quinta-feira, setembro 30, 2004
COMUNICADO À IMPRENSA
861º. ANIVERSÁRIO DE PORTUGAL
Em 5 de Outubro de 1143 NASCEU PORTUGAL!
Na verdade, é em 5 de Outubro de 1143, com o Tratado de Zamora e na presença do Legado Pontifício, Cardeal Guido de Vico, que D. Afonso VII de Leão reconhece a existência de um novo Estado, PORTUGAL.
Esta declaração de PORTUGAL como REINO INDEPENDENTE infelizmente não é comemorada oficialmente no próprio País.
PORTUGAL deve ser o único País do Mundo que não celebra oficialmente a data da sua INDEPENDÊNCIA.
As Autoridades Oficiais Portuguesas têm preferido comemorar as datas de acidentais alterações do regime, que simbolizam sobretudo revoluções fratricidas entre Portugueses.
É o caso do "5 de OUTUBRO":
Oficialmente é comemorada apenas a revolução de 1910, que opôs Portugueses a Portugueses e que teve como acto preparatório o assassinato do (então) CHEFE de ESTADO (que era o Rei D. Carlos), ignorando as actuais Autoridades Oficiais a celebração do ANIVERSÁRIO do NASCIMENTO de Portugal, como ESTADO-NAÇÃO.
Discordando frontal e veementemente desta valoração das datas históricas por parte das Autoridades Oficiais, a REAL ASSOCIAÇÃO DE COIMBRA tem comemorado em cada "5 de OUTUBRO" o ANIVERSÁRIO da FUNDAÇÃO da NACIONALIDADE, mandando celebrar na Igreja de SANTA CRUZ, em Coimbra, MISSA sufragando a alma do Rei Fundador e dos seus Descendentes.
Duas notícias que esta semana vi na Sic Notícias:
1. Resposta do bispo do Funchal à proposta da JSD local de distribuição de preservativos nas escolas:
"há ocasiões muito, muito específicas em que o preservativo pode ter que ser usado. Mas nunca por jovens!"
2. Hoje (4ª feira) de manhã, a notícia de que o bispo de Leiria ia ser substituído porque havia recebido o Dalai Lama em Fátima!
terça-feira, setembro 28, 2004
Acabei de ouvir na Rádio Voz da Ria a reportagem sobre a Assembleia Municipal de ontem. Classifico-a só com uma palavra: subserviência. A RVR passou intervenções do Presidente da Câmara, Dr. José Eduardo de Matos, do Presidente da AM, Dr. Carlos Tavares e dos deputados municipais da coligação PSD/PP Vitor Ramos e Paulo Vigário. Da bancada do PS, nem uma citação a qualquer um dos 8 deputados que intervieram na sessão:
- Duarte Drummond Esmeraldo;
- José Artur Pinho;
- José Alberto Figueiredo;
- Manuel Júlio dos Santos;
- Carolina Pinho;
- Aleixo Patinha;
- Pedro Vaz;
- ...e eu próprio.
Há bastante tempo que não se via nada assim. De onde virá esta censura?
PS - a RVR passou um pequeno excerto de uma pequena intervenção do ex-presidente da CME, que nem sequer faz parte da Assembleia Municipal. Será esta a sua noção de independência?
Director's Cut de uma intervenção que nunca chegou a acontecer
Terminei a Assembleia Municipal de ontem à noite com a convicção de que esta me havia corrido bastante mal. Contudo, ao analisar o sucedido com a calma proporcionada por umas repousantes 4 ou 5 horas de sono, já não penso assim. Mas vamos lá contar o que aconteceu:
Tal como há dias havia anunciado neste blogue, fui à AM com a intenção de expor publicamente a minha opinião sobre a opção tomada pela CME em relação ao modelo de gestão do parque eco-empresarial. Preparei uma intervenção que deveria durar entre 9 e 10 minutos (pelo menos os ensaios que fiz antes da AM assim o indicavam) e dirigi-me ao púlpito quando o meu grupo parlamentar já tinha gasto quase 3 dos 30 (ou 35?) minutos a que tinha direito. Foi um caos. Fui interrompido pelo Dr. Carlos Tavares, Presidente da AM de Estarreja, por 4 ou 5 vezes (talvez mais) durante a minha intervenção, que para além destes cortes de palavra, foi feita também sob um intenso fogo cruzado de bocas laterais, que o Sr. Presidente da AM não teve qualquer preocupação em conter (antes pelo contrário: por diversas vezes fez parte do coro). Para além disso, nas diversas interrupções de que fui vítima, fui directamente acusado de falta de honestidade intelectual, impreparação, de estar a fazer chicana política, de estar a repetir intervenções anteriores, de desrespeito pela Assembleia, de estar a exceder o tempo disponível para o meu grupo, de ser mal intencionado, etc.
Mesmo nestas condições tão adversas, lá disse pelo menos parte do que tinha para dizer e lancei algumas questões bastante directas ao plenário. Quando para alívio de toda aquela onda de indignação me voltei a sentar no meu lugar, verifiquei com espanto que o grupo do PS ainda dispunha de cerca de 15 minutos para intervir, apesar dos largos minutos gastos a responder ao lamentável massacre interruptor a que tinha acabado de estar sujeito! Enfim, a intenção era mesmo calar-me e as referências à justiça cronométrica tinham sido apenas o pretexto encontrado naquele momento.
Alguns dos deputados municipais do PSD juntaram-se ao Dr. Carlos Tavares no coro das acusações atrás referidas e apenas duas pessoas responderam a parte das questões por mim colocadas: o deputado Vitor Ramos, do CDS e o próprio Presidente da CME, Dr. José Eduardo de Matos, embora este com uma dispensável (e previsível...) boca de ocasião que me obrigou a defender a honra. No entanto, e apesar das circuntâncias, tenho que agradecer a estas duas personalidades a consideração intelectual que tiveram para com o meu discurso, que os outros decidiram simplesmente ou ignorar ou tratar com paternalismo e arrogância.
Apesar de tudo, quando hoje olho para o que ontem sucedeu na AM, vejo que acabei por atingir alguns dos meus objectivos iniciais:
- A proposta da CME não passou incólume e sinto que contribui para isso;
- A reacção desproporcional e até intempestiva do habitualmente sereno Presidente da AM é sem dúvida reveladora de algum desconforto com as questões colocadas;
- Ficou claro que em Estarreja há quem não concorde com esta medida.
Penso que falhei ao não conseguir fazer com que os responsáveis camarários respondessem directamente a duas questões:
- Porque razão é impossível a separação entre a propriedade da sociedade gestora do parque e a gestão operacional do mesmo;
- Qual a real medida do sacrifício para o nosso concelho que a adesão às ALE representa.
De qualquer modo, não deixa de ser curioso que perante tantas questões directamente colocadas, apenas uma pequena parte delas tenham merecido resposta da CME e do Sr. Presidente da AM, sobretudo se se recordar que ambos não se mostraram tão poupados nas palavras quando me atacaram pessoalmente a propósito da mesma intervenção!
Penso que a AM de ontem foi decisiva para o futuro de Estarreja. A decisão tomada pelo CDS e PSD foi extremamente ousada e muito arriscada. Oxalá que ninguém se arrependa do que votou ontem.
Aqui fica a versão integral do texto que serviria de base à intervenção que eu não cheguei a fazer. Obviamente não era minha intenção dizer tudo o que aqui está, mas apenas o que na altura me parecia relevante e tinha lógica para o debate. De qualquer modo, para quem se quiser dar ao trabalho de ler, cá está ela:
A discussão em torno do modelo de gestão do futuro parque industrial de Estarreja atingiu um ponto crítico. Penso que neste momento não vale a pena perder muito tempo a discutir a forma como se chegou a esta fase, independentemente de se concordar ou não com o modo como o processo foi gerido. No entanto, há um aspecto que importa salientar e criticar: a Assembleia Municipal de Estarreja, no início deste mandato, fez uma reunião extraordinária para debater ideias relativas à construção e gestão do futuro parque. Esse debate foi feito porque esta era considerada uma questão essencial ao desenvolvimento de Estarreja e o próprio executivo camarário na altura considerou que a troca de ideias havia sido proveitosa e construtiva, um comentário com que certamente todos estaremos de acordo. Mal sabíamos nós que essa era a última vez que a Assembleia Municipal iria ser chamada a opinar sobre esta questão. Mal imaginávamos nós que a referida reunião tinha sido a excepção que confirmaria a regra depois verificada de profundo secretismo em toda esta matéria, até que há poucos dias o executivo camarário confirmasse aquilo que há muito se temia, mas que até agora nunca havia sido assumido: a CME prepara-se para abdicar do seu parque eco-empresarial a favor da API, numa decisão unilateral, ultra-reservada e definitiva, em relação à qual não parece existir qualquer hipótese de recurso.
De facto, tal como por já aconteceu em diversas outras ocasiões, estamos aqui hoje reunidos para ratificar um facto consumado e não para um verdadeiro debate sobre este tema. Os deputados da oposição, escudados na sua minoria absoluta, têm a tarefa facilitada: podem votar de acordo com a sua consciência, pois a responsabilidade de dar ou não seguimento a esta proposta cabe aos partidos que actualmente ocupam o poder, pois o número de votos que estes possuem é suficiente para determinar qualquer decisão. No entanto, a decisão que os deputados do PSD e do PP hoje enfrentam não é fácil: o executivo camarário colocou esta Assembleia perante a escolha entre um acordo em que se oferece o nosso parque industrial à API e o vazio. Ou a API, ou nada, diz a Câmara. Eu digo que o vazio imediato é preferível à solução apresentada pela CME, e seguidamente irei explicar porquê. No entanto, nas bancadas do PP e PSD a questão é diferente: se os deputados não concordarem com esta proposta, serão vistos como uma força de bloqueio ao trabalho da CME e este facto será especialmente grave, pois estes partidos nunca apresentaram outra solução para esta matéria, ao contrário do que acontece com o grupo do PS. Ou seja, ironicamente a inércia camarária ao não propor uma alternativa a este modelo de gestão funciona perversamente como principal garantia da aprovação do mesmo!
Mas vamos a factos:
A CME propõe-se constituir uma sociedade gestora para o parque eco-empresarial em que abdica de 59% da sua propriedade a favor de outras instituições, das quais se destaca a API, que será a feliz proprietária de 51% do ainda nosso parque eco-empresarial. A pergunta que imediatamente surge é óbvia: porquê? Vamos analisar os argumentos até agora conhecidos:
1. A CME considera-se incompetente para gerir o parque.
Em relação a este argumento, pouco haverá a dizer: se uma pessoa se considera incapaz de desempenhar uma tarefa, não serão os outros que a poderão obrigar a executá-la. Isto seria muito lógico e aceitável se não estivéssemos a falar de uma Câmara Municipal, gerida por pessoas eleitas pelo povo precisamente com essa finalidade. Ou seja, este argumento não vale: se a CME é incompetente para desempenhar as suas funções, então a solução legítima do ponto de vista democrático não seria oferecer o património municipal a outra entidade teoricamente mais competente, mas sim submeter o caso ao desígnio popular, ou através de novas eleições, ou de um referendo municipal. Como não me parece que o actual executivo esteja a pensar na demissão e o tempo de preparação de um referendo faria com que este quase que coincidisse com as próximas eleições autárquicas, é óbvio que as coisas ficarão na mesma. No entanto, o argumento da auto-proclamada incompetência camarária não serve para justificar esta decisão. Poderia servir para uma qualquer forma de subcontratação de um serviço, mas nunca para uma abdicação de património municipal!
A CME considera que a APIPARQUES possui a competência e experiência necessárias para gerir o futuro eco-parque.
Neste ponto as coisas passam a ficar mais turvas: por um lado, não se percebe onde é que a APIPARQUES, uma empresa constituída recentemente, reúne uma experiência tão vasta que justifique esta tão grande prova de confiança. No entanto, vamos admitir que o facto da APIPARQUES ser a herdeira do extinto IPE nesta área é suficiente para sustentar esta afirmação. E vamos também admitir que a APIPARQUES possui o know-how necessário para implementar o primeiro eco-parque português. Mesmo perante este cenário, há várias e legítimas questões que se devem colocar:
o A APIPARQUES é a única empresa portuguesa com conhecimentos nesta área?
o As funções de gestão de um parque eco-empresarial são indissociáveis da propriedade do mesmo?
o Não seria mais transparente abrir-se um concurso público para decidir, mediante critérios claros e objectivos, qual a empresa mais qualificada para ajudar a CME a viver com a sua auto-proclamada incompetência?
A APIPARQUES é uma empresa que pertence ao sector empresarial do estado, que é precisamente o facto que deixa os estarrejenses mais preocupados. Será que a CME, que em alguns cartazes gosta de propagandear ao mundo os 50 anos de resíduos químicos que poluem as nossas águas e terrenos, não se recorda que esse facto em muito se deve à actuação irresponsável de várias empresas públicas? Será que a CME não se recorda que a Quimiparque e a sua gestão conservadora e castradora sempre foi um dos principais problemas do desenvolvimento industrial do nosso concelho? Por outras palavras, em Estarreja o sector empresarial do Estado sempre foi parte do problema e nunca parte da solução para o nosso desenvolvimento. É uma medida muito temerária voltar a confiar no estado depois de tudo o que já sofremos em Estarreja. Por tudo o que já nos fez, o estado português não merece a oferta que a CME lhe está neste momento a dar. É como se o credor estivesse a pagar a dívida ao caloteiro!
Outro dos problemas das empresas públicas é a instabilidade da sua propriedade. Veja-se o caso concreto da Quimiparque, que pertencia ao IPE. Quando o IPE foi desmembrado e algumas das suas empresas se encaminham para a privatização, ninguém sabia muito bem o que iria acontecer à Quimiparque, que pelos vistos foi entregue à API. Ou seja, estamos a falar de empresas que tanto são privatizadas como transferidas dentro da esfera pública com uma enorme leveza, sem que para isso o estado precise de dar satisfações a quem quer que seja. É nesta instabilidade que queremos alicerçar o nosso desenvolvimento económico? E se a APIPARQUES um dia for privatizada? Ficará o nosso concelho nas mãos de uma qualquer família Mello, Champallimaud ou Bin Laden? Não seria mais prudente manter a CME proprietária de pelo menos 51% da sociedade gestora? Para quê correr este risco?
A CME diz que a cedência de 51% do parque à APIPARQUES é uma condição legalmente exigida para que se possa criar uma ALE em Estarreja.
Ora aqui está outro argumento que me parece lamentável. Em primeiro lugar, porque o conjunto de benefícios que as ALE têm para oferecer não pode, de modo algum, ser algo de exclusivo para um grupo de empresas ou cidadãos. O estado não tem legitimidade para tratar diferentes empresas e pessoas de forma diversa, apenas porque a uns saiu a lotaria geográfica de calharem numa ALE e a outros a desgraça de serem proprietários de uma empresa que já existia antes das ALE, ou então que está localizada fora de uma das novas áreas abençoadas. Este tipo de discriminações é absolutamente insustentável e fere gravemente os princípios da livre concorrência e igualdade de oportunidades entre as empresas. É absolutamente perverso que o estado exija ser proprietário do nosso parque industrial para que as empresas que nele se instalem não sejam submetidas a um qualquer massacre burocrático. Aliás, uma proposta destas só tem um nome: chantagem. E, muito sinceramente, eu acho que em Estarreja não deveríamos pagar o resgate. É absolutamente inaceitável uma situação destas! O caso das ALE é aliás de uma desfaçatez única: em troca da sua adesão às ALE, o estado oferece a essas empresas um bem intangível que só depende de si (isto é, menos burocracias) e também algo de bastante tangível, que é a isenção de impostos municipais. Ou seja, os próprios benefícios que essas empresas recebem são pagos não a partir do orçamento do estado, mas do orçamento das autarquias! É preciso ter-se lata para se fazer uma oferta destas! Por tudo isto, e porque as outras empresas que já existem em Estarreja não merecem ser postas perante a concorrência desleal de eventuais habitantes de um microparaíso fiscal municipal, o argumento de que se tem que oferecer 51% do parque industrial à Parquesta para se poder fazer parte de uma ALE é, também ele, uma farsa, porque os benefícios que as ALE têm para oferecer serão inevitavelmente generalizados a todas empresas, para além de serem facilmente generalizáveis, bastando para isso apenas a vontade política para o fazer!
A CME diz que este modelo de parcerias está de acordo com o que é definido no Plano Estratégico para o desenvolvimento sustentado do concelho de Estarreja.
A primeira coisa que apetece dizer quando se lê este argumento é, naturalmente, “Quem é vivo sempre aparece”! O executivo camarário, que neste mandato sempre ignorou o plano estratégico, lembra-se agora deste quando precisa de encontrar motivos que justifiquem uma decisão tão pouco defensável como esta. Este regresso ao plano estratégico é obviamente um bom princípio. No entanto, o grande problema desta decisão não é a existência de uma parceria, nem sequer o facto de se deixar que a gestão operacional do eco-parque seja feita por uma entidade que não a CME. O grande problema que esta proposta encerra é o facto da CME deixar de ser proprietária do parque. E por muito que a CME nas suas informações à imprensa e aos deputados municipais tente apresentar a propriedade como algo indissociável da gestão do parque, a verdade é que seria perfeitamente possível e prático manter a propriedade da CME e ceder a gestão à API, SEMA ou AIDA, caso se entendesse serem estas as instituições mais capazes para o efeito.
A CME diz que escolhe esta opção porque não é conservadora.
Esta tentativa de fundamentação ideológica desta opção de gestão é provavelmente a mais insólita de todas, especialmente porque vem duma coligação constituída pelo PSD e pelo PP. Então o PSD não é o partido que passa a vida a arrasar a incapacidade de gestão das empresas públicas e que com base na incompetência de gestão do estado propõe-se sistematicamente a privatizar tudo e mais alguma coisa? Então os partidos que se assumem como lutadores pela liberalização dos mercados e das empresas são agora os mesmos que se propõem nacionalizar o Parque Eco-Empresarial de Estarreja?
Que falta de coerência é esta, em que partidos que em certos discursos parecem capazes de privatizar até a sua própria sombra surgem agora como fundamentalistas da propriedade estatal? Mas de facto o Dr. José Eduardo tem razão. Esta proposta de facto não é conservadora por dois motivos: porque a câmara não conserva a propriedade do seu parque e porque não há um único partido conservador que se reveja nesta serôdia tentativa de nacionalização do nosso parque. É que, caso o executivo camarário ainda não o tenha percebido, nós já não estamos em 1975! É completamente absurdo que a nossa Câmara Municipal esteja agora a escrever esta tardia versão estarrejense do Manifesto do Partido Comunista! O PCP que se cuide... com um PSD destes, quem precisa de comunistas?
Ou seja, não há nenhum motivo sólido para entregar 51% do nosso parque eco-empresarial à API, nem a outra empresa qualquer. Todos os argumentos apresentados pela CME são extremamente frágeis e facilmente rebatíveis. Esta é uma opção que se baseia única e exclusivamente nas convicções pessoais dos elementos actual executivo camarário. Tudo o resto são pretextos. E o facto da CME poder bloquear qualquer decisão da Parquesta, embora seja melhor que nada, continua a ser muito pouco: é que com este modelo de gestão, a API também pode bloquear qualquer decisão da CME, o que é especialmente grave. Por outro lado, se o problema era a capacidade de uma das partes poder bloquear a outra apenas com 25% dos votos, para quê dar os 51% à API? Existe maior garantia para os estarrejenses que a sua própria Câmara Municipal eleita democraticamente para mandatos pré-definidos? Apetece perguntar: de que é que a API tem medo?, já que a CME, ao tomar esta opção, parece ter medo de si própria!
Em relação ao negócio para o qual o executivo camarário vem hoje pedir autorização a esta Assembleia, há várias questões que importa esclarecer:
- Pelo que se pode perceber da análise da documentação recebida, a Parquesta será uma sociedade anónima cujo capital social inicialmente subscrito e realizado será de 50.000 €, prevendo-se o seu aumento até 500.000 €. O acordo parassocial que a CME se propõe assinar, para além de constituir um elencar apenas das obrigações da CME e de referir muito pouco sobre os contributos e comprometimentos dos outros sócios, como se a CME fosse a maior fonte potencial de problemas para o futuro parque, refere que a CME poderá realizar a sua parte do capital social em espécie, a um preço por m2 correspondente ao preço de custo a que adquiriu os terrenos do parque. Ora, esta cláusula é absolutamente inaceitável, por vários motivos:
o Porque parte dos terrenos foi cedida gratuitamente à CME, que desse modo não pagou nada por eles;
o Porque alguns dos terrenos foram adquiridos há alguns anos e o seu preço de custo está completamente desajustado da realidade;
o Porque existiram custos directos relacionados com os processos de aquisição dos terrenos;
o Porque o valor de mercado dos terrenos após a sua integração no parque eco-empresarial é bastante superior ao que cada um deles teria se fosse considerado isoladamente.
Ou seja, se esta cláusula não for alterada, a CME chegará à insólita situação de estar a pagar para poder oferecer o nosso parque industrial à API! É absolutamente ridículo que tenhamos chegado a este ponto. Se o executivo camarário levar por diante as suas intenções, pelo menos que seja a CME a fixar os preços dos terrenos que está a ceder à API, para que esta instituição invista na Parquesta um valor minimamente correspondente à riqueza que o município de Estarreja lhe está a ceder!
Por uma questão de transparência mínima neste processo, é absolutamente indispensável que a CME forneça a esta Assembleia uma lista de todos os terrenos que constituem o futuro parque eco-empresarial, bem como das condições em que estes foram adquiridos e do valor que lhes foi atribuído ao "entrarem" para a Parquesta.
Por outro lado, esta cláusula do acordo parassocial está em contradição directa com tudo o que a CME tem anunciado publicamente nos últimos tempos: afinal os terrenos não se manterão propriedade da CME, mas serão entregues à Parquesta como pagamento em espécie da quota da CME nesta sociedade! Ou seja, ou o acordo parassocial está mal redigido, ou o executivo camarário andou a passar informações falsas aos estarrejenses nas últimas semanas!!!
- Ainda em relação ao acordo parassocial proposto, não é lógico que o mesmo executivo camarário que tantas vezes se congratulou pelo facto da Quimiparque agora estar sob a orientação da API se proponha agora ceder antecipadamente e no escuro autorização para que uma das partes ceda a sua quota na Parquesta a qualquer outra entidade, desde que esta seja pública! Como tantas vezes aqui se disse, nem tudo o que é público nos interessa... Qual é a necessidade de existir esta cláusula?
- Para além disso, este acordo parassocial é de facto uma grande conquista da API, pois prevê que, no caso de outro dos sócios querem ceder as suas participações na Parquesta, o direito de opção sobre as acções será exercido por rateio na proporção do número de acções detido por cada interessado, o que equivale a dizer que se a SEMA ou a AIDA um dia decidirem abandonar a Parquesta, as suas acções irão preferencialmente para a API e não para a CME!!!
Ou seja, mesmo que este modelo de gestão fosse aceitável, não seria admissível que se utilizasse este leonino acordo parassocial como base, sob pena da CME ficar gravemente prejudicada nos seus legítimos interesses. Por outras palavras, as críticas que agora fiz ao acordo parassocial não estão relacionadas com a opção política em que este assenta, mas apenas com as suas lamentáveis especificidades próprias!
Na discussão desta proposta, é também importante que não nos esqueçamos de que estamos a falar do projecto de um eco-parque, que é muito mais que a simples soma aritmética de um conjunto de empresas não poluentes e com adequado controlo ambiental. Na documentação fornecida aos deputados municipais, muito pouco se diz em relação às características que tornarão o nosso parque eco-empresarial num verdadeiro eco-parque, com tudo o que isso implica. Será que a CME ou a API sabem verdadeiramente de que é que estão a falar?
Para concluir, recordo as palavras proferidas por um conhecido bispo português, que quando lhe pediram para falar de Pedro Santana Lopes, respondeu simplesmente que acreditava que "não há rapazes maus". Eu partilho desta opinião e estou sinceramente convencido que a intenção da CME neste processo é genuína e visa apenas o desenvolvimento do nosso concelho. No entanto, por todos os motivos que aqui já referi, penso que a CME não ponderou devidamente todas as implicações deste caso. Teria sido extremamente proveitoso debater esta ideia na Assembleia Municipal antes de a apresentar aos deputados municipais como facto consumado. De qualquer modo, não será desonra nenhuma para o nosso concelho parar e rever este processo neste momento, sob pena de todos um dia nos sentirmos responsabilizados por eventuais bloqueios à gestão do parque eco-empresarial provocados por entidades que não controlamos minimamente, como a API ou a própria Parquesta.
sexta-feira, setembro 24, 2004
Eleições no PS
Ao contrário do que possa parecer, o PS não vai ter este fim de semana um verdadeiro acto eleitoral, pois apenas um dos candidatos está verdadeiramente interessado em ser Secretário-Geral do partido. De facto, Manuel Alegre e João Soares apenas concorrem para marcar terreno, que é como quem diz, para fixar um valor que servirá de índice para a distribuição percentual de cargos, lugares de deputados e demais tachos que possam aparecer. Isto é, se Manuel Alegre tiver 20% dos votos, sentir-se-á com legitimidade para pedir 20% dos lugares nas listas de deputados e outras que tais.
Apesar de tudo o que eu já escrevi sobre ele neste blogue, penso que o PS não vai ficar mal servido com Sócrates, por vários motivos:
- Porque se trata de um político com um posicionamento ideológico que me parece correcto e que sem dúvida é o ideal para conquistar votos à direita e ao centro;
- Porque o discurso dos amanhãs que cantam já enjoa;
- Porque é um optimista, o que contrasta com o discurso quase sindicalista e permanentemente derrotista de Alegre e Soares;
- Porque neste debate tem conseguido manter alguma elevação nas discussões, resistindo a vários (e por vezes muito baixos...) ataques pessoais inqualificáveis;
- Porque é muito mais inteligente que Santana Lopes e movimenta-se no mesmo tipo de "política light" do actual primeiro-ministro. Como a história recente o prova, muito dificilmente um político carrancudo como João Soares ou intelectualmente emperrado como Manuel Alegre poderiam vencer o populismo de Santana e Portas em eleições.
José Sócrates tem também vários defeitos, os maiores dos quais são precisamente os motivos pelos quais todo o aparelho do partido o apoia. Será que Sócrates vai resistir ao partido quando este lhe vier cobrar o apoio? Duvido, embora reconheça que Sócrates pareça um líder bastante mais forte que Guterres (o que também não é muito difícil...)
De qualquer modo, se eu fosse do PS acho que votaria em Sócrates. Pela simples razão de que não gosto de actos de fachada.
quarta-feira, setembro 22, 2004
segunda-feira, setembro 20, 2004
Muito Mau
Já há dias tinha reparado nele. Ao chegar a Estarreja vindo do norte, na zona industrial do concelho, há um cartaz perfeitamente aberrante. Com um design absolutamente primário, a primeira impressão que se tem é a de um anúncio a uma daquelas promoções em que o papel higiénico do supermercado mais próximo vai ficar 5 cêntimos mais barato durante 3 dias. Mas infelizmente não é o caso. As cores contrastantes sobre o desagradável fundo branco fazem parte de um enorme anúncio colocado pela Câmara Municipal de Estarreja! Do lado esquerdo em cima, em posição oblíqua e a vermelho está escrito "EXEMPLO NACIONAL" (se fosse a tal publicidade imaginada inicialmente, neste local ler-se-ia "Só 3 dias!!!"). Ao centro do cartaz, o descalabro: "RESÍDUOS QUÍMICOS 50 ANOS DEPOIS FINALMENTE EM SOLUÇÃO"!!! Em letras mais discretas, quase que em rodapé deste infeliz disparate, há uma referência ao projecto ERASE e o símbolo da CME (felizmente só lá está a versão da autoria de José Eduardo de Matos e não o original... ). O cartaz, de tão grande, fere a vista a qualquer um dos muitos condutores que diariamente passam naquela zona. Ou seja, num concelho que a muito custo se tenta descolar da imagem negativa ligada à poluição, a CME teve a "brilhante" ideia de colocar um anúncio em que se propagandeiam "50 ANOS DE RESÍDUOS QUÍMICOS"!!! Assim mesmo, sugerindo a ideia de que este é um concelho onde nos últimos 50 anos as pessoas correram perigo, mas agora, com a chegada de Nosso Senhor Jesus Cristo, o Salvador, perdão, de José Eduardo de Matos, o problema está "FINALMENTE EM SOLUÇÃO"! O que quer dizer que o problema ainda persiste. E os Srs. condutores continuam sob ameaça dos tais "RESÍDUOS QUÍMICOS". Já agora, porque não acrescentar um conselho aos automobilistas tipo "Sr. Condutor, aproveite o facto de se encontrar perto da auto-estrada e da única ligação do nosso concelho ao futuro IC1 para se pisgar daqui o mais rapidamente possível, pois um problema "EM SOLUÇÃO" não é um problema resolvido e se bem que isto ainda aguentou "50 ANOS" e nós agora já tenhamos o Dr. José Eduardo, nada nos garante que o nosso Grande Timoneiro nos tenha já livrado completamente dos perigos". Não seria por falta de espaço no cartaz que esta frase não poderia constar! Mas olhemos com mais atenção para o disparate: "50 ANOS DEPOIS FINALMENTE EM SOLUÇÃO"... isto é uma frase? Como é possível que uma Câmara Municipal tenha a coragem de publicar e assinar algo tão primário? Pior que isto só se escrevessem "EM SOLUSSÃO"...! Afinal, o que é que se passa com as noções de Português e gramática nos textos produzidos pela CME? Depois de alguns documentos enviados à Assembleia Municipal cheios de erros ortográficos e das propostas de elevação de Estarreja a cidade e Salreu e Pardilhó a vilas terem seguido para a Assembleia da República pejadas de erros e pontapés na gramática, é agora a vez de se exibir ao mundo, via cartaz, que em Estarreja há quem não saiba escrever e não tenha a mínima vergonha e/ou consciência disso! Por outro lado, se pensarmos um pouco mais na mensagem transmitida pelo malfadado cartaz, temos que nos interrogar também sobre o "EXEMPLO NACIONAL". Mas exemplo de quê? Entre os concelhos com "50 ANOS DE RESÍDUOS QUÍMICOS" somos o único em que o problema se encontra "EM SOLUÇÃO"? Ou somos um "EXEMPLO NACIONAL" na qualidade dos cartazes que a Câmara afixa? E em relação ao projecto ERASE propriamente dito: depois da forma como o actual executivo camarário maltratou o autor do projecto (o Eng. Duarte Drummond Esmeraldo), chegando ao ponto de o excluir deliberadamente da cerimónia de lançamento do mesmo, como é que é possível a CME ter agora o descaramento de se armar em "EXEMPLO NACIONAL"? Para já não falar do facto desta versão do projecto ERASE ser muito mais limitada e menos ambiciosa que a promovida inicialmente pelo Eng. Esmeraldo, essa sim com a capacidade de resolver adequadamente alguns dos problemas de Estarreja. Se a CME em vez de perder tempo com cartazes destes se dedicasse a explicar aos estarrejenses os motivos que levaram à redução do projecto ERASE e ao estranho afastamento do Eng. Esmeraldo do processo, certamente que o nosso concelho teria muito mais a ganhar!
Para terminar, um apelo ao executivo camarário: por favor, retirem o cartaz o mais rapidamente possível. A medida do tempo que ele lá permanecer é a medida da desfaçatez de quem publicita obras de que não é autor e também a do desmazelo com que algumas coisas se fazem em Estarreja. Se as eleições começam a estar demasiado próximas para não se poder deixar de ter um anúncio publicitário naquele local, pelo menos troquem o actual por um sem erros gramaticais!
PS - Mais um agradecimento, desta vez ao José Carlos Sá. Obrigado! No hard feelings!
sexta-feira, setembro 17, 2004
Os níveis de radicalismo que se atingem na blogosfera são normalmente superiores aos que se praticam nas Assembleias Municipais, rádios e jornais, e isso pode causar alguns amargos de boca aos autores das bocas. O José Matos até já diz que tem muito cuidado com tudo o que escreve no Estarreja Light. Eu próprio também já vi publicadas em jornais locais citações de textos bastante mais loucos do que aqueles que escreveria se soubesse que eram para o jornal... Mas por mim tudo bem. Tal como já disse anteriormente, um blogue não se quer manso. E o que está escrito num blogue deve ser lido e encarado apenas como uma opinião descarnada e talvez até exagerada sobre um determinado assunto.
O outro aspecto interessante dos blogues é de facto o nível de pormenor com que se podem discutir assuntos políticos. Veja-se este caso do Parque Eco-Empresarial: eu próprio já tive que impor um travão aos meus textos, sob pena de chegar à Assembleia Municipal já com as cartas todas em cima da mesa, estragando qualquer eventual efeito surpresa. O próprio José Matos também já se viu forçado a expor vários dos argumentos que a CME tem nesta matéria. Ou seja, com mais dois ou três posts sobre esta matéria, corremos o risco de chegar à próxima AM com o debate já concluído, pois cada uma das partes já conhece perfeitamente os argumentos da outra! Muito sinceramente, eu acho este um facto bastante positivo. Até porque a forma como se processam os debates na AM nem sempre é muito favorável a discussões interessantes, mas apenas a monólogos alternados em que se debitam as cassetes do poder autárquico ou da oposição, sem que haja uma verdadeira troca de ideias.
Para terminar, 3 referências:
- Ao Jornal de Estarreja, por toda a simpatia demonstrada. Não me esqueço que foi uma notícia no JE que pela primeira vez fez disparar o número de visitantes deste blogue para níveis muito superiores aos até então existentes;
- Ao Fernando Mendonça, que veio em meu auxílio numa discussão em que eu já começava a parecer um daqueles doidos de barbas compridas e placa na mão a pregar contra algo que todos pareciam achar muito normal;
- Ao José Matos, pelo magnífico diabinho que escolheu para representar aquela que eu entendo ser a verdadeira face da API neste processo, não tanto pela instituição em si, mas sobretudo pela forma como conseguiu manipular o executivo da CME para fazer algo que aparentemente seria impensável. Aqui fica o boneco:
Já li a documentação enviada(pelo menos até hoje à tarde) aos deputados municipais para preparação da próxima AM. Deixarei a sua análise mais aprofundada para o debate em plenário e depois divulgarei neste blogue as intervenções que fizer a este propósito. No entanto, gostaria de deixar claro que o que li, que evidentemente me permitiu conhecer bastante melhor este processo, não me faz alterar em nada o que havia escrito em posts anteriores sobre esta matéria. Antes pelo contrário: fiquei bastante mais apreensivo.
Em relação a este texto do José Matos, duas notas:
- A proposta do anterior executivo era pública (ao contrário da actual, que só foi assumida há 3 ou 4 dias...) e foi discutida várias vezes em público. Veja-se as actas das AM de 2002 e 2003 e alguns dos posts antigos deste blogue;
- Eu não disse que a lei das ALE não existia - apenas disse que no link sugerido pelo José Matos não havia qualquer referência a essa imposição legal, que aliás me parece um perfeito disparate. No entanto, e mesmo tendo em conta esse quadro legal, era possível fazer bem melhor que o acordo parassocial da Parquesta. Mas esta é uma matéria que deixaremos para a AM!
quinta-feira, setembro 16, 2004
- O José Matos parte do princípio de que para a gestão do parque industrial a CME teria que escolher entre a API e o caos. Ora, isso não é verdade: bastaria olhar para a proposta do anterior executivo camarário para perceber que existia um projecto concreto em que o parque, embora continuasse a ser propriedade da CME, seria gerido por entidades com competências específicas nesta área;
- O princípio de que a gestão tem que ser propriedade do gestor é também discutível. Não faltam exemplos na nossa sociedade de empresas geridas pr entidades ou pessoas que não são as suas principais accionistas. Para além disso, porquê os 51%? Vamos admitir que a API era a solução ideal para gerir o parque - neste caso não seria possível uma solução em que, por exemplo, se trocassem as percentagens, ficando a CME com 51% e a API com 41%, embora com funções operacionais e executivas?
- Porquê afastar a CME da propriedade da sociedade gestora? Que mal poderia a CME fazer ao parque, para que tenha existido a intenção deliberada (51% não é um valor aleatório...) da API nunca poder ser beliscada na sua supremacia? De que é que a API tem medo?
- Os argumentos da construção faseada e da inclusão da zona da Quimiparque são perfeitamente aceitáveis, concorde-se ou não com eles. O que ainda não foi explicado foi a razão pela qual a CME optou por se auto-excluir da gestão do parque, dando simultaneamente tanto poder a uma só entidade;
- O argumento de que as minhas opiniões não são válidas porque eu não conheço os pormenores do negócio também não me parece correcto. O que eu escrevi teve por base informações fornecidas pela própria CME, nas quais estão claramente definidos alguns factos, como as percentagens de participação e o nome dos accionistas, que foram os únicos que eu contestei directamente. Ou seja, ou não é verdade o que está no site da CME, ou então não vejo porque razão é ilegítimo contestar estes factos. Os outros aspectos por mim focados nos textos apenas dizem respeito a pedidos de esclarecimento de pormenores que ainda não foram tornados públicos. Todos estes factos, juntamente com outros que não ainda referi, terão que ser explicados na Assembleia Municipal, pela simples razão de que quer esta instituição, quer os estarrejenses em geral, têm o direito de os conhecer. E a CME tem o dever de os divulgar!
- A questão do parque industrial de Estarreja é de facto um problema antigo. Recordo que a primeira medida do actual executivo camarário sobre esta matéria foi precisamente a de interromper o processo que estava a decorrer. Em 2002, José Eduardo de Matos começou por anunciar à Assembleia Municipal que o parque estaria pronto em 6 meses... O orçamento municipal para 2003 previa mesmo uma receita de 2 milhões de euros proveniente da venda de terrenos do parque eco-empresarial e dizia-se que antes do fim desse ano estariam já a instalar-se as primeiras empresas! Em 2004 as coisas estão como se sabe...
- Em relação à aquisição de terrenos: embora eu não seja um especialista em infra-estruturação de parques industriais, parece-me que a questão da compra dos terrenos é provavelmente a menos complicada de todas. Tendo dinheiro, é mais simples comprar um terreno do que utilizá-lo para construir uma casa...
- Para concluir: segui o link para a página das ALE. Aprovo e elogio tudo o que lá está. Concordo com o fim das burocracias disparatadas que emperram o país. Acho mesmo que o conjunto de medidas publicitado é altamente benéfico para o nosso concelho. No entanto, não vi qualquer referência à anunciada (pela CME) obrigatoriedade legal que faz com que as câmaras municipais tenham que abdicar da propriedade dos seus parques industriais a favor da API. Essa é outra questão que merece ser aprofundada, até porque não sei se o governo terá legitimidade para impor uma solução do tipo "ou me dás a gestão do parque, ou faço a vida negra às empresas que nele se queiram instalar"...
terça-feira, setembro 14, 2004
O Rodolfo Soares teve a amabilidade de deixar na secção de comentários deste blogue dois textos (este e este) em que considerava que os meus posts (este e este) sobre a constituição da Parquesta, SA eram produto de um julgamento superficial dos factos e também de alguma precipitação. Obviamente, sinto que devo clarificar algumas coisas:
- Tal como eu digo no primeiro dos textos, as opiniões que aqui escrevi foram baseadas apenas na notícia divulgada pelo site da Câmara Municipal de Estarreja e pelos órgãos de comunicação social locais. É óbvio que não conheço o acordo parassocial da Parquesta, mas apenas o que um dos seus signatários (a CME) diz publicamente sobre ele;
- Pelos motivos referidos na alínea anterior, esta discussão é apenas conceptual e ideológica. Não concordo com a ideia da CME não mandar no Parque Eco-Empresarial em que tanto se empenhou e não acho que este princípio deva ser violado por eventuais regras de funcionamento das ALE. Por muito boa que seja a API-Parques (eu até dei um exemplo em que implicitamente a comparei a um dos melhores pilotos de fórmula 1 de sempre...), isso não muda a minha opinião sobre o grau de confiança que se pode ter numa empresa pertencente ao sector empresarial do estado. A história recente mostra-nos que a propriedade deste tipo de empresas é algo de extremamente instável, que pode mudar em poucos meses ou anos... por vezes, basta que falte uma décima para cumprir os limites do défice e tudo muda da noite para o dia. É inconcebível sujeitar o desenvolvimento económico de um concelho a estes sortilégios!
- As dúvidas que aqui coloquei são apenas uma ínfima parte de tudo o que tem forçosamente que ser esclarecido pela CME. Espero sinceramente que na próxima Assembleia Municipal todos os aspectos deste estranho negócio sejam devidamente explicados.
PS - recebi esta tarde uma considerável pilha de documentos relativos à próxima sessão da Assembleia Municipal, que ainda nem sequer tive tempo de abrir. Só verifiquei a data em que se espera que tudo possa ser esclarecido: 27/9/2004. Entretanto, à medida que souber de mais coisas, darei notícias.
Fazer anos é bom, principalmente por dois motivos: porque se atingiu um objectivo (mais um ano de vida) e porque um aniversário é também um momento de encontro com amigos, que se sentem na obrigação de nos mimar com prendas, telefonemas ou elogios na secção de comentários, nos casos em que o aniversariante não é uma pessoa, mas apenas um blogue.
Foi muito bom receber os parabéns do mfc, do Fã Incondicional, do Kim, do Jorge Peliteiro, do Nuno Guerreiro, do Januário Cunha, da Nádia Bólica e do marinhao. Muito obrigado a todos. Para o ano quero mais!
segunda-feira, setembro 13, 2004
Ainda sobre esta matéria, é curioso verificar como todos os argumentos utilizados pela CME são facilmente rebatíveis:
- A entrega do Parque Eco-empresarial de Estarreja à API Parques com base no argumento de que só esta entidade é que possui o "know-how" necessário para o administrar é absolutamente ridícula. É como se fosse muito natural e compreensível que Michael Schumacher exigisse ser proprietário de 51% da Ferrari para aceitar conduzir os seus automóveis!
- A escolha da API Parques com base no argumento de que esta é uma entidade pública é talvez a mais insólita de todas: então o PSD não é o partido que passa a vida a dizer que o estado é um mau gestor e que deveria ter apenas funções reguladoras da economia?! E este não é o argumento sempre utilizado para privatizar tudo e mais alguma coisa? Ou será que a entrega do Parque à API é apenas a parte I do processo de privatização? Se o for, deixem que vos diga que a situação é ainda mais caricata: será que a melhor forma de privatizar algo que é nosso é começar por oferecê-lo a outra entidade?
- O argumento de que deste modo a Câmara continuará a ser proprietária do Parque não deixa de ser também curioso: segundo se pode perceber da notícia divulgada pelo site da CME, a gestão ficará por conta da API, sendo a CME proprietária dos terrenos, que se destinam a serem vendidos. Então e depois da venda dos terrenos? O que sobra? Um Parque em que não mandamos?
Quem quer um gestor, um motorista ou um mordomo, contrata-os. Não lhes oferece nem a empresa, nem o carro, nem a casa!
Se a CME utilizasse sempre este tipo de raciocínios, qualquer dia o cinema era propriedade de uma distribuidora de filmes, a piscina municipal pertencia a um clube desportivo, as máquinas da Câmara eram propriedade de uma empresa de construção, etc. E mesmo os Paços do Concelho haveriam de ser entregues a alguém que os soubesse "administrar de um modo profissional".
Para terminar: alguém confia no sector empresarial do estado? O IPE não foi recentemente desmantelado, sendo frequentes na comunicação social as referências à privatização de várias das suas antigas empresas? E se um dia alguém se lembrar de desmembrar e privatizar a API, o que é que nos acontece? Já alguém pensou nisto?
sábado, setembro 11, 2004
O Estarreja Efervescente comemora hoje um ano de vida, uma idade que alguns consideram como a da maioridade bloguística.
Por um lado, parece impossível que já se tenha passado um ano desde que decidi dar um destino a vários textos que tinha adormecidos no meu computador, depois de terem servido para intervenções na Assembleia Municipal e crónicas em jornais ou na rádio local. Por outro, é também notável o que se pode fazer em apenas um ano... Gosto de pensar que este blogue contribuiu, nem que seja apenas um bocadinho, para estimular o aparecimento de toda esta fertilidade bloguística "made in Estarreja" (veja-se a coluna de links...). Foi também possível neste período verificar a disponibilidade que existia em Estarreja para as pessoas darem a conhecer as suas opiniões sobre os mais varidos assuntos - a secção de comentários deste blogue foi palco de várias interessantes discussões, umas mais violentas que outras. Apareceram também vários comentadores de ocasião, todos prontos a debitar o seu bitaite: do marinhao ao Marinhão, do Andrade à Nádia Bólica, do Fã ao Maldita Imprensa, do Mancha Negra ao Kim, enfim... que me perdoem os esquecidos, mas este autêntico jardim zoológico de opinadores de todas as cores e feitios tem de facto muitos personagens, alguns dos quais parecem mudar de pelagem com alguma regularidade... Para todos eles, o meu muito obrigado por terem ajudado a construir esta efervescência, que era afinal o objectivo da criação deste blogue!
Entretanto, o Estarreja Efervescente ganhou vida própria e neste momento praticamente já manda no seu autor: de página de despejo de textos escritos com outro objectivo passou praticamente a diário sentimental, o que se reflecte não só na qualidade ortográfica dos posts, mas principalmente no radicalismo e na falta de fundamentação de algumas opiniões, escritas directamente da ponta dos dedos para a internet, sem qualquer controlo prévio ou momento de ponderação. Afinal, um blogue também não se quer manso...
Mas vamos a algumas estatísticas respeitantes a este primeiro ano de vida. Assim, o Estarreja Efervescente teve:
- 182 textos diferentes;
- 10111 visitas, contadas pelo sitemeter a partir do dia 16/9/2003. Claro que para este número também contam as visitas do próprio autor (que não serão assim tão poucas...) e também as dos internautas que aqui vêm parar por engano... de qualquer modo 10111 parece-me um valor bastante aceitável para um blogue com características locais;
- 28 visitas diárias em média;
- Uma duração média de 2 minutos e 6 segundos para cada visita;
- 18871 pageviews;
- ... que correspondem a 1,6 pageviews por visita, o que significa que provavelmente algumas pessoas até lêem o que aqui se escreve!
- 45 pageviews diárias em média.
Mais uma vez agradeço a todos os que continuam a visitar este blogue. Espero ter pujança artística e disponibilidade de tempo para manter um ritmo de publicação pelo menos semelhante ao verificado até aqui...
Um abraço a todos!
sexta-feira, setembro 10, 2004
Acabei de saber pelo site da Rádio Voz da Ria a constituição da entidade gestora do futuro parque eco-empresarial de Estarreja. Tal como há muito se previa, confirmaram-se as piores expectativas: a Câmara Municipal de Estarreja não teve força suficiente para se impor na Parquesta e apenas é proprietária de 41%, enquanto uma entidade como a obscura API-Parques (alguém os conhece em Estarreja?) será detentora de 51% do nosso futuro parque eco-empresarial.
O site da CME também divulga a notícia, de uma forma particularmente infeliz:
- Não se percebe qual foi a contribuição de cada um dos accionistas da Parquesta para a sociedade;
- Não se percebe porque é que o parque eco-empresarial não é da CME;
- Não se percebe porque é que há uma entidade não só com mais acções que a própria CME, mas com mais de 50% de acções!!!
- Não se percebe (ou não se quer dar a perceber...) quem é que de facto vai mandar no parque;
- Nada se diz sobre a forma como a CME pensa acompanhar este processo, nem se foi salvaguardada a hipótese das coisas correrem mal e as comadres (API e CME) se desentenderem...
- Não se percebe quais serão os papéis da Universidade de Aveiro, SEMA e AIDA no futuro parque;
- Não se percebem os motivos pelos quais este parque é apresentado como inovador no país;
- Não se percebe porque é que a CME abandonou o projecto do Parque Eco-Industrial que herdou do executivo anterior, nem quais as razões para a actual redução de objectivos...
Enfim, as dúvidas são imensas e deixarei para a ocasião própria a minha intervenção devidamente estruturada sobre esta matéria, até porque não conheço os contornos do negócio.
Para já, e salvaguardando o facto de sobre isto saber apenas aquilo que a CME anuncia aos munícipes, é possível perceber algumas coisas:
- Os motivos de tanto secretismo em torno da constituição da Parquesta, bem como o facto do Dr. José Eduardo, apesar de interrogado directamente talvez mais de uma dezena de vezes sobre esta matéria, nunca ter respondido à questão sobre se o parque iria ou não ser propriedade da Câmara...
- A CME deu à API Parques um "cheque em branco". Porquê? Para quê? Será que é legítimo que um executivo camarário tome sozinho uma medida tão grave e com tantas implicações como esta?
- O projecto do Parque Eco-Industrial ultra-moderno que a CME herdou do anterior executivo camarário foi definitivamente abandonado, sem quaisquer explicações;
- Estamos tramados com esta solução!!! Esperemos que haja uma forma barata de um dia fazer a API Parques devolver o Parque a Estarreja...
quinta-feira, setembro 09, 2004
Um não foi eleito por mais que 105 pessoas. O outro teve menos votos que o seu adversário. Ou seja, nenhum dos dois tem legitimidade eleitoral para exercer o seu cargo.
Um passou férias em 42% dos seus primeiros 8 meses de trabalho. O outro ainda não tem 3 meses de cargo e já foi pelo menos 3 vezes de férias…
Um faz afirmações ao seu povo que mais tarde se prova serem mentiras. O outro faz promessas que nunca chegam a ser verdade.
Um é manipulado pelos amigos. O outro gosta de manipular as amigas...
Nunca ninguém acreditou que qualquer um dos dois pudesse um dia ocupar o cargo que cada um deles actualmente exerce. Aliás, o próprio facto de nenhum deles ter sido eleito é bem ilustrativo disso mesmo.
Já alguém percebeu quem são os dois líderes mundiais de que eu estou a falar?
segunda-feira, setembro 06, 2004
Até agora, o grupo de 6 holandeses que veio a Portugal fazer a sua propaganda pró-aborto teve um êxito retumbante, provavelmente irrepetível em qualquer outro país civilizado. A cereja em cima do bolo seria o barco atracar mesmo num porto português, independentemente de conseguir ou não angariar alguma utente, até porque neste momento, tal como desde o início, isso é um pormenor perfeitamente irrelevante. Mas façamos a contabilidade dos estragos:
- O governo está há mais de uma semana a arder em fogo lento, enfrentado críticas de todos os lados, inclusive dos seus próprios apoiantes;
- O país ficou a conhecer a inenarrável figura do secretário de estado de Paulo Portas, Nuno Fernandes Thomaz, que para além de mal saber falar português, elevou para níveis impensáveis o grau de desfaçatez que um membro do governo pode atingir;
- Paulo Portas mostrou ao país aquilo que muitos já haviam percebido há algum tempo: agora que se livrou de Durão, pode governar o país à vontade, com os métodos do costume;
- Santana Lopes revelou outra faceta que também já quase todos conheciam: quando há chatices ele desaparece. Quando as coisas se começam a tornar insustentáveis, há que vir a público esclarecer que ele até nem se importaria de mudar a lei, mas Portas não deixa... Com isto, todos percebemos duas coisas: que o primeiro-ministro não tem qualquer tipo de autoridade sobre o seu governo e que a actual lei do aborto é reconhecidamente errada e não tem o apoio do principal partido do governo, mas apenas existe porque Portas o exige. E ele é que manda;
- O Presidente da República, esquecido por todos, vários dias depois do início da crise teve que recordar que ainda era o comandante supremo das forças armadas e por isso queria explicações. O que fez Sampaio em relação às explicações e ao sucedido? Ninguém sabe. Mas se recordarmos os tempos em que a sua influência levava Guterres a despedir ministros envolvidos em escândalos ou disparates grosseiros, então estamos perante uma dualidade de critérios bastante insólita. A utilização das forças armadas para fins pessoais não é um abuso inadmissível? Porque raio é que Sampaio dá a Santana e a Portas um grau de tolerância de que mais ninguém alguma vez beneficiou na história da nossa democracia?
- O parlamento holandês e o parlamento europeu garantiram a “internacionalização” dos disparates de Portas. Agora já toda a gente sabe que este homem é português...!
- Francisco Louçã assumiu definitivamente o cargo de líder da oposição. Carvalhas estava a organizar a festa do Avante e o PS andava entretido a discutir quem era mais socialista, pelo que o BE ficou (ainda mais) sozinho nesta causa. Contudo, não deixa de ser curioso o facto do governo não ter sequer precisado da oposição para se atolar desta maneira...!
E tudo isto graças a 6 holandeses num barquito pequeno, que quase nem sequer precisaram de se aproximar da nossa costa...
Enquanto se aguardam as cenas dos próprios capítulos, aqui fica mais uma curiosidade: o estarrejense Pedro Vaz apareceu ontem na SIC a ajudar as holandesas a sairem do barco, algo que muita gente gostaria de poder fazer. Para ele, um abraço. E já agora, outra nota: a JS esteve bastante bem nesta questão. E eu nem sequer gosto de juventudes partidárias...