um homem que, para além de estar sempre ao lado de quem ganha eleições, tornou-se célebre nos últimos tempos pelo radicalismo das suas posições em matéria de política internacional. O cargo de MNE é tradicionalmente ocupado por políticos moderados e de bom senso - Freitas do Amaral não tem sido nada disso;
- A apresentação de um programa de governo vago e copiado quase sem alterações do programa eleitoral. Poder-se-á questionar se é legítimo que um programa eleitoral seja vago e generalista (eu acho que sim). Mas não é aceitável que o programa de governo não o concretize , mas apenas o prolongue no tempo;
- A diminuição das férias judiciais é outro fogacho isolado e sem sequência com qualquer plano global de aceleração do funcionamento da justiça - o anúncio desta medida foi mais uma vez extemporâneo e descontextualizado;
- A marcação de datas para referendos, embora necessária, não chega como resumo dos actos e propostas concretas de um governo...

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terça-feira, março 22, 2005

Sabia que José Mourinho já foi suplente do Rio Ave?

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Junto-me ao meu amigo Boticário na divulgação da petição anti-Bolkestein. Esta é uma decisão que não precisa de unanimidade para ser aprovada e leva o liberalismo desregulado ao seu extremo mais radical, mais até que nos EUA, em que os diferentes estados possuem mecanismos de defesa e leis próprias. De um modo resumido, pode dizer-se que a proposta Bolkestein defende que todos os serviços são iguais, independentemente da sua natureza (por exemplo, também para Bolkestein, saúde e supermercados serão a mesma coisa) e que cada prestador de serviços deverá regular-se apenas pela legislação do país de origem. Ou seja, basta aos empresários sediarem-se no país de legislação mais liberal para poderem actuar livremente em todo o mercado europeu. É o fim da regulação individual pelos estados. Com esta lei, Belmiro nem sequer precisaria de Sócrates ou Correia de Campos.
Podem saber mais sobre esta questão e assinar a petição aqui.

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Não vi a totalidade do "Prós e Contras" de ontem. Mas vi o suficiente para assistir à forma como o Prof. Francisco Batel Marques trucidou intelectualmente os que defendem a ideia de Sócrates. Embora não sirvam para quase nada, as vitórias morais têm pelo menos a dupla vantagem de deixar contentes os vencedores e tristes os derrotados (moralmente falando), o que nos dias que correm já não é nada mau. E eu sei que para indivíduos como Correia de Campos isso é particularmente irritante.
Pelo menos penso que ficou claro algo que já há alguns dias venho defendendo neste blogue: hoje já ninguém duvida que esta medida não é algo que visa melhorar o sistema nacional de saúde, mas apenas um castigo a toda a classe farmacêutica, motivado pela existência de uma lei que apenas beneficia uma pequena parte dos farmacêuticos. Apesar das consequências, a punição é considerada necessária e justa...

PS - Foi penoso ver o grau de ignorância de alguns dos participantes no debate (enfiem a carapuça em quem quiserem...). Eu não teria coragem de ir para a televisão participar numa discussão sobre um assunto sobre o qual soubesse tão pouco... Foi também engraçado ver a forma como, já no final da discussão, alguns dos "painelistas" usavam argumentos que lhes eram desfavoráveis como se eles jogassem a seu favor. Atingiram-se os limites da esquizofrenia quando Miguel Gouveia disse que um dos argumentos para vender MNSRM nos supermercados era o facto do mercado português destes medicamentos ser de 8%, quando a média europeia é de 14%... ou seja, o aumento do consumo de MNSRM é visto como algo de desejável, talvez até como um indicador de desenvolvimento de um país!!! Ou quando Miguel Oliveira e Silva disse que os tais 8% eram "em número de embalagens", tentando insinuar que se fosse em valor económico essa percentagem aumentaria, o que não é verdade! Enfim, são só alguns exemplos do estilo argumentativo de pessoas que passaram duas horas a dizer coisas do género: o Sporting marcou dois golos e o FCP nenhum, por isso o FCP ganhou o jogo... Hã?!

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segunda-feira, março 21, 2005

Novas Fronteiras

Factos interessantes que se passaram nos últimos dias, enquanto neste blogue se discutiam assuntos que só parecem preocupar o seu autor e mais meia dúzia de líricos. Aqui ficam, por ordem de relevância para o país:
- Finalmente o Benfica vai ser campeão. Como sportinguista não consigo deixar de ter alguns maus fígados em relação a este facto, sobretudo porque o jejum vermelho foi mais curto que aquele pelo qual eu tive que passar entre os 6 e os 24 anos...
- Começou a nova edição da Quinta das Celebridades. Para além do habitual leque de actores/apresentadores de televisão/vedetas do jet set/cantores desconhecidos e/ou decadentes, o novo programa oferece-nos como atracção principal a presença de uma transsexual (a filha do Nené) e de um galã reformado (o Capitão Roby). A não perder.
- O Beira-Mar e a minha Académica preparam-se para descer de divisão. Com tanto clube nortenho daqueles que dão 6 pontos por campeonato ao FCP, tinham que ser logo estes!
- José Sócrates e o seu governo silencioso apresentaram o programa de governo, com mais uma proposta concreta: o fim das férias judiciais. Com esta, já são duas as ideias produzidas pelo novo governo.

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sexta-feira, março 18, 2005

Afinal os supermercadistas são apenas pessoas que queriam castigar a ANF pelo monopólio. Pena é que tenham defendido publicamente medidas com as quais pelos vistos nem sequer concordam muito e que com isso tenham incendiado a sociedade contra toda uma classe profissional. Para já não falar das consequências para a saúde pública desta vingançazinha intelectual, que afinal até veio com o bónus de beneficiar o amigo Belmiro, que deste modo fica com o caminho pré-aberto para a construção da sua rede de farmácias (ao contrário do que sucederia se se optasse pela liberalização imediata da propriedade e instalação)...

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Só ontem é que o vi. Fiquei esmagado. Posted by Hello

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quinta-feira, março 17, 2005


Paulo Mendo (ex-Ministro da Saúde) tem, no Primeiro de Janeiro, uma das poucas posições públicas racionais sobre o caso da ida dos medicamentos para o saco das compras. Posted by Hello

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quarta-feira, março 16, 2005

E esta, hein?

Ordem dos Médicos critica venda de MNSRM nas bombas de gasolina.

Já agora porque não fornecer a lista de supermercados "idóneos" para o efeito... ou será mais fácil procurá-la aqui? Pode ser que o jornal A Voz do Dono a publique brevemente!

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A questão das farmácias - mentiras e enganos mais comuns

- José Sócrates e Correia de Campos não tiveram "um acto corajoso que enfrentou lobbies instalados na nossa sociedade". Simplesmente beliscaram o lobby das farmácias e favoreceram o lobby dos supermercados e laboratórios produtores de MNSRM. Se realmente quisessem fazer qualquer coisa contra o lobby das farmácias, bastaria que liberalizassem a sua instalação. O problema é que neste caso não seriam os supermercados a ficar com elas... Ou seja, este espectáculo mediático tem muito pouco de ousadia e nada de luta contra interesses instalados. Não deixa de ser curioso que ainda não tenha havido qualquer desmentido em relação às acusações de estarmos perante uma compensação pelo financiamento eleitoral da Sonae ao PS...
- A lei obriga a que o preço dos MNSRM seja marcado pelos laboratórios fabricantes e não pelas farmácias. Ou seja, se não existir um aumento do consumo destes medicamentos, não haverá qualquer razão para que os seus fabricantes acedam a baixar o preço pelo facto destes se encontrarem à venda nos supermercados, bombas de gasolina ou onde quer que seja;
- A venda de medicamentos nos supermercados, nos moldes em que se tem falado nos últimos dias, só existe no Reino Unido, Irlanda e Estados Unidos. No resto da Europa a legislação é semelhante à que ainda existe em Portugal;
- Há vários estudos epidemiologicamente sérios que demonstram de uma forma cabal as consequências para a saúde pública desta medida e que nos próximos dias serão provavelmente divulgados;
- Os jovens farmacêuticos e os estudantes de Ciências Farmacêuticas, cuja empregabilidade tem sido utilizada como argumento dos que defendem esta ideia, também a têm criticado fortemente;
- Esta não é uma medida que afecte de forma significativa o volume de negócios da maioria das farmácias. Ao contrário do que a contra-informação organizada tem feito publicar nos jornais, o mercado nacional de MNSRM corresponde apenas a cerca de 8% do total de medicamentos de uso humano. Esta é muito mais uma questão de princípios do que uma mera disputa monetária. E é também por isso que a esmagadora dos farmacêuticos, independentemente de serem ou não proprietários de farmácias, critica esta medida.

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terça-feira, março 15, 2005

Quando se ataca um lobby para favorecer 2 ou 3 (supermercados, gasolineiros, laboratórios produtores de MNSRM) não se está a ser corajoso. Está-se a fazer espectáculo.

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Portugal de Correia de Campos, 15 de Março de 2007

- Boa tarde, Sr. Martins.
- Boa tarde, Sôtôr. É prá atestar de sem chumbo 95.
- Muito bem, Sr. Martins. E a sua coluna, como vai? Tomou aqueles comprimidinhos que lhe recomendei ontem?
- Tomei, sim senhor. Aliás, tomei os que o sôtôr me vendeu ontem, mas como a dor não passava fui às bombas lá de baixo, que estavam de serviço ontem à noite, e comprei mais 12 caixas diferentes, todas daquele parece-que-é-tã-mole ou coisa que o valha, e tomei um comprimidinho de cada uma... vomitei um bocadito, mas as costas pararam de me doer...
- Realmente isto agora é muito mais fácil... olhe se o Sr. Ministro não tivesse mudado a lei... se calhar ainda agora lhe doiam as costas! E o óleo, como está? Quer que lhe veja os níveis?
- Não é preciso, sôtôr. Deixe lá isso. Quanto é?
- São 50 euros, Sr. Martins. E fica com 3765 pontos no seu cartão.
- Então se calhar vou aproveitar para os trocar: olhe, dê-me mais 5 caixas da pírula do dia seguinte, daquelas que eu costumo levar, que assim já fico aviado para toda a família - a minha mais nova agora anda a namorar e eu faço questão que ela tome uma todos os domingos de manhã, senão depois quem tem que os criar sou eu!
- Ora aqui estão elas. Muito obrigado, Sr. Martins. Ficou com 265 pontos.

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segunda-feira, março 14, 2005

Ainda as farmácias

Numa análise rápida e superficial pela blogosfera, vejo que as reacções à lei variam entre a ingenuidade dos que baralham tudo (e misturam a venda nos supermercados com a liberalização da instalação ou com a liberalização da propriedade, que são três coisas completamente diferentes), a habitual boa disposição dos que gozam com a situação e os que usam argumentos que me dão náuseas (sinceramente, dêem-me o nome de um só farmacêutico que esteja satisfeito com esta medida!).
É interessante a reacção prudente da ANF, claramente a tentar controlar os estragos. Não acredito que o consiga.

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A vingança serviu-se fria

Como é fácil de adivinhar, fiquei em estado de choque com o anúncio da passagem da venda de medicamentos não sujeitos a receita médica das farmácias para "outros estabelecimentos que não farmácias". Trata-se de uma medida completamente despropositada, tecnicamente errada e politicamente miserável, pelas razões que passarei a expor.
A ideia é completamente despropositada porque não há nenhuma boa razão para retirar esses medicamentos das farmácias:
- Não existem problemas de acessibilidade às farmácias (que estão abertas 24 horas e existem em todo o país, ao contrário, por exemplo, das grandes superfícies...);
- A lei obriga a que os preços desses medicamentos sejam marcados pelos seus fabricantes e não pelas farmácias, pelo que mesmo que a sua venda seja feita noutros locais, o preço ao público será o mesmo - a única diferença será provavelmente na muito maior margem de lucro que os grandes grupos conseguirão negociar com os laboratórios e que as pequenas farmácias não conseguem;
- Em Portugal não há problemas de acesso ao medicamento. Os mesmos medicamentos existem nas mesmas quantidades e ao mesmo preço em todo o país, 24 horas por dia, 365 dias por ano. Somos (éramos?) considerados um dos países europeus mais avançados nesta área. Os problemas do sector da saúde em Portugal não têm nada a ver com a possibilidade de se encaixar mais meia dúzia de aspirinas no meio dos sacos de arroz, fruta, bifes ou papel higiénico. Estudos recentes demonstram que o grau de satisfação da população com os serviços prestados pelas farmácias ronda os 95%.
Ou seja, não havia uma necessidade de uma medida como esta no nosso sistema de saúde.
Para além disso, esta medida é tecnicamente errada porque:
- Ao contrário da ideia que alguns têm tentado fazer passar, a venda de medicamentos não sujeitos a receita médica fora das farmácias não existe "em todos os países desenvolvidos". Aliás, antes pelo contrário: as excepções são os EUA (reconhecidamente um dos piores sistemas de saúde do mundo...) e o Reino Unido. No resto da Europa a legislação é semelhante à portuguesa. E nos países em que se vendem medicamentos nos supermercados existem vários estudos científicos sérios que demonstram o que intuitivamente todos os que trabalham na área da saúde sabem ser óbvio e inevitável: o uso inadequado de medicamentos não sujeitos a receita médica é um problema de saúde pública, com graves consequências quer para os doentes individualmente, quer para o próprio sistema nacional de saúde, que depois gasta mais alguns milhõezitos de euros a tratar todas essas doenças iatrogénicas. Ou seja, estamos a importar um problema de saúde que em Portugal tinha até agora pouca expressão;
- Esta medida não representa qualquer poupança para o estado: os medicamentos em causa não são comparticipados e o seu pagamento é feito integralmente pelos utentes.
Ou seja, não há uma razão técnica que possa justificar esta lei.
Por último, o carácter politicamente miserável deste acto:
- O principal motivo porque o povo português deu a José Sócrates o poder absoluto foi a saturação da política de soundbytes e medidas avulsas de Santana Lopes. E começar o mandato desta forma é um péssimo sinal: Sócrates não falou de medidas globais para resolver os problemas do crescimento da despesa do estado com a saúde, das listas de espera nos hospitais e centros de saúde, da falta de médicos, etc. Simplesmente atirou para o ar uma "balela" para distrair a opinião pública, ganhar popularidade, dar imagem de "político que enfrenta os interesses corporativistas" e não resolver problema nenhum. Ou seja, Sócrates começa o mandato a fazer precisamente o mesmo tipo de actos que custaram o despedimento ao seu antecessor...
- Para quem acompanha de perto as questões das políticas de saúde uma medida como esta não é, de modo algum, uma surpresa, sobretudo depois que se soube o nome do ministro da saúde. Correia de Campos tinha sido o pai da peregrina e ridícula ideia das "farmácias sociais", a que a ANF erradamente reagiu de uma forma que, embora fosse totalmente legítima, era claramente demasiado agressiva e impetuosa. O PS perdeu as eleições, a questão saiu dos jornais com a concessão de algumas farmácias às misericórdias e nunca mais ninguém falou no assunto. Mas ficou o rancor pessoal de Correia de Campos, reconhecidamente um grande especialista na área da Economia da Saúde, que havia sido publicamente ridicularizado pela ANF. Ao chegar ao poder, Correia de Campos induz Sócrates a tomar uma medida que ele sabe perfeitamente que não vai resolver nada e que visa apenas ajustar contas com o seu passado recente. Depois de termos tido um ministro que foi demitido por mudar a lei para que a filha dum colega entrasse na universidade, temos agora outro ministro que muda a lei para se vingar pessoalmente de toda uma classe profissional (sim, porque isto não afecta apenas os farmacêuticos proprietários de farmácias), num acto que ainda por cima terá consequências negativas para a saúde pública. Para estes senhores, a lei é um mero objecto do qual eles se podem servir para resolver os seus problemas pessoais - a esquizofrenia do poder na sua versão mais crua.
Para concluir, as consequências de tudo isto:
- Em termos imediatos, as farmácias serão muito pouco afectadas por esta medida. Os medicamentos não sujeitos a receita médica representam cerca de 8% do total de vendas das farmácias. Mesmo que se percam 4 ou 5% destes para outras superfícies, os valores serão negligenciáveis, sobretudo se comparados com o crescimento anual de 12% ao ano dos medicamentos sujeitos a receita médica, "herdados" da aplicação das leis de Luís Filipe Pereira;
- Uma das questões que está realmente em causa com este disparate legislativo é o prestígio da profissão farmacêutica, que arde em fogo lento em fóruns TSF e artigos de jornal. Os farmacêuticos têm uma licenciatura de 5 anos mais 6 meses de estágio com um grau de especialização e conhecimento sobre medicamentos muitíssimo mais evoluído e complexo que os proporcionados por qualquer outra licenciatura e sinceramente não mereciam, enquanto classe, esta falta de respeito. Sinceramente, é isto que me custa mais: Correia de Campos quis vingar-se de alguns farmacêuticos proprietários de farmácias e acabou por iniciar uma autêntica vaga de fundo contra uma classe profissional, a qual está a ser miseravelmente aproveitada por outros intervenientes com interesses no sector;
- Tal como disse atrás, não acredito que Correia de Campos seja tão ingénuo como poderia parecer a partir da simples análise avulsa desta medida. O que verdadeiramente se está a pretender desencadear é um processo de liberalização selvagem do mercado das farmácias, com a inevitável invasão do sector pelas multinacionais que já operam noutros países, cuja análise deixarei para outra oportunidade. No entanto, não deixa de ser irónico que um governo de um partido supostamente esquerdista como o PS acabe por ser o responsável pela medida mais neoliberal dos últimos tempos no sector da saúde!

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domingo, março 06, 2005


Este blogue vai estar inactivo durante uma semana. No entanto, a secção de comentários estará (como sempre) à disposição dos interessados... Posted by Hello

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sábado, março 05, 2005


Novo Governo

O currículo da maioria dos novos governantes é de facto impressionante... no entanto, há um que está precisamente no sítio onde menos deveria estar (o CDS tem toda a razão... entre Freitas e Louçã não há actualmente grandes diferenças em termos de política externa!).
No entanto, e apesar desta antipatia congénita, acho que estão reunidas as condições para que tudo corra bem. Aliás, arrisco-me a dizer que há mais de 10 anos que não existia uma oportunidade destas.
Posted by Hello

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sexta-feira, março 04, 2005

Retirado do Pé de Meia:

Eleições à americana...

Círculo da Emigração (Europa + Fora da Europa)
PS - 15.833 votos------------------1 mandato
PSD- 14.011 votos------------------3 mandatos

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quinta-feira, março 03, 2005


Esta fotografia do autor deste blogue não é uma montagem, mas apenas o momento em que decidi aterrar num belo jardim relvado da Europa central. Felizmente que naquela zona não havia kryptonite.
Estou a aprender a colocar fotografias no Estarreja Efervescente e este é obviamente um teste. Posted by Hello

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quarta-feira, março 02, 2005

Hã?!!!!

Ouvi hoje na rádio (provavelmente na TSF) que as portagens vão aumentar novamente, desta vez para financiar a descida do valor destas taxas para os monovolumes e jipes!!! Muito sinceramente, estou absolutamente chocado quer com o pós-eleitoralismo cobarde, quer com o carácter intrinsecamente idiota desta medida (quem terá sido o seu "brilhante" autor? eu cá aposto no António Mexia... mesmo no governo Santana poucos políticos possuem uma tão grande estreiteza de vistas!). Desta ideia absurda, resulta que:
1 - Afinal a descida de preços para os monovolumes e jipes não é tão grande como antes se anunciara... caso isto vá para a frente, estes nunca chegarão a beneficiar dos preços actualmente existentes para os veículos de "classe 1", tal como seria legítimo esperar a partir dos anúncios que o (ainda) governo-pimba tão insistentemente propagandeou;
2- Em segundo lugar, é absolutamente ilegítimo que sejam os outros automobilistas a financiar uma medida à qual eles são totalmente estranhos: a presença de jipes e monovolumes nas estradas não só não traz qualquer benefício para os outros carros, como não tem qualquer efeito sobre os custos para a Brisa da sua passagem;
3 - É legítimo dizer que a Brisa andava há alguns anos a cobrar indevidamente valores excessivos aos donos de jipes e monovolumes. Tenho a certeza que se se fizesse um estudo estatístico sério seria facilmente verificável que o número médio de passageiros destas viaturas é muito semelhante aos dos ligeiros de 5 lugares... ou seja, a lógica do "pagam mais porque levam mais gente" não faz sentido neste caso. Aliás, se fosse este o argumento, então os carros ligeiros comerciais de 2 lugares também deveriam pagar menos!
4 - Os jipes e monovolumes circulam a velocidades semelhantes às dos automóveis ligeiros de passageiros, pelo que o argumento de "empatar o trânsito", que até pode ser válido para camiões e autocarros, neste caso não se aplica;
5- Os jipes e monovolumes são veículos que, de um modo geral, consomem mais combustível que os outros e portanto são mais prejudiciais ao ambiente (nos EUA há mesmo um enorme debate sobre o disparate de gasto de combustível de alguns SUVs). Ou seja, a promoção do uso de jipes e monovolumes é uma medida ambientalmente errada;
6 - Os jipes e monovolumes são normalmente veículos de luxo, com custos médios bastante superiores aos custos médios dos ligeiros de passageiros normais. O que quer dizer que os proprietários dos primeiros em princípio teriam dinheiro mais do que suficiente para poder pagar as portagens mais caras... não é aceitável que a sociedade em geral esteja a ser penalizada para financiar os benefícios de um pequeno grupo de indivíduos cuja riqueza média está provavelmente bem acima da média nacional!!!
7 - O único argumento segundo o qual esta medida poderia ser minimamente aceitável é o do apoio a famílias numerosas... mas nesse caso não seria mais fácil uma aplicação de descontos através da via verde a quem provar estar em condições de os merecer? Ou será que as "discriminações positivas" por esta via só servem quando se pretende argumentar a favor da inclusão de portagens nas SCUTs?

Para terminar, aqui fica uma sugestão para o próximo Ministro dos Transportes: a revogação imediata deste aumento de portagens.

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terça-feira, março 01, 2005

A Caça

Na zona central da pacata aldeia de Canelas, no concelho de Estarreja podem-se ver, penduradas em alguns postes uma série de pequenas placas que dizem "zona municipal de caça". As placas estão colocadas num local (junto à rua da Teixeira, para os que o conhecem) rodeado de casas e estradas por todos os lados (a 5 metros da EN109, por exemplo...) e sem qualquer área descampada num raio de pelo menos 4 ou 5 km... ou seja, a tal zona de caça é mesmo ali, no meio da povoação!
Intrigado com este facto e temendo pela eventual existência de snipers naquela a que já há quem chame "a Sarajevo de Estarreja", aproveitei o meu cargo de deputado municipal (tão municipal como a placa...) para colocar a questão na última Assembleia Municipal. Foi uma oportunidade para o Presidente da Câmara brilhar. Ficámos todos a saber que o Dr. José Eduardo de Matos já anda a lutar contra as referidas placas e a própria existência da "zona municipal de caça" pelo menos desde Agosto de 2004. Essa região demarcada pelos vistos foi criada directamente a partir do confortável gabinete lisboeta de algum assessor do assessor do assessor do assessor do assessor de um qualquer alto funcionário do Ministério da Agricultura provavelmente pago a peso de ouro às custas dos nossos impostos e está sob a gestão do Clube de Caçadores de Avanca. Ou seja, apesar da palavra "municipal", a Câmara não tem voto na matéria. O Dr. José Eduardo já escreveu uma dúzia de cartas para tudo quanto é lado e as respostas consistiram apenas no habitual jogo de empurra da administração pública...
Se a própria existência de uma "zona de caça municipal" já me provoca algumas náuseas, que dizer quando essa área fica situada no centro de uma freguesia e no meio das casas e quintais das pessoas...
Bem, fica pelo menos o aviso à navegação: na época de caça, é legal andar aos tiros pelas ruas de Canelas. O Estarreja Efervescente recomenda o recurso a carros blindados e a utilização de coletes à prova de bala, pelo menos enquanto o assessor do assessor do assessor do assessor do gajo que assinou de cruz este disparate não seja substituído por outro assessor do assessor do assessor do assessor de alguém do Ministério da Agricultura, que pelo menos seja um bocadinho mais competente. Ou então, até que a caça seja finalmente proibida em Portugal, à semelhança do que os ingleses fizeram (e muitíssimo bem) à caça à raposa!!!

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